Racismo do deputado Geert Wilders provoca repúdio em toda a Holanda.
Por Lev Chaim*
O deputado holandês, Geert Wilders, - loiro oxigenado, líder do partido da extrema-direita holandesa – o PVV (Partido da Liberdade, irônico nome)-, está mais uma vez sendo acusado de racismo xenofóbico em último grau. Denúncias foram feitas nas delegacias de todo o país contra o seu último pronunciamento.
Ao encerrar a campanha eleitoral municipal (seu partido participou da eleição apenas em três municípios por falta de candidatos), Wilders gritou ao microfone para partidários que o aplaudiam: “Querem mais marroquinos ou menos marroquinos na Holanda?”. Para logo acrescentar: “Menos, menos, menos....vamos cuidar para que isto ocorra”.
Não é cena de um filme, mas ocorreu na Holanda, há poucos dias, pouco antes de Barak Obama colocar os pés no país para a Cúpula de Energia Nuclear. Imaginem vocês, um deputado brasileiro fazendo o mesmo em relação aos “turcos” (sírios e libaneses), por exemplo. Imaginem a revolta e a comoção.
Muitas crianças holandesas que o ouviram, descendentes de marroquinos, voltaram das escolas aos prantos, dizendo que não queriam imigrar para o Marrocos. Além de assustar crianças, ele é mentiroso: todos aqueles que ele ofendeu são holandeses, independentemente da ascendência racial de seus ancestrais. E ponto final.
Vale um esclarecimento: Wilders construiu o seu partido e sua carreira política destratando muçulmanos, fossem eles extremistas ou não. Agora, ele particularizou um grupo de pessoas – os de origem marroquina. Notoriamente, ele foi longe demais, até mesmo para uma democracia que preserva a liberdade de expressão.
Alguns até se lembraram de ajudantes do “ditador austríaco de bigodinho”, quando por volta dos anos 30 gritaram para a massa de seguidores numa Alemanha em recessão: "Menos judeus, menos judeus".
Até mesmo o aliado a nível europeu do partido holandês, o partido francês da extrema-direita, Le Front Nacional, foi colocado numa saia justa com este slogan de Wilders, já que eles estavam querendo se “distanciar” de certos pronunciamentos racistas de seu antigo líder, Jean Marie Le Pen.
É por causa desta e de outras que este deputado holandês é protegido 24 horas seguidas por guarda-costas, pagos pelo Estado, ou seja, pelo contribuinte holandês. E isto há anos.
Não sou favorável à revanche pessoal, mas no caso de um provocador barato como este, que incita ao ódio racial apenas para ganhar votos, já que não tem programa de verdade para ser executado, essas despesas ficam caras para os cofres públicos. É a exploração do medo e do sentimento anti-europeu de ignorantes que se deixam levar por retórica xenófoba.
Na Holanda, as cifras apontam que a juventude de origem marroquina tem mais problemas com a polícia do que qualquer outro grupo. Mas, o tal deputado, simplesmente, se esquece que a criminalidade não tem nada a ver com a origem racial. Bem já dizia Sócrates que “A ignorância é o único mal do mundo”.
São pessoas com menos estudos e, por isto mesmo, com menos chances no mercado de trabalho: uma questão social, educacional e não étnica. E de mais a mais, ao dizer o que disse, ele não apresenta solução alguma e só quer ganhar votos. É a própria cartilha do populista.
Uma única vez em que o seu partido apoiou oficialmente uma coalizão de governo na Holanda (dos liberais do VVD e dos Democratas Cristãos), a coisa não durou muito. Na hora crucial de tomar decisões, ele caiu fora das negociações e novas eleições tiveram que ser convocadas.
Só que desta vez, ele saiu totalmente fora dos trilhos com seu slogan e mostrou que o seu partido é o partido de um homem só: “ele e apenas ele”. Como pertencer a um partido, como o PVV, onde apenas um homem dá as cartas e exige que os outros digam amém?
É o verdadeiro paradoxo dentro de uma democracia moderna: um partido totalmente antidemocrático.
De qualquer forma, para quem já conhece a história política da Europa, sabe muito bem que os populistas, antes de serem desmascarados, podem causar grandes estragos.
Uma charge de um jornal holandês publicou uma gozação sobre o acontecimento, com um desenho do primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, ao lado do presidente norte-americano, Barack Obama, durante a Cúpula de Energia Nuclear em Haia. Obama perguntava: “Querem mais bombas ou menos bombas nucleares?".
O que Wilders disse foi gravíssimo e uma decisão tem que ser tomada pelos parlamentares holandeses: ignorá-lo ou combatê-lo? Ou os dois? Humor é bom, mas só rir não muda muita coisa. Muitos riram de Hitler e vejam no que deu!
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou 20 anos para a Rádio Internacional da Holanda, país onde mora. Escreve às terças-feiras no Dom Total.
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