Três fatos me irritaram bastante, nos últimos dias: uma escultura, um filme e Joseph Blatter.
Por Lev Chaim*
Três coisas me irritaram nestes últimos tempos. A primeira foi uma enorme escultura de ferro, com arames grossos trançados, reproduzindo uma cara, batizada como “O oráculo”, colocada na praça central de Amsterdã, a praça do Dam. Ela foi elaborada pelo escultor holandês Joep van Lieshout, para comemorar o 5 de maio, dia da libertação da Holanda da Alemanha Nazista, no final da Segunda Guerra Mundial.
Esse oráculo capta mensagens de celulares (torpedos) e as reproduz em seus alto-falantes, para a hilaridade dos presentes, a maioria, jovens. Logo, tudo tornou-se uma brincadeira de se enviar mensagens, uns para os outros, reproduzidas em voz alta pelo oráculo, em quatro línguas (holandês, inglês, alemão e francês). Ouvia-se mensagens inocentes de paqueras, do time favorito e também de propaganda nazista.
Se esse oráculo cacofônico representar a liberdade de se dizer tudo o que se pensa e ver os seus pensamentos torpedeados em voz alta, não sei mais o que se pode ensinar aos jovens sobre liberdade. Aquela liberdade adulta, que é infinita até que você cruze o terreno da liberdade do outro. Nada a ver com esse oráculo poliglota que mais parece uma Torre de Babel.
A segunda coisa que me irritou profundamente foi a minha ida ao cinema para assistir uma película sueca, vendida como a grande aventura de um centenário, que, no dia de seu aniversário, foge pela janela da casa de repouso onde morava, para desfrutar novamente de uma “nova juventude”: “O centenário que pulou a janela e desapareceu no mundo”. E eu fui assisti-la com uma amiga sueca.
Baseado no romance com o mesmo nome, do escritor sueco Jonas Jonasson, o filme tem cenas hilárias, mas foi montado num roteiro superficial e bastante caricato: um conto de fadas da terceira idade ou das aventuras de um velho que não tem mais nada a perder na vida. Na sua fuga, ele se depara com um bando de criminosos e a aventura tem inicio.
Do filme, apenas uma frase me chamou a atenção. Foi quando a mãe do velho homem, numa das cenas do passado, ao se deparar com um acontecimento trágico, relembrou ao filho, ainda menino, “que tudo na vida acontece como tem que acontecer”. Chavão mais comum impossível, mas também uma fórmula simples e mágica para se contemporizar as desgraças da vida.
E a terceira e última coisa que me tirou o humor foi a notícia da candidatura do presidente da Fifa, Joseph Blatter, para o quinto mandado na presidência daquela maior instituição do futebol mundial. Ele tem 78 anos e antes do quarto período, ele afirmou que não iria mais competir. Mentiu!
E Blatter, até o momento, não esclareceu ao mundo porque a Rússia ganhou para organizar a Copa do Mundo de 2015 e o Catar a de 2022. Isto, fora os rumores de corrupção que envolvem a presidência da Fifa, considerada por muitos como um tipo de organização mafiosa.
Um outro ato controverso de Blatter ocorreu no leilão para a escolha dos países que sediariam as copas. Ele interrompeu o minuto de silêncio em homenagem ao falecido presidente da África do Sul, Nelson Mandela, após apenas 11 segundos dele ter se iniciado.
Ao comentar tudo isto com um amigo, ele respondeu: “Lev, você está ficando velho”. Para logo depois soltar mais essa: “As três coisas que o irritaram têm mesmo algo a ver com a idade – Blatter, o velho do filme e o oráculo. Depois disso, calei-me de vez, já sem o menor humor. Tchau e até mais.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Dom Total.
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