terça-feira, 13 de maio de 2014

Perseguidos nos anos de chumbo são anistiados

Comissão da Anistia pede desculpas aos requerentes e assegura reparação econômica.

“Fui torturado para confessar o que não era, não sabia e não fazia”. Foram estas as palavras do hoje anistiado político brasileiro Aldeysio Geralde Dias Duarte durante a 7ª Sessão de Turma da 84ª Caravana da Anistia, realizada nesta segunda-feira (12), no auditório da Escola Superior Dom Helder Câmara.
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No decorrer da tarde e início da noite foram julgados 12 processos de perseguidos pelo Estado durante a Ditadura Militar. De forma unânime,  todos os requerentes foram anistiados e receberão reparação econômica de caráter indenizatório, alguns casos em prestação única, outros em prestação mensal permanente e continuada. Para Aldeysio a reparação é justa, pois as cicatrizes deixadas pela Ditadura não foram poucas. “Meu filho de nove meses adoeceu, minha esposa foi presa e além de tudo isso fui violentamente torturado física e psicologicamente, o que deixou sequelas eternas a minha saúde. A tortura era tão pesada que muito amigos optaram pelo suicídio.”
Após a apresentação de cada caso por seus relatores, os requerentes puderam expor seus sentimentos e críticas referentes aos anos de chumbo. “É de fundamental importância dar voz aos anistiados, cada testemunho prova o quanto é imprescindível falar. Na medida em que se fala é possível criticar, a rememoração trás a condição de sujeito político novamente, é uma forma de transformação”, destacou a conselheira Rita Maria de Miranda Sipahi.
Sentimento de anistia
Perseguição, prisão, tortura, foram realidades comuns entre os presentes requerentes. Mas, apesar de toda a luta enfrentada na repressão e na luta contra a Ditadura, Maria Helena de Lacerda Godinho se considera uma pessoa otimista. “Vivemos uma redemocratização, considero que nos últimos anos o Brasil mudou suas estratégias e prioridades. E neste momento o que desejo é prestar minhas homenagens a aqueles companheiros, muitos com os quais eu convivi, que não puderam estar presentes para vivenciar esse processo de redemocratização”, afirmou Maria Helena.
Em entrevista ao DomTotal, após ser declarado anistiado pelos conselheiros da Caravana, Cleber Consolatrix Maia disse considerar mais importante o fato de o Estado Brasileiro declarar que os perseguidos pela Ditadura tinham razão em suas lutas. “Vivi em uma sociedade em que meus pais e de meus amigos achavam que estávamos fazendo bobagem e hoje conseguimos mostrar a todos que foi exatamente o contrário. Lutamos, fomos vitoriosos, somos sobreviventes da Ditadura e estamos tendo a oportunidade de contar nossa história para que nunca mais se repita”, declarou Cleber.
Depois de encerrada a 7ª Sessão de Turma a conselheira Vanda Davi Fernandes de Oliveira pediu a palavra e fez uma reflexão sobre os pedidos de desculpas feitos aos perseguidos pelo Estado. “Penso como um Estado que continua praticando tratamentos desumanos nas prisões se desculpa com um perseguido político? Como uma pessoa que foi torturada vai desculpar outra que continua torturando cidadãos, um estado que ainda tem na letra que os soldados cantam, em seus exercícios diários, um tratamento de que o cidadão é um inimigo? Isso realmente me incomoda muito, por isso quando fazemos o pedido de desculpas eu o faço pensando sempre que há essa intenção de que as coisas realmente melhorem”, concluiu a conselheira Vanda.
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Redação DomTotal

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