Que o próximo ano seja repleto de generosidade (Foto: Reprodução) |
Hoje é o último dia do ano de 2013. Pensando sobre meus planos para o Ano Novo, decidi rever quais têm sido os principais motivos de infelicidade trazidos pelas pessoas ao trabalho terapêutico.
No topo da lista das razões apontadas pelas pessoas para a infelicidade, está a solidão. Esta, na maioria das vezes, se relaciona à inabilidade dos indivíduos para construir e para manter os laços afetivos.
Num mundo no qual o individualismo impera e a educação se especializa em desenvolver ferramentas que tornem os indivíduos cada vez mais competitivos, o cultivo dos afetos passou a ocupar um lugar menor. A educação se ocupa, cada vez mais, de formar indivíduos competentes, sem levar em conta suas necessidades mais fundamentais. Daí, os altos índices de depressão desde a infância.
Erro de percurso
Os ideais de sucesso que movem a sociedade atual escondem uma armadilha capaz de decepar as melhores chances de realização e de felicidade. As crianças, educadas na cultura do ser “o melhor”, tirar a maior nota, passar nos primeiros lugares, sentem-se compelidas a cumprir estas metas a fim de receber o amor dos pais, o reconhecimento dos professores, a admiração dos colegas.
Com o tempo, os objetivos afetivos que estão por trás deste esforço, vão se apagando até que o objetivo, em si, passa a ser vencer nas disputas pela nota, pelo cargo, pelo status, pela projeção. O problema é que estas conquistas geralmente não são suficientes, persistindo o sentimento de que falta alguma coisa. Frequentemente a pessoa acredita, então, que precisa de mais daquelas mesmas coisas para se sentir melhor.
Um dia ela se dá conta de pegou o caminho errado. Sente falta do afago, do colo, do calor que não vem em resposta ao seu esforço. Percebe que tem se empenhado em conquistas que não lhe trazem o olhar amoroso que anseia para sentir-se feliz.
Armadilha
A armadilha está na pressuposição de que ser “o melhor” ou “o maior” é garantia de afeto, o que está longe de ser verdade. As pessoas que ocupam os primeiros lugares nos rankings da competência, da fama, da riqueza, da beleza, não obtêm com isso a garantia do amor. A depender dos métodos que usam, sua busca pode, pelo contrário, ser fonte de solidão, frustração e tristeza.
Por outro lado, buscando este ideal, milhares de pessoas entram em quadros depressivos, movidos pela autodepreciação resultante de não ter alcançado o sucesso perseguido. É bom lembrar que, para cada primeiro lugar, existem milhares de pessoas nas posições subsequentes sentindo-se incapazes e frustradas por acreditar no sucesso, não mais como um meio, mas como um fim.
Eu penso que poderíamos semear as bases para um mundo melhor se, em vez do sucesso, a educação estimulasse a compaixão e a generosidade nas relações entre as pessoas. Se em vez da competição, se praticasse uma atitude voltada para o bem-estar dos outros, formando, assim, pessoas mais solidárias e propensas ao altruísmo. Precisamos uns dos outros para ser alguém e para aprender sobre quem somos. Precisamos de amor, a verdadeira gratificação que se busca receber na vida.
Amamos os que nos oferecem cuidados e gentilezas, que têm um olhar compassivo diante do nosso sofrimento, que demonstram sensibilidade para as nossas necessidades, que nos protegem quando sentimos medo e nos acolhem quando estamos perdidos. Amamos os que se alegram com nossas alegrias, reconhecem nossos esforços, estimulam nossas aprendizagens.
O amor não vem em resposta ao sucesso e não se oferece como prêmio pelas conquistas. O amor não pode ser tomado, nem exigido, nem cobrado como pagamento de uma dívida. O amor só pode brotar da oferta. E se ele é o alimento para nossa alma, deveria ser cultivado com cuidado e empenho na formação de seres mais humanos. E se alcançássemos seu nível mais elevado, o amor e o cuidado se estenderiam ao planeta que nos acolhe, nos alimenta e nos oferece a vida.
*Psicóloga, doutoranda em Linguística (PUC Minas, bolsista pela Fapemig), mestre em Ciências da Saúde (UFMG), pesquisadora em cognição e linguagem. Concentra seus estudos nas questões relativas à linguagem em psicoterapia. Professora em cursos de capacitação de psicoterapeutas e de Especialização em Terapias cognitivas da UFMG.
Nenhum comentário:
Postar um comentário