quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Ensino de Educação Geral - Johan Konings*



Muitos elementos de educação e cultura geral não estão sendo ensinadas aos alunos do Ensino Fundamental, pelo menos não na maioria das escolas, sobretudo, do Ensino Público. 


Cito: ecologia do cotidiano (lixo seletivo, evitar detergentes ao lavar a louça, economizar água de descarga, não limpar a calçada a jato d’água, perigos da poluição do ar), saúde e higiene básicos (exercícios físicos e mentais, evitar antibióticos e medicação industrial em geral, sobretudo a automedicação, cuidar dos dentes, evitar doces e refrigerantes, higiene íntima, higiene e proteção da pele), dietética (conhecimento dos componentes básicos da alimentação sadia, qualidades e perigos dos alimentos). Economia caseira. A complexa interação dos fatores psicoafetivos e da vida sexual, a construção de relações humanas (na vida social, no mundo profissional, no campo afetivo). A comunicação humana, pessoal e pseudo-pessoal (para a geração antenada...)



Também: a diversão, coisa de se levar bem a sério num mundo em que o trabalho profissional ocupa sempre menos tempo. Aprender a usar as oportunidades oferecidas por instâncias públicas ou privadas. Como olhar a tv sem se perder no zapping. Parques e museus da cidade. Dança com arte. As noções fundamentais de nossas tradições culturais (as culturas das etnias, as formas tradicionais e modernas da música brasileira e mundial).



Elementos de urbanização e arquitetura, problemas de áreas de risco, compreensão do trânsito e da mobilidade urbana, bem como conhecimento das regras e educação para a urbanidade. Ou ainda, conhecimento do sistema político e educação para a cidadania, observação do próprio ambiente social (inclusive do sistema dos traficantes, dos gangues e de outras patologias sociais). Alguma noção dos partidos e de suas ideologias, se é que têm. Economia nacional e local. Os problemas sociais, valor e formas da solidariedade cidadã.



E em meio a tudo, eu mencionaria também a dimensão religiosa e a busca de uma visão do mundo (mesmo “materialista”, se se entende bem o que isso significa). O sentido do transcendente e das expressões religiosas, conhecimento das atitudes e tradições religiosas vigentes no país (e alhures), a presença da religião na vida da sociedade, visão crítica dos abusos (alienação e exploração religiosa), com incentivo (expresso e verificado) de cada um conhecer a sua própria tradição, participando das atividades por ela organizadas (celebração na igreja ou comunidade, catequese, terreiro, pajelança etc.). Creio que com isso se corresponderia melhor à exigência do Ensino Religioso do que na maneira em que hoje, muitas vezes, está sendo ministrado.  



Eu sei que os diretores de escola e os secretários de Educação vão me responder: tudo isso está previsto, quer nas matérias históricas e científicas (todos conhecemos o fenômeno do professor de física falando sobre Deus e a criação, ou do professor de biologia explicando a vida sexual...), ou então, na dimensão “transversal” (aquele cachorro que morre de fome porque todos são considerados donos dele...). Eu respondo: mostrem-me uma escola onde tudo isso está sendo ensinado!

*Johan Konings nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colegio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Foi professor de exegese bíblica na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (1972-82) e na do Rio de Janeiro (1984). Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE - Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, onde recebeu o título de Professor Emérito em 2011. Participou da fundação da Escola Superior Dom Helder Câmara. 

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