quarta-feira, 21 de maio de 2014

Nível dos mares ameaça locais históricos

A elevação do nível dos mares é provocada pelo derretimento do gelo polar devido ao aquecimento.

Por Jean-Louis Santini
Washington - A elevação do nível dos mares, provocada pelo derretimento do gelo polar devido ao aquecimento global, ameaça vários lugares históricos dos Estados Unidos, como a Estátua da Liberdade e o Centro Espacial Kennedy, alertou um relatório divulgado nesta terça-feira.
"Podemos quase recontar a História dos Estados Unidos através destes lugares", afirmou Adam Markham, pesquisador da organização privada União dos Cientistas Preocupados (UCS, na sigla em inglês), coautor do informe "National Landmarks at Risk" (Locais Históricos Nacionais em Risco, em tradução literal).
O relatório aponta 30 tesouros nacionais americanos ameaçados pelas águas, mas também por incêndios no oeste dos Estados Unidos, onde estes incidentes têm sido cada vez mais frequentes devido a secas que climatologistas associam ao aquecimento global.
Além da Estátua da Liberdade e do Centro Espacial Kennedy, de onde partiram os primeiros homens a pisar na Lua, o documento citou Jamestown, na Virgínia, onde foi fundada a primeira colônia britânica no continente americano e que "será, provavelmente, submersa pela elevação do oceano até o fim do século", antecipou o UCS.
"O Forte Monroe, na Virgínia, que teve um papel crucial durante a Guerra da Secessão, será uma ilha daqui a 70 anos", acrescentou Adam Markham, destacando, ainda, que "o Castelo de São Marcos, em Saint Augustine, na Flórida, é muito vulnerável". Esse é o mais antigo forte construído nos Estados Unidos.
O castelo de São Marcos enfrenta riscos crescentes de inundação e, sem que proteções sejam erguidas, será completamente cercado pelas águas porque, segundo projeções da Agência Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), o nível do Oceano Atlântico deve aumentar 91 centímetros até 2100, em uma estimativa conservadora.
Muitas estruturas da Nasa ameaçadas
O Centro Espacial Kennedy, na Flórida, também está ameaçado, preocupando a Nasa.
O aumento do nível dos mares e a ameaça de tempestades mais violentas também deixam em risco o centro histórico de Anápolis, em Maryland; o de Charleston, na Carolina do Sul; e o de Boston em Massachusetts, advertiram os autores do relatório, segundo o qual muitos outros tesouros arqueológicos no resto do mundo também estão vulneráveis.
A Sociedade Americana de Arqueologia (SAA), que tem a missão de preservar as riquezas arqueológicas em todo o mundo, também publicou um comunicado nesta terça pedindo grande atenção para a preservação desses locais.
A Nasa avalia como as mudanças climáticas afetam o Centro Espacial Kennedy e muitos outros locais também ameaçados, e elabora planos para se proteger. Cinco dos sete principais centros da agência espacial americana estão situados ao longo da costa, já que a proximidade da água necessária para o lançamento de veículos espaciais fora de zonas habitadas.
Muitos desses centros já sofreram importantes prejuízos com a elevação dos mares, a erosão costeira e os furacões, acrescentou o informe.
"Segundo o escritório de planejamento e desenvolvimento da Nasa, a elevação do nível dos oceanos é a maior ameaça à continuidade das operações do Centro Espacial Kennedy", indicou o relatório da UCS.
Para conter as mudanças climáticas e ganhar tempo para melhor preservar todos os locais ameaçados, é indispensável reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2), principal gás de efeito estufa derivado das atividades humanas, insistiram os autores.
De acordo com o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), limitar o aquecimento do clima a 2°C com base na era pré-industrial ainda é possível, mas exige uma ação rápida para reduzir as emissões de CO2 de 40% a 70% até 2050.
"Reduzir as emissões de carbono de forma significativa e rapidamente pode retardar o ritmo de elevação do nível dos oceanos, além de limitar o aumento das temperaturas terrestres e a extensão da temporada de incêndios", insistiu Angela Anderson, diretora de programas para o clima e energia da UCS.
AFP

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