terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Polidez não custa nada e ainda dá lucro

Se Nietzche estivesse vivo, com certeza, entraria na dança da polidez para ganhar o tal desconto.

Café na França: prêmio para quem se comportar com educação.
Por Lev Chaim* 

Em um pequeno café de Nice, no sul da França, a palavra de ordem está num pequeno quadrinho, escrita com giz, onde se tem os novos preços do café. Se você pedir simplesmente “Café”, custa 7 euros. Se pedir um “café, por favor”, o preço cai para 4,25 euros. Mas se o cliente disser “Bom dia, um café, por favor”, ele paga, pelo mesmo café, apenas 1,40 euro. 

Portanto, ser polido ali não custa nada, muito pelo contrário, dá-lhe um grande desconto no preço final do cafezinho. O chefe do pequeno Café Syrah, Fabrice Pepino, explicou porque começou com esta campanha sutil, mas efetiva: “Iniciei a coisa como uma brincadeira e deu certo; meus clientes fixos levaram o fato para o lado da marotagem e até exageraram na polidez, o que só fez bem para todos nós”. 

“Nas horas de pique, disse ele, as pessoas costumavam apenas pedir café e nem olhavam para os que lhes serviam – uma forma bastante mal educada”.  Com esta nova política, de premiar boas maneiras em público, o Café Syrah foi parar nas manchetes dos jornais e lançou a nova moda para 2014 – “polidez não custa nada e ainda dá lucro”. 

E bem longe de Paris, nos arredores de Jerusalém, Jawdat Ibrahim, proprietário do restaurante Abu Gosh, nada satisfeito com as maneiras de sua clientela à mesa, composta de israelenses e palestinos que, nem bem chegavam, faziam os seus pedidos e  já começavam a usar o celular, resolveu tomar um medida semelhante. 

A todos que entravam, os garçons pediam polidamente aos clientes para desligarem os celulares durante as refeições. E tem mais, se eles o fizessem, teriam um desconto de 50% na conta. Com isto, operou-se uma mudança na atmosfera local. Os clientes entravam, degustavam a comida, conversavam entre si, animadamente, e saiam totalmente felizes com o enorme desconto que haviam ganho. 

Ao ser indagado por um jornalista do diário israelense Ha’aretz , o proprietário do restaurante disse que os celulares atrapalhavam a degustação tranquila de sua gastronomia oferecida ali. "Tudo se perdia", disse ele que, montou aquele restaurante após ter ganho 23 milhões de dólares na loteria do estado norte-americano de Illinois. Até o momento, disse ele, apenas um cliente se recusou a aceitar o pedido e não ganhou o desconto de 50%. 

Nestes dois acontecimentos inéditos e criativos, descobre-se uma coisa importante. Todos nós, crentes ou não crentes em uma vida eterna, aceitamos de bom grado uma recompensa imediata. Poucos são aqueles que ainda acreditam que tem que se aguentar o pior para receber o melhor. Isto porque tanto um como o outro não têm tanta certeza do que vem depois. Tem-se fé, mas nada se sabe. 

Por isto mesmo é que discordo daqueles que acreditam totalmente que o grande filósofo Nietzche, tivesse confirmado a sua descrença na vida eterna, após ter escrito um ensaio que contém a espirituosa frase: “a ausência de uma vida eterna convida os homens a uma vivacidade eterna”. Como quem diria, “Ateu, graças a Deus”.

De qualquer forma, a medida do prêmio imediato já surtiu efeito e está marcada para se espalhar por outros lugares do mundo neste novo ano de 2014, enfatizando a importância das boas maneiras em nossas vidas aqui na Terra. Se Nietzche estivesse vivo, com certeza, entraria na dança da polidez para ganhar o tal desconto. Desejo a todos um feliz 2014, com muitos descontos pelo ano todo.
*Lev Chaim é jornalista, publicista da empresa FalaBrasil, colunista e trabalhou 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país em que mora. Lev Chaim escreve às terças-feiras no Dom Total.

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