Os petistas vivem a política diariamente. É por isso que o mais comprometido sempre ganha.
Por Alexandre Kawakami*
E é por isso que o mais comprometido sempre ganha.
No filme "Nova Iorque Sitiada", existe uma grande verdade. A espiã vivida por Annette Bening, ao passar informações ao chefe do FBI interpretado por Denzel Washington sobre células terroristas islâmicas nos Estados Unidos, o avisa: "Lembre-se, Hub... o mais comprometido sempre ganha".
Na Venezuela, pelo menos três pessoas foram assassinadas quando a polícia abriu fogo contra manifestantes. Líderes dos protestos foram presos. Os jornais foram censurados e redes sociais se tornaram inacessíveis. Foram necessários 14 anos de repressão chavista para que a população venezuelana, desgastada pela inflação gritante, pobreza generalizada e violência extrema tomasse as ruas de forma mais radical, exigindo representação de seu governo. Nada indica que serão exitosos.
No Brasil, tivemos um primeiro indício de insatisfação no ano passado. O governo reagiu com discursos que pouco fizeram para convencer ou apaziguar a insatisfação dos manifestantes. Reage agora propondo o projeto de lei antiterrorismo. Se não pode satisfazer, quer calar a insatisfação. Reações esparsas aqui e ali, civilizadas a ponto de não serem ouvidas, ensaiam-se. Rogo para que, em ano de eleição, a falta de popularidade do projeto o enterre no nascedouro. Mas nada indica que o governo não será exitoso.
Há uma superioridade moral no governo petista, personificado na figura de nossa presidente. Foram pessoas que sairam às ruas, pegaram em armas, ousaram sair do claustro da vida comum para fazerem algo em que acreditavam. Questiono suas motivações, mas admiro o ato. Não me espanto quando vejo que se sentem no direito de dirigir o país como bem entendem, sem compromisso ou responsabilidade: na cabeça deles, deram sua vida ao país. Nada mais justo que o país retribua. Em resposta, dão uns trocados aos mais pobres.
Os petistas pensam em política, vivem-na diariamente. Para eles, pouco importa o que falam, desde que tenham o palanque. Um petista nunca vai se sentir derrotado num debate porque a função do debate, para um petista, não é apaziguar uma dúvida: é dar espaço para o grito. Se a economia vai mal, a culpa não é do PT, é da ciência econômica. Se o Brasil vai mal, a culpa não é do PT, é do egoísmo de quem vê maldade. Se o argumento do PT for derrotado, não é porque o argumento era falho: o debate é que era ruim.
O PSDB nunca vai ter esta convicção. Sequer sabe fazer oposição. Em sua tecnicalidade, em sua mania de querer estar certo, deixa de ser ouvido. E padece dos mesmos fisiologismos.
Nós, na vida real, tentamos, a muito custo, ganhar o sustento diário. Mas estamos longe de sacrificar algo pelo que acreditamos. Comprometemo-nos com nossas famílias, nossas carreiras, nosso trabalho: quem nos criticaria por isso? Ninguém. A Venezuela está muito longe para nos incomodar.
*Alexandre Kawakami é Mestre em Direito Econômico Internacional pela Universidade Nacional de Chiba, Japão. Agraciado com o Prêmio Friedrich Hayek de Ensaios da Mont Pelerin Society, em Tóquio, por pesquisa no tema Escolhas Públicas e Livre Comércio. É advogado e consultor em Finanças Corporativas.
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