quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Por um governo que nos inspire

O compromisso com o fisiologismo impede que PT e PSDB sejam essa fonte de inspiração.

Por Alexandre Kawakami*

O Brasil passa por uma crise sem precedentes. Ela não é apenas de natureza econômica, mas também de natureza moral, social, jurídica, política e cultural. Não basta para nós renovarmos o governo. Temos de reformar a nós mesmos. Mas se começássemos pelo nosso governo, qual seria o quadro que reflete esta mudança que nos é tão necessária?

Eu creio que a palavra chave é inspiração. Precisamos de um governo que nos inspire.

Antes de mais nada, precisamos de um governo que nos inspire confiança. A corrupção não é um fenômeno brasileiro e está fadada a existir em qualquer lugar onde um privilégio pode ser comprado por um preço. A diferença desta constante e do que vivemos no Brasil é que, no Brasil, é quase impossível empreender sem se comprar privilégios. 

Ser político no Brasil não é resultado do anseio de representação política: é um investimento para ser dono de cartório. E como sabemos, cartórios no Brasil e em qualquer lugar existem para enriquecer seus donos, e pouco mais. Um governo que inspira confiança é um governo onde seus representantes estão lá para nos servir, e não para tomar de nós grande parte de nosso esforço. Confiaremos num governo que deixa claro sua independência e oposição a esta forma brasileira de estrutura política, onde o poder é visto como a prerrogativa de gerir os recursos dos outros para o benefício de quem o gere, e não de quem o produz.

Precisamos também de um governo que nos inspire a confiarmos uns nos outros. Somos todos nós (TODOS) frutos de um sistema educacional fundado sobre a desconfiança e o ódio de uma classe contra a outra. Nunca nos foi incutido o fato simples de que uma sociedade se constrói com os esforços em conjunto de criaturas essencialmente desiguais. 

Os indivíduos que compõem uma sociedade não se dedicam uns aos outros apenas pela perspectiva de serem economicamente iguais, mesmo porque isso é impossível. Os indivíduos se dedicam uns aos outros porque sabem que têm uma função dentro de uma sociedade, e esta função garante sua subsistência e sua realização. Pasmem, o valor desta função não se estabelece por lei, mas pelo valor que nós, como indivíduos, damos ao que recebemos. 

Nem o PT e nem o PSDB são capazes de nos trazer inspiração. Ambos têm em sua genética o compromisso com o fisiologismo. Nenhum deles nos incentiva a nos comprometermos uns com os outros, mas pelo contrário, nos incentivam a querer tirar o máximo de vantagem possível para nós mesmos. O mesmo pode ser dito de todos os outros candidatos. 

Estas eleições não trarão a solução dos nossos problemas. Se tivermos sorte, o que ela trará é a percepção de que as possibilidades de governo que nos são oferecidas não nos interessam. Que merecemos mais. Que está na hora dos melhores de nós se oferecerem para representar o que temos de melhor em cada um.
*Alexandre Kawakami é Mestre em Direito Econômico Internacional pela Universidade Nacional de Chiba, Japão. Agraciado com o Prêmio Friedrich Hayek de Ensaios da Mont Pelerin Society, em Tóquio, por pesquisa no tema Escolhas Públicas e Livre Comércio. É advogado e consultor em Finanças Corporativas.

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