quarta-feira, 23 de abril de 2014

Nem esquerda, nem direita, nem centro

No Brasil, onde empresários e sindicatos se opõem, quem sai perdendo é o pequeno empreendedor.

Por Alexandre Kawakami*
O que se convencionou chamar de direita ou de esquerda hoje tem pouco valor senão o propagandístico e demagógico. Entendo por que políticos oriundos de movimentos sindicais, acostumados a lidar com representantes de grandes empresas, queiram ver o mundo desta forma. Para eles, uma empresa é o seu advogado ou o seu diretor de recursos humanos, impessoal, descomprometido, alheio às necessidades dos empregados, da vida como ela é. Ora, para o dono de empresas menores assim também é o sindicalista: irresponsável, irracional, alheio à sobrevivência do negócio, da vida como ela é.

É natural que um governo como o nosso (ou como o norte-americano), onde as lideranças são em grande parte oriundas dos movimentos sindicais e populares, veja o setor privado inteiramente como se fosse suas contrapartes nas negociações de greves e salários. É natural também que queira dar suporte ao que considera ser a parte mais fraca, qual seja, os sindicatos. E é importante diferenciar os sindicatos dos trabalhadores, pois são duas entidades bem diferentes com interesses bem distintos.

É por isso que temos no Brasil um custo trabalhista e previdenciário tão alto. Com isso, julgam as nossas lideranças que estão não apenas fazendo seu papel na defesa dos sindicatos (e talvez por consequência, dos trabalhadores), mas também contra o grande capital. Mas isto é na verdade um grande engano.

O grande capital pouco perde com o aumento de encargos trabalhistas e previdenciários. Perde menos ainda com a burocracia envolvida no trato destes encargos, o que os economistas chamam de transaction costs, ou custos de transação. Se os preços que as grandes empresas praticam cobrem os encargos e tais custos e deixam margem de lucro aceitáveis, as operações se mantêm; se deixam de cobrir, as grandes empresas têm recursos suficientes ou para mudar de jurisdição ou para fazer lobby para receber tratamento tributário diferenciado. Exemplo claro é nossa indústria automobilística. 

Quem perde mesmo com o volume destes custos e a burocratização de seu tratamento são as pequenas e médias empresas, nascentes ou em expansão, que não estão em posição nem de fazer lobby e nem de votar com as pernas e mudar de lugar. São também estas empresas que servem como verdadeiro regulador das práticas e preços das grandes no momento em que se apresentam como alternativa no processo de competição. 

Mais ainda, como já escrevi anteriormente, em número grande de economias, são as pequenas e médias empresas as responsáveis pela criação de novos postos de trabalho, uma vez que grandes empresas, na maioria das vezes, já se encontram em estágio avançado de otimização de seus processos produtivos, utilizando de know-how existente de produção ou simplesmente automatizando tais processos. O papel das pequenas e médias empresas na diminuição do desemprego no Brasil é patente e fácil de ser reconhecido. 

Uma pessoa imparcial portadora de preocupação com o número de empregos e qualidade de serviços e produtos de um país teria de se preocupar com a restrição de práticas anti-competição das grande empresas (uma posição em princípio de esquerda) ao mesmo tempo em que favorece condições de empregar mais e lidar com menos custos de transação (uma posição em princípio de direita). 

O mundo onde caminhamos e navegamos talvez precise de um outro tipo de ideologia, não necessariamente novo mas frequentemente ignorado: o partido do David contra o partido do Golias.
*Alexandre Kawakami é Mestre em Direito Econômico Internacional pela Universidade Nacional de Chiba, Japão. Agraciado com o Prêmio Friedrich Hayek de Ensaios da Mont Pelerin Society, em Tóquio, por pesquisa no tema Escolhas Públicas e Livre Comércio. É advogado e consultor em Finanças Corporativas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário