terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Um sonho de um mundo melhor - Vânia de Morais *



Que o próximo ano seja repleto de generosidade (Foto: Reprodução)
Hoje é o último dia do ano de 2013. Pensando sobre meus planos para o Ano Novo, decidi rever quais têm sido os principais motivos de infelicidade trazidos pelas pessoas ao trabalho terapêutico. 

No topo da lista das razões apontadas pelas pessoas para a infelicidade, está a solidão. Esta, na maioria das vezes, se relaciona à inabilidade dos indivíduos para construir e para manter os laços afetivos.  

Num mundo no qual o individualismo impera e a educação se especializa em desenvolver ferramentas que tornem os indivíduos cada vez mais competitivos, o cultivo dos afetos passou a ocupar um lugar menor. A educação se ocupa, cada vez mais, de formar indivíduos competentes, sem levar em conta suas necessidades mais fundamentais. Daí, os altos índices de depressão desde a infância. 

Erro de percurso

Os ideais de sucesso que movem a sociedade atual escondem uma armadilha capaz de decepar as melhores chances de realização e de felicidade. As crianças, educadas na cultura do ser “o melhor”, tirar a maior nota, passar nos primeiros lugares, sentem-se compelidas a cumprir estas metas a fim de receber o amor dos pais, o reconhecimento dos professores, a admiração dos colegas. 

Com o tempo, os objetivos afetivos que estão por trás deste esforço, vão se apagando até que o objetivo, em si, passa a ser vencer nas disputas pela nota, pelo cargo, pelo status, pela projeção. O problema é que estas conquistas geralmente não são suficientes, persistindo o sentimento de que falta alguma coisa. Frequentemente a pessoa acredita, então, que precisa de mais daquelas mesmas coisas para se sentir melhor. 

Um dia ela se dá conta de pegou o caminho errado. Sente falta do afago, do colo, do calor que não vem em resposta ao seu esforço. Percebe que tem se empenhado em conquistas que não lhe trazem o olhar amoroso que anseia para sentir-se feliz.  

Armadilha 

A armadilha está na pressuposição de que ser “o melhor” ou “o maior” é garantia de afeto, o que está longe de ser verdade. As pessoas que ocupam os primeiros lugares nos rankings da competência, da fama, da riqueza, da beleza, não obtêm com isso a garantia do amor. A depender dos métodos que usam, sua busca pode, pelo contrário, ser fonte de solidão, frustração e tristeza.

Por outro lado, buscando este ideal, milhares de pessoas entram em quadros depressivos, movidos pela autodepreciação resultante de não ter alcançado o sucesso perseguido. É bom lembrar que, para cada primeiro lugar, existem milhares de pessoas nas posições subsequentes sentindo-se incapazes e frustradas por acreditar no sucesso, não mais como um meio, mas como um fim.

Para um mundo melhor

Eu penso que poderíamos semear as bases para um mundo melhor se, em vez do sucesso, a educação estimulasse a compaixão e a generosidade nas relações entre as pessoas. Se em vez da competição, se praticasse uma atitude voltada para o bem-estar dos outros, formando, assim, pessoas mais solidárias e propensas ao altruísmo. Precisamos uns dos outros para ser alguém e para aprender sobre quem somos. Precisamos de amor, a verdadeira gratificação que se busca receber na vida. 

Amamos os que nos oferecem cuidados e gentilezas, que têm um olhar compassivo diante do nosso sofrimento, que demonstram sensibilidade para as nossas necessidades, que nos protegem quando sentimos medo e nos acolhem quando estamos perdidos. Amamos os que se alegram com nossas alegrias, reconhecem nossos esforços, estimulam nossas aprendizagens. 

O amor não vem em resposta ao sucesso e não se oferece como prêmio pelas conquistas. O amor não pode ser tomado, nem exigido, nem cobrado como pagamento de uma dívida. O amor só pode brotar da oferta. E se ele é o alimento para nossa alma, deveria ser cultivado com cuidado e empenho na formação de seres mais humanos. E se alcançássemos seu nível mais elevado, o amor e o cuidado se estenderiam ao planeta que nos acolhe, nos alimenta e nos oferece a vida.

*Psicóloga, doutoranda em Linguística (PUC Minas, bolsista pela Fapemig), mestre em Ciências da Saúde (UFMG), pesquisadora em cognição e linguagem. Concentra seus estudos nas questões relativas à linguagem em psicoterapia. Professora em cursos de capacitação de psicoterapeutas e de Especialização em Terapias cognitivas da UFMG. 

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