quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O voluntariado e a economia solidária



Em lugar do individualismo, solicita-se a prática do coletivismo (Foto: Reuters)
Marcus Eduardo de Oliveira

Um bom jeito de fazer a economia trilhar os caminhos que levam à uma maior atenção aos problemas sociais se dá por ações que portam premissas sociais, da qual duas delas merecem destaque: a prática do voluntariado e a economia solidária.
Em especial sobre o voluntariado, o economista argentino Bernardo Kliksberg tece importantes comentários destacando que a visão tradicional de certos economistas é equivocada sobre o voluntariado, pois esses não entendem “o impacto que pode ter um setor que se movimenta totalmente fora do mercado e cujas unidades de produção não raciocinam com base na busca da maximização de lucros”.
Kliksberg destaca um estudo elaborado pela universidade norte-americana John Hopkins que coletou informações do trabalho voluntariado em 35 países, da Austrália a Israel, da Argentina a Marrocos, do Paquistão a Uganda, da República Tcheca a Romênia, apontando que nesses países, o peso das atividades das ONGS na economia no período de 1995 a 1998 esteve apoiado sobre uma força voluntária de 190 milhões de pessoas, compondo 20% da população adulta dos países analisados (35 ao todo), gerando, anualmente, 5% do PIB total.
O estudo referenciado por Kliksberg concluiu que somando tudo que essas ONGs de 35 países produzem, elas seriam a sétima economia do mundo. Fato concreto é que são vários os exemplos de como a atitude voluntária pode salvar vidas.
A UNICEF (The United Nation Children´s Fund) estimou que em 2000, 10 milhões de voluntários vacinaram 550 milhões de crianças no mundo. Quando Betinho conclamou ampla campanha pelo combate a fome no Brasil, a repercussão do ato voluntário fez, naquele momento, com que 67 milhões de pessoas aderissem a essa nobre causa.
A prática do voluntariado envolve um sentido mais nobre: é o doar-se em forma de trabalho e o oferecer algo a alguém. Num excelente artigo intitulado “Dez lições para uma nova economia” (*), o consultor de empresas Paulo Viera de Castro diz que “aceitar a dádiva como forma de participar na construção de um mundo onde todos tenham lugar é um sentimento que está em qualquer de nós, independemente do credo que escolhemos”.
Tal fato perpassa por quase todas as manifestações religiosas. Assim, “os judeus defendem a caridade como uma forma maior de responsabilidade para com o outro. Os católicos pregam que o usufruto dos bens deve ser coletivo. Os islâmicos, através da zakah, entregam 2,5% do lucro aos mais pobres e para os mulçumanos somente a caridade purifica o lucro obtido”, nos diz Castro.
A Teologia da Libertação (TL), a seu modo, conclama desde seu início a “opção preferencial pelos pobres” e, por fim, o Espiritismo, doutrina filosófica e religiosa decodificada por Allan Kardec (1804-1869), pseudônimo do professor francês Hippolyte Rivail, atesta que “fora da caridade não há salvação”.
Na essência dessas práticas voluntárias pode-se seguir um caminho que aponta para a fundação de uma economia de comunidades, onde cada um pode contribuir para beneficiar o próximo, com a contrapartida de que também poderá, num futuro próximo, ser ajudado.
Já em relação à segunda prática – economia solidária – cumpre ressaltar primeiramente, que essa situação tem crescido em torno de suas diversas formas cooperativadas, quer seja de consumo, de crédito, de produção.
É urgente empreender esforços na defesa de um tipo de cooperação solidária que seja, ao mesmo tempo, sustentável, abarcando com amplitude um grau elevado de humanização da economia na qual o dinheiro não seja o ponto central. Isso é simples? Não. Porém, não é impossível. Como fazer isso? “É preciso reinventar uma economia da convivência”, diz Edgar Morin. Dom Pedro Casaldáliga, nessa mesma linha de raciocínio, fala em “humanizar a humanidade”.
Tudo isso está envolto num mesmo objetivo: promover a melhoria das condições médias de vida das pessoas. Para tanto, é necessário mudanças. Nesse sentido, uma primeira mudança que deve aflorar diz respeito a trocar a competição pela cooperação.
Em lugar do individualismo, solicita-se a prática do coletivismo, da ajuda mútua, da socialização dos benefícios, da política do compartilhamento, do voluntariado, do ajudar ao próximo.
Essa prática do voluntarismo chega a mexer com a própria felicidade, pois já existe certo consenso na medicina em torno de que qualquer atividade voluntária ajuda a gerar no cérebro a dopamina, um neurotransmissor que induz (estimula) à sensação de felicidade interna, de prazer, de motivação, de bem-estar consigo mesmo.
Viver é isso. É procurar na ajuda ao próximo o estabelecimento de um mundo melhor para todos. É procurar construir algo melhor a cada dia. Parte daí a imprescindível necessidade de “humanizar a economia”.
A esse respeito, cabe ao economista moderno entender o mundo e propor alternativas. Ladislau Dowbor nos diz que “a economia é um meio que deve servir para o desenvolvimento equilibrado da humanidade, ajudando-nos, como ciência, a selecionar as soluções mais positivas, a evitar os impasses mais perigosos”.
As ações humanas, estabelecidas pelas vias das ciências econômicas, priorizando o aspecto social dos homens, podem perfeitamente levar a essa melhor condição de viver.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

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