sexta-feira, 18 de abril de 2014

Mais de 200 adolescentes se reúnem em retiro espiritual

Comemorando 20 anos, Semana Santa Jovem será ampliada para todos os colégios jesuítas do Brasil. A reportagem é do Jornal O Globo.

RIO — A tradicional Semana Santa Jovem (SSJ), retiro espiritual realizado por alunos do ensino médio de sete colégios jesuítas da região sudeste, está comemorando 20 anos em 2014, com uma novidade para 2015. A partir do próximo ano, o encontro, que celebra os últimos dias de Cristo e a Páscoa, será estendido às outras oito escolas da Companhia de Jesus espalhadas pelo nordeste e sul do Brasil. 

A ampliação faz parte da reformulação estrutural no país da ordem fundada por Santo Inácio, que será anunciada no segundo semestre deste ano. As três províncias jesuítas em que são divididas o Brasil serão unificadas em apenas uma. Com isso, pretende-se dar um caráter mais nacional a experiências como a Semana Santa Jovem, explica o padre Geraldo Lacerdine, diretor de Comunicação da Companhia de Jesus no sudeste. 

— A Companhia de Jesus está fazendo um processo de unificação das provincias. Começa com uma nova configuração territorial em 2015, que amplia todas as atividades que fazíamos por província. Como a experiência mostra que não há como pegar uma atividade e simplesmente ampliar, formamos uma equipe para pensar nessas atividades não só para sete colégios, mas para 14. Vão ser ampliadas e reconfiguradas para abarcar essa proposta nacional. É o fechamento de um ciclo, justamente em 2014 que a SSJ-1completa 20 anos — antecipa o padre jesuíta. 

Desde quarta-feira (16), estão reunidos em Indaiatuba, no interior de São Paulo, mais de 200 estudantes dos colégios Santo Inácio (RJ), Anchieta (Nova Friburgo), Jesuítas (Juiz de Fora), Loyola (Belo Horizonte), São Luís (SP), São Francisco Xavier (SP) e da Escola Técnica de Eletrônica (ETE, de Santa Rita de Sapucaí). Na Vila Kostka, em Itaici, onde é realizada um encontro anual da CNBB, os jovens revivem até o domingo de Páscoa os últimos passos de Jesus, recriando momentos como a Última Ceia, o Lava-Pés e a Via Sacra. 

Os demais colégios jesuítas no país, que participarão da SSJ-1 em 2015 são: Agrícola (SC), Anchieta (RS), Antônio Vieira (BA), Catarinense (SC), Medianeira (PR), Santo Afonso (PI), Santo Inácio (CE) e Diocesano (PI). 

Seis relatos de fé de ex-alunos dos colégios jesuítas 

Além da SSJ-1, em Itaici, mais focada na descoberta da fé pelos adolescentes, há a SSJ-2, atualmente realizada na capital paulista, mais introspectiva e calcada na espiritualidade inaciana. A experiência costuma marcar tanto os jovens estudantes, que ex-alunos dos colégios jesuítas criaram três Semanas Santas Jovens para continuar a vivenciar a prática mesmo após formados: a Páscoa Loyola, no Rio; a Páscoa Gonzaga, em São Paulo; e a Páscoa Santo Inácio, em Belo Horizonte. 

Ex-aluna do Colégio Santo Inácio, a economista Maria Clara Pessoa de Araújo, de 26 anos, conta que a SSJ-1 foi um marco em sua vida. Ela participou do encontro em 2002 e ajudou a organizar a Páscoa Loyola no ano seguinte. Hoje radicada em Nova York, onde faz MBA em Business na Universidade de Columbia, ela relembra com carinho dos momentos que vivenciou em Itaici, apesar de ter quase desistido da experiência no início. 

— A SSJ mudou a minha vida e a percepção de fé. Nos primeiros dias temos que fazer exercícios em que abrimos nossos sentimentos e experiências pessoais em pequenos grupos, para pessoas que não conhecemos. Eu me senti muito incomodada, não via o propósito daquilo, e estava pronta para ir embora. Dois ex-alunos do colégio que trabalhavam como monitores não desistiram de mim. Conversaram comigo, fizeram algumas sessões individuais e me convenceram a ficar. Foi uma das experiências mais marcantes da minha vida. Entrei em contato não só com a fé, mas com valores de amizade, perdão e amor ao próximo que formam meu caráter até hoje — conta Maria Clara. 

A publicitária Luísa Rennó, de 31 anos, estudou no Colégio Loyola, fez a SSJ-1 em 1998, a SSJ-2 em 1999 e voltou a Itaici como monitora em 2001, já formada no ensino média. Mesmo não se considerando mais católica, ela guarda ótimas lembranças daquela época. A mineira recorda especialmente dos momentos de oração pessoal, denominados deserto, e a partilha posterior dos sentimentos experimentados. 

— Na verdade, eu acho a experiência toda fantástica. Acho que todas as experiências religiosas que tive no Loyola foram sensacionais, principalmente para minha formação pessoal. Os momentos em grupo, trocando experiências e sentimentos com pessoas de outros estados, foram bem marcantes. Também tinha uma relação de amor e ódio com uma atividade que se chamava Deserto, pois me dava muito sono e eu ficava lutando para não dormir — ri Luísa. — Mas achava interessante e muitas vezes me marcou muito porque era uma espécie de oração livre. 

Engenheira de telecomunicações, a também mineira Carolina Leão, de 25 anos, pariticipou da SSJ-1 em 2002, quando era aluna da ETE. Ela diz que foi o seu primeiro contato com espiritualidade e a descoberta de máximas inacianas, como “em tudo amar e servir” e “para a maior glória de Deus”. 

— Lá, eu pude descobrir uma nova forma de viver. As experiências que vivemos neste retiro de Páscoa nos colocam mais próximos de Deus, ao mesmo tempo que estamos inseridos dentro da nossa realidade adolescente daquele momento. Depois de 12 anos tendo participado pela primeira vez, ainda consigo sentir a emoção dos momentos vividos lá. Sou ativa na minha paróquia e já participei de outros momentos de reflexão sobre a Paixão de Cristo, mas não tive outra vivência de Semana Santa tão forte e intensa como os dias passados em Itaici — compara Carolina. 

Hoje umbandista, a professora paulista Fernanda Furió, de 30 anos, foi para a SSJ-1 em 1998, quando estava no 1º ano do ensino médio do Colégio São Francisco Xavier, e retornou como monitora, três anos depois. Ela recorda os cantos religiosos, que ainda hoje ouve num CD que guarda no carro. 

— Foi um marco em minha vida espiritual. Após a vivência em Itaici, pude sentir a fé na minha vida e também partilhar com amigos. Acredito que a fé para os jovens seja algo muito importante e, de fato, contribuiu também para minha formação pessoal. Até hoje me lembro daqueles momentos e me emociono, mesmo seguindo hoje outras práticas religiosas. Continuo sendo cristã, e a Semana Santa sempre será relembrada com muito carinho pelos versos das canções, rituais e passagens. Sou muito grata pelas amizades que fiz e ainda mantenho — diz Fernanda. 

A nutricionista paulistana Ivy Paes, de 31 anos, participou da SSJ-1 no mesmo ano que a conterrânea. Ex-aluna do Colégio São Luís, ela destaca a magia da cumplicidade entre pessoas que acabavam de se conhecer: 

— Para mim Itaici foi uma grande experiência por ter contato com estudantes de diversos colégios. O que me marcou foi a troca entre as pessoas que nem se conheciam. É muito mágico. E me marcou muito porque lá foi possível entender o real sentido da Páscoa, que é dificil compreender para quem não passou pelo retiro. 

Ex-aluna do Colégio Anchieta, em Nova Friburo, a publicitária Thais Dias, de 29 anos, destaca o pôr do sol no domingo de Páscoa em Itaici como o momento mais marcante da SSJ-1. Ela participou da experiência em 2000 e voltou em 2002 como monitora: 

— Na época, com apenas 15 anos, eu não tinha dimensão do quanto aquela viagem seria marcante na minha vida. Além de vivenciar uma forte experiência cristã, aquela semana foi o início de grandes amizades presentes até hoje em minha vida. Presenciar o nascer do sol comemorando com uma centena de jovens a ressurreição de Cristo foi um dos momentos mais lindos que guardo na minha memória.
Jornal O Globo, 18-04-14

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