Marcus Eduardo de Oliveira
Defender a ideia de que países que chegaram a certo nível de prosperidade e bem-estar devem renunciar de maneira explícita ao crescimento como objetivo central de sua política macroeconômica é, em outras palavras, defender a necessidade de colocar a economia a serviço do desenvolvimento, da qualidade de vida, do bem viver.
Diante disso, muitos poderão indagar: mas, como administrar a necessidade premente de fazer a economia crescer para gerar empregos e distribuir renda?
Ricardo Abramovay, em “Muito Além da Economia Verde”, baseando-se em diversos estudos, comenta que “a maturidade dos sistemas econômicos de vários países da OCDE permite que a resposta ao desemprego não esteja no aumento da produção e sim na capacidade de converter a elevação da produtividade em mais lazer, mais vida comunitária e maior contribuição das economias locais para o bem-estar”.
Lamentavelmente, sabe-se que as diferentes orientações do pensamento macroeconômico criaram, ao longo do tempo, uma espécie de parâmetro único de prosperidade: o indicador para isso é associar o crescimento econômico a desempenho de bem-estar, a obtenção de qualidade de vida.
Uma rápida passada de olhos pelos sistemas econômicos atuais permite concluir que o funcionamento da vida econômica mostra, sem espaço à dúvida, que a abundância material das sociedades contemporâneas nem de longe produz o bem-estar que dela se poderia esperar, como bem assevera Abramovay na referenciada obra.
Para corroborar essa assertiva, o crescimento econômico não é, nunca foi e nunca será uma fórmula universal para se chegar ao bem-estar. Bem-estar nada tem a ver com aquisição material.
Contudo, é de extrema importância o significado do crescimento econômico para o conjunto da macroeconomia; disso não há dúvidas, como ampliação da oferta de bens e serviços e aumento da arrecadação tributária, mas, para a obtenção de bem-estar, entendido como a melhoria substancial da qualidade de vida e das condições médias de bem viver, o crescimento não é – e nunca será – uma finalidade.
Políticas econômicas desenhadas para a obtenção de elevadas taxas de crescimento passam, necessariamente, pelo mercado. O mercado, como é de conhecimento de todos, não capta a realidade social; está distante de “entender” a dimensão do social, do humano, da prática de ser solidário.
Atividades sociais das mais importantes que conferem verdadeiro sentido à vida, como educar os filhos, dar atenção aos idosos, praticar a filantropia, a espiritualidade e o cuidado necessário com o modo de viver em sociedade, em coletividade, não passam pelo mercado, mas confere e agrega muita qualidade à vida.
Em outras palavras, é a isso que se convenciona chamar de desenvolvimento, no pleno sentido de estabelecer laços de enaltecem a qualidade de vida.
É nesse sentido que o ser humano se desenvolve, prospera, engrandece. É disso que trata a economia do desenvolvimento; de um desenvolvimento humano, social, fraterno, solidário capaz de fortalecer os laços de sociabilidade.
Pelo prisma econômico, enquanto o crescimento sempre foi associado à quantidade, o desenvolvimento é – e sempre será - associado à qualidade. É isso que faz toda a diferença na perspectiva de uma vida em comunidade.
Talvez esteja aí a principal e a mais ácida crítica ambientalista à teoria econômica. Desenvolvimento é, grosso modo, permitir ao homem moderno a possibilidade de sobreviver com dignidade e liberdade; e isso nada tem a ver com relações quantitativas do crescimento – paradigma supremo da macroeconomia tradicional.
Por fim, o que cabe constantemente reiterar é que o bem-estar não se alcança com crescimento, mas sim com desenvolvimento econômico, social e humano.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo | prof.marcuseduardo@bol.com.br
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