Desvalorização da carreira e falta de projeto educacional ameaça futuras gerações, diz professor.
Professor em sala de aula: carreira em baixa.
Por Alexandre Vaz
Repórter Dom Total
Na semana em que se celebra o Dia do Professor, o Brasil tem muito pouco a comemorar quando o assunto é educação como ferramenta para a construção de uma sociedade melhor. Além de um sistema educacional defasado, que não prepara os jovens para os desafios do futuro, especialistas concordam que a falta de investimentos e a desvalorização da carreira de professor podem acarretar uma fuga de profissionais da área e, consequentemente, um perigoso “apagão” de professores e mestres.
Segundo o professor de Filosofia e Filosofia do Direito da graduação e do mestrado da Escola Superior Dom Helder Câmara, Émilien Vilas Boas, o Brasil vem sofrendo as consequências de décadas de descaso, fruto, segundo ele, do “carreirismo” da classe política brasileira e da falta de visão de longo prazo. “Cada governo que toma posse vem com ideias mirabolantes que não resolvem nossas questões. Educação nunca foi algo enfrentado efetivamente pelos governantes”, afirma.
Apesar de pesquisas apontarem que o País aumentou o volume de recursos em educação, Émilien Vilas Boas afirma que isso não é o suficiente para garantir formação de jovens de qualidade. Como exemplo, ele cita a atual política do governo federal de incentivar o ingresso de alunos no ensino superior, sem contudo dar a mesma ênfase aos ciclos fundamental e médio.
“E o educador nesta história? Muitas vezes precisa lidar com alunos sem nenhum preparo, tendo que suprir esta defasagem e tomar para si um papel que muitas vezes não lhe cabe”, ressalta.
Como exemplo do descaso, o professor lembra que o Brasil nunca recebeu, por exemplo, o Prêmio Nobel em nenhuma área científica. “É claro que o País não tem obrigação de profissionais agraciados com o prêmio, mas tal situação apenas ilustra a precariedade que há na educação e na pesquisa brasileira. Há algum tempo vende-se uma imagem de que o país está no caminho certo quanto à educação. Mentira. O ensino é fraco e a pesquisa pior”, destaca.
Desvalorização do professor
O professor destaca a crescente desvalorização da carreira de professor como um dos principais problemas a ser enfrentado pela sociedade brasileira nos próximos anos. “O professor perdeu sua autoridade na sociedade. O sistema confundiu autoridade com autoritarismo, colocando tudo no mesmo patamar. Além disso, a baixa remuneração tem levado a uma fuga das melhores cabeças em prol de outras formações”.
Para Émilien Vilas Boas, o Brasil precisa encarar a educação como prioridade, começando por uma formação de excelência dos professores, passando por uma reformulação dos currículos escolares que enfatize uma visão crítica do mundo.
“No ensino superior, nas áreas humanas, deve-se abandonar algumas ideologias predominantes, para que haja efetiva reflexão. Nas áreas tecnológicas é necessário maiores investimentos, já que ciência de ponta depende de tal ação”.
Pnud
Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), um em cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental no Brasil abandona a escola antes de completar a última série. Com a taxa de 24,3%, o País tem a terceira maior taxa de abandono escolar entre os 100 países com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),
Em seu estudo, a ONU aconselha o Poder Público brasileiro a adotar "políticas educacionais ambiciosas" para mudar a situação, em função dos riscos decorrentes do envelhecimento da população brasileira nas próximas décadas, o que deve intensificar a redução do percentual de trabalhadores ativos.
Redação Dom Total
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