segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Calvície, o maior trauma estético do homem

Aquela história de que "é dos carecas que elas gostam mais" está comprovada: foi escrita por um calvo.



Novas tecnologias devolvem os cabelos aos calvos. (Foto: Arquivo)
Por Carlos Eduardo Leão*

Há fortes indícios de que a coroa de louros usada pelo grande imperador Julio Cesar não apenas simbolizava suas vitórias e conquistas mas servia também para camuflar a calvície que o arrasava impiedosamente. Cléopatra, seu grande amor, igualmente arrasada com a infelicidade do parceiro diante daquele problema estético que persegue os homens até hoje, preparava poções medicamentosas à base de urina de Naja, a mais elegante das serpentes, misturada às plantas medicinais da época, confeccionando um verdadeiro bálsamo que espalhava nas áreas calvas do amado, na vã esperança de restituir-lhe os fios perdidos pela genética inexorável.

Pelo exposto, comprova-se ser a calvície o maior trauma estético do Homem em todos os tempos, remontando à antiguidade antes de Cristo que, por sua vez e pelos relatos, não padecia do mesmo "mal". Assim sendo, aquela história de que "é dos carecas que elas gostam mais" está mais do que comprovada: foi escrita por um calvo.

A calvície é um problema hereditário e a solução definitiva está no transplante de cabelo. É muito importante o diagnóstico correto pois existe um número significativo de doenças que cursam com queda de cabelo e não obrigatoriamente constituem-se em calvície. Na reversão do problema os cabelos voltam a nascer. A mesma coisa acontece com a utilização de certos medicamentos que podem levar à perda temporária de alguns fios.

O importante para os calvos é que a medicina é uma ciência dinâmica, portanto de verdades transitórias dada à sua extraordinária evolução. E não é diferente na ciência cirúrgica que trata a calvície. Talvez tenha sido, das cirurgias plásticas, a que mais evoluiu nos últimos 15 anos. Os resultados obtidos pelas técnicas atuais são impressionantes. Chegam a ser emocionantes, diria, de tão próximos da normalidade que são. Faz-se mister, porém, principalmente para os calvos que me leem, saber separar o joio do trigo. Nem tudo que se apregoa na mídia tem compromisso com a verdade, principalmente naquela sensacionalista que busca, a qualquer preço, o lucro fácil, desmedido e irresponsável.

Um novo robô está sendo usado nos Estados Unidos e em alguns países europeus como o pretensioso substituto das mãos humanas na cirurgia plástica da calvície. É muito comum ver a sua propaganda em revistas de bordo nas principais companhias de aviação do mundo.Trata-se de um aparelho que custa a bagatela de um milhão e quinhentos mil reais e, se não bastasse o módico investimento, cada perfuração que cria na área doadora para retirada do cabelo fica registrada num software, no próprio aparelho, a um custo de um dólar por orifício.

Este custo deverá, para sempre, ser repassado ao fabricante que, a cada mês, visita o proprietário para a feliz contagem das perfurações mensais executadas. Isso, por si só, já inviabiliza o procedimento, que passaria a custar, pelo menos, três a quatro vezes mais. Sem falar, claro, que se trata de uma máquina programada para fazer determinados orifícios numa determinada angulação na área preparada para a doação de cabelos.

Caso, durante o procedimento, numa determinada área, haja variação na angulação dos fios de cabelo em relação a pele do couro cabeludo, a máquina não reconhece a alteração anatômica e se mantém dentro do programado anteriormente, levando a uma perda significativa dos enxertos viáveis, numa ordem de aproximadamente 35% a 40%. Perda dos enxertos mas não dos dólares. É cobrado cada orifício. Se os enxertos são viáveis ou não, problema do médico, sintetizado na clássica expressão: "O problema é seu. Eu quero o meu".

Uma nova técnica denominada F.U.E - Folicular Unit Extraction (Extração de Unidades Foliculares) - ou seja, extração de pequenos enxertos de cabelo, que na realidade é uma evolução high-tec de um procedimento publicado nos idos de 1948, apresenta-se, hoje em dia, como uma boa alternativa para casos muito bem selecionados, tais como correção de pequenas áreas calvas, pequenas cicatrizes no couro cabeludo, em associação às técnicas atuais para obtenção de maior número de folículos para tratar grandes áreas de calvície e, principalmente, naqueles pacientes com áreas doadoras esgotadas pelas técnicas atuais. 

Raspar a cabeça, que na nossa cultura não é bem aceito, se faz necessário para essa nova técnica que se utiliza de uma pequena máquina, dirigida pelas mãos humanas, que retira tufos de aproximadamente um milímetro de diâmetro contendo raízes de cabelo a serem transplantadas. Não é técnica de eleição para as calvícies médias e grandes embora esteja sendo anunciada, de maneira sensacionalista, como nova e revolucionária técnica para a cirurgia da calvície, sem cortes e sem cicatrizes.

Em que pese não haver cortes, há centenas de perfurações que, quando cicatrizadas, deixarão, como marcas definitivas, centenas de pontos esbranquiçados no couro cabeludo ao invés da cicatriz linear única deixada pelas técnicas atuais, hoje cada vez mais finas, e com possibilidade de crescimento de fios de cabelo através da própria cicatriz.

O importante é que a calvície tem tratamento. As incipientes são postergadas pelos mais diversos medicamentos e laser de baixa penetração. As mais avançadas, por técnicas cirúrgicas cada vez mais elaboradas. Isso posto, tenho a nítida impressão que, se fosse vivo, Shakespeare não ousaria escrever "Quem é calvo por natureza em tempo nenhum recupera o cabelo", e a sua genial  "A Comédia dos Erros" teria, certamente, uma outra conotação.

PS: Quanto à cirurgia sem cicatriz, só conheço as espirituais. Assim mesmo de ouvir falar.
*Carlos Eduardo Leão é médico e cronista.

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