sábado, 21 de setembro de 2013

Restaurante de passeio



O medo é a maior alienação da pós-modernidade (Foto: Reprodução)
Farmácia no centro de Belo Horizonte. Sábado. Um homem suspeito – seja lá o que for suspeito nos parâmetros da sociedade – entra no local e os vendedores, já graduados em identificar ‘suspeitos’, ligam o alarme, contatam a chamada de emergência, deixam os clientes assustados, de modo que todos vão se afastando silenciosamente para a saída quando, de repente, acontece o provável: o homem suspeito tira do bolso uma... receita. Ele só queria comprar um remédio. 

Um sábio professor disse em uma das suas brilhantes aulas que “o medo é a maior alienação da pós-modernidade, pois o produto que se vende com ele é extremamente rentável: a segurança”. Com isso, vivemos nos cercando de coisas que não necessariamente nos protegem fisicamente, mas suprem nossa vida neurótica. Não que o mundo não esteja violento, não é isso. Mas boa parte dessa raiva mundial surge do próprio sistema, no que o sociólogo Pierre Bourdieu chama de ‘violência simbólica’. 

Tudo é muito drástico no capitalismo – e já antecipo que não é nenhum discurso hipócrita pseudo-socialista. É só a verdade sobre o sistema econômico que escolhemos e amamos, e que mais condiz com a natureza humana. Vivemos em uma sociedade em que entrar de chinelo num shopping significa que você vai furtar alguma loja. Já presenciei tal situação diversas vezes: seguranças que ‘ficam de olho’ no suspeito que cruza a porta de vidro do shopping, que mais parece o limite entre o lixo e o paraíso. 

O mais intrigante do capitalismo é que ele nos faz pensar que estamos acima da pessoa que mora em um bairro mais pobre. O capitalismo nos enche de ilusões e nos faz julgar pessoas que estão na mesma realidade. Todos nós somos vítimas de algo. O pai de família é vítima dos desejos dos filhos, enquanto a mãe é vítima da culpa por não poder fornecer tudo o que eles desejam. O segurança do shopping é vítima da sua própria segurança enquanto trabalhador. O estudante é vítima da pressão de ser o melhor para conseguir manter o ciclo de consumo. A sociedade é vítima do Estado, que manipula o povo como bem quer. E o Estado é vítima da sua própria plantação, que cresce dando frutos ruins. E os frutos ruins não conseguem clamar por bons frutos, pois todos estão comprometidos com algo que não permite um equilíbrio e uma harmonia social.

Com esse ciclo vicioso cada vez mais crianças crescerão à margem de um mundo que não lhes pertence, mas que na verdade, não pertence a ninguém. Um mundo de pessoas que só passarão em frente às vitrines, um mundo de pessoas que raramente – ou nunca – poderão sentar-se num destes restaurantes que colocam mesas em passeios para mostrar o quão felizes são os indivíduos que fazem happy hour depois do trabalho escravo, um mundo onde pessoas terão que conviver com doenças pois não podem pagar um médico, um mundo de pessoas que buscam os caminhos mais errados para tentar chegar à algum lugar, pois até pra ser digno, pelo menos no Brasil, é burocrático.

Brígida Rodrigues Coelho é graduanda em Direito pela Escola Superior Dom Helder Camâra. Começou a escrever com 15 anos no jornal filosófico Conhece-te a ti mesmo e, atualmente, tem uma coluna no jornal o Baruc, de Congonhas e região. Vencedora de muitos concursos literários nacionais e internacionais gosta de focar em assuntos críticos os quais possa relacionar à filosofia. 

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