O argumento do filme prima pela simplicidade (Foto: Divulgação) |
Por Jorge Fernando dos Santos
O novo cinema brasileiro se divide basicamente em duas vertentes: as comédias influenciadas pelo padrão Globo e os dramas que retratam aspectos brutais da realidade nacional. Vez ou outra surge uma produção que foge a esses dois modelos. É o caso de “Vazio Coração”, longa-metragem de estreia do diretor e roteirista Alberto Araújo. O filme entra em cartaz nesta sexta-feira, dia 22, prometendo emocionar as plateias.
Além de cineasta, Alberto Araújo tem formação jornalística, sendo poeta e fotógrafo cujo talento já foi registrado em livros e exposições. Sua estreia na sétima arte levou 23 anos para se consolidar e o resultado merece ser visto por aqueles que gostam de uma boa história, corretamente narrada.
O argumento do filme prima pela simplicidade. Um jovem cantor de sucesso tenta se reconciliar com o pai, que o responsabiliza pela morte da mãe. Embora com final previsível e sem grandes surpresas, o roteiro foi bem elaborado, contendo diálogos precisos e subtexto verossímel. Família, conflito de gerações, amor, culpa e perdão são os principais ingredientes da trama.
O elenco é de primeira, a começar pelo global Murilo Rosa no impagável papel de Hugo Kari. Além da convincente atuação dramática, o ator revela sua verve de cantor pop de timbre afinado e agradável aos ouvidos. O CD com a trilha original do filme, cujas letras são do próprio Alberto Araújo, chega ao mercado pelo selo Som Livre.
Contraponto poético
O experiente Othon Bastos, que conquistou a crítica desde suas primeiras atuações em clássicos como “O Pagador de Promessas” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, quase rouba a cena no papel do embaixador Mário Menezes. Sua atuação contida é uma verdadeira aula de interpretação e deveria ser exibida em cursos e oficinas de atores.
O personagem, que é também um poeta avesso à canção popular, não apóia o sucesso do filho. O conflito surge desse contraponto entre duas maneiras do fazer poético: a visão do poeta canônico nos moldes de João Cabral de Melo Neto – autor idolatrado por Menezes – e a do poeta popular, cujo melhor exemplo poderia ser Vinicius de Moraes.
Bete Mendes e Lima Duarte interpretam os avós maternos de Hugo. Como já era de se esperar, ambos dão um show de interpretação, que resulta da prática e do profissionalismo alicerçado ao longo de décadas. Oscar Magrini, Larissa Maciel e a bela Patrícia Naves completam o cast, que foi muito bem dirigido.
A fotografia e o som são detalhes à parte que ajudam a qualificar o filme como merecedor de algumas estrelas. As locações bem exploradas pela câmera ficam nas cidades de Brasília, Patrocínio e Araxá. Saltam aos olhos as imagens do belíssimo Grande Hotel, do Museu de Dona Beija e o plano geral no Topo do Mundo, de onde é possível deslumbrar o metafórico mar das montanhas de Minas.
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