Quem se dá bem em Belo Horizonte, nos negócios e no trânsito, se dá bem em qualquer lugar no mundo.
Por Alexandre Kawakami*
No Japão, diz-se que se percebe muito do caráter de uma pessoa jogando golfe com ela. Na minha opinião, vê-se muito do caráter do belorizontino no trânsito.
Toda a generalização é burra e a que vou propor agora é uma toupeira. Mesmo assim, no ambiente de negócios de São Paulo, ou mesmo no Rio de Janeiro, na minha experiência (curtíssima, diga-se de passagem), o belorizontino negocia como dirige.
É comum, no tráfego da capital mineira, encontrar quem ande no meio da rua, tomando a faixa da esquerda e da direita ao mesmo tempo. Dá a impressão de que esse tipo de motorista quer guardar para si a faculdade de virar para quaisquer dos lados, ainda que atrapalhe todo o trânsito atrás dele. O paulista e o carioca já são mais rígidos nas faixas em que ficam, quer por natureza, quer pela educação dada pelos motoqueiros.
Da mesma forma, o mineiro, quando vai negociar, não diz nem se quer, nem se não quer. Deixa todas as possibilidades em aberto. Estrangeiro que aqui negocia não sabe como reporta. "Parece que a reunião foi boa ..." Mas não se sabe afirmar.
O belorizontino também não gosta de deixar passar. Basta ver um pisca-alerta sinalizando alguém entrando em sua frente para fazer com que pise no acelerador. É como se a ultrapassagem o agredisse como pessoa, como se estivesse se submetendo a ofensa tremenda.
Esse traço se vê no famoso adágio que diz que para o mineiro, não importa o quanto ele vai ganhar no negócio, mas o quanto sua contraparte vai ganhar. Se for mais do que ele, então é melhor não fazer, ainda que seu lucro seja substantivo.
O belorizontino gosta de uma faixa vazia, ainda que esteja no extremo oposto de onde ele vai entrar. Ele fecha a rua e quase bate no que estava na fila antes dele, mas vira à esquerda ou à direita e entra, como se pedindo desculpas por ter errado de faixa lá atrás...
Em negócio também, o mineiro pede mundos e fundos... mas depois, quando uma decisão é necessária, o mineiro pede desculpas, mata o tio do segundo grau, arruma uma doença de que nunca se ouviu. Mas o que ele está falando na verdade é: “Aqui procê, ó!”
Na verdade, o mineiro é tão claro quanto qualquer outro cidadão brasileiro ou estrangeiro. Ele só fala uma língua diferente. Para quem entende, é uma narrativa cristalina. Quem não entende acha que a reunião foi boa, mas não sabe... No trânsito e nos negócios, o belorizotino pode não ser direto, mas é meio que previsível.
Quem se dá bem em Belo Horizonte se dá bem em qualquer lugar no mundo, não só porque é difícil de se adaptar, mas porque requer muito sangue frio, paciência e um temperamento comedido.
Nos negócios e no trânsito.
*Alexandre Kawakami é Mestre em Direito Econômico Internacional pela Universidade Nacional de Chiba, Japão. Agraciado com o Prêmio Friedrich Hayek de Ensaios da Mont Pelerin Society, em Tóquio, por pesquisa no tema Escolhas Públicas e Livre Comércio. É advogado e consultor em Finanças Corporativas.
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