Contrariando as minha vísceras, torço para que o Brasil fique em segundo lugar na Copa.
Por Lev Chaim*
Não pensava em futebol enquanto caminhava na segunda, dia 23 de junho, com o meu cão pela manhã. Mas, a cada encontro, a pergunta era a mesma: se o Brasil enfrentar a Holanda, para quem você torce? A resposta, para o espanto dos meus conhecidos holandeses, era uma só: pela seleção brasileira é claro.
Mais tarde, já só, ao refletir um pouquinho mais, a minha resposta já não estava tão segura, pois quilos de ponderações e cautela colocavam-me em dúvida. Não queria que políticos se aproveitassem do sucesso de nossa seleção. Com isto, queria dizer que iria torcer contra? Não, pois só de pensar assim as minhas vísceras se contorciam revoltadas, horrorizadas. Não torcer seria melhor.
Ai, lembrei-me de um ente familiar querido que me deu o exemplo por ocasião em que o Brasil venceu a copa de 1970, durante a presidência do general Emílio Garrastazu Médici. Quando a seleção voltou ao Brasil, o general e a esposa apertaram a mão de cada jogador e todo o departamento técnico da equipe. Este membro de minha família então dizia: "Sou, sem dúvida pela seleção, mas, neste excepcional momento, sou contra porque não quero que os militares se aproveitem da situação".
Jovem, ouvi aquilo com espanto e perguntei: “Como pode? Quantas vezes não vimos o Médici com um radio de pilha no ouvido e assistindo ao jogo no Maracanã? Apesar de presidente, ele também é torcedor". A resposta era a mesma: "Você é ainda muito jovem e não entende das coisas”. Isto me deixava um “arara” ( muito bravo), como dizíamos lá em Franca.
Hoje, sem querer comparar o governo do PT com o governo militar de então, consegui finalmente entender o pensamento daquele membro da minha família. O governo militar era horrível, usurpava o direito democrático de toda uma nação.
Mas, no governo do PT, que se diz pró povo, só se for em suas campanhas promocionais, pois a corrupção se generalizou de tal forma que muitos já a acham normal. Ainda bem que cada vez mais as pessoas estão abrindo os olhos e enxergando a verdade. Os que não a vêm estão com uma venda tapando os olhos, deslumbrados pela ninharia que ganham com o bolsa família, penso eu.
Com isto, quero dizer que tanto Médici como o PT de Dilma e Lula são ruins para a nação brasileira, mesmo guardando as devidas proporções de suas diferenças orgânicas. O bolsa família, que era um programa com vínculo educativo, parece ter se tornado uma maneira de se comprar votos da classe menos favorecida. O que é isto, minha gente?
Ao começar a me enfurecer com estes pensamentos, na mesma segunda, dia 23 de junho, em que as seleções da Holanda e do Brasil jogaram por um lugar nas oitavas de final, volto a refletir sobre uma pequena capela dos padres franciscanos, na histórica cidadezinha portuguesa de Évora, quase na divisa com a Espanha.
Impresso na fachada de entrada da capela os seguintes dizeres: “Nós, ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”. Tive que ler duas vezes para entender o que estava ali ... era como se os próprios ossos dissessem aquilo. Lá dentro, o meu queixo caiu: as paredes e as colunas estavam todas revestidas de ossos, esqueletos e crânios, de cima a baixo.
Eram ossos que haviam sido recolhidos dos cemitérios que existiam antes à volta das igrejas. Em um determinado momento, esses cemitérios foram proibidos e os franciscanos resolveram coletá-los e erguer aquela capela com o seguinte propósito: refletir sobre a morte - o nosso fim comum nesta vida!
Espertos esses franciscanos. Deram um fim útil aos ossos que iam ser jogados no lixo ou incinerados em uma grande vala, para lembra-los e lembrar-nos da fragilidade da vida humana nesta fase terrena, se é que existe mesma a outra, e fazer com que reflitamos sobre a absurdidade de muitas de nossas ações em detrimento de nossos semelhantes.
A vida é relativa, queriam dizer os franciscanos, com a sua famosa capela dos ossos em Évora. Nada mais, nada menos. Existem muito a ser pensado, refletido, e não se deixe levar pelas ações maléficas que prejudicam os outros. Portanto, sem torcer para a seleção que jogou ontem à noite para a oitava fase, olho um pouco à frente, para as eleições de outubro e me pergunto: a vitória do Brasil na copa poderá influir na reeleição de Dilma para presidente?
Eu, pessoalmente, acredito que sim. Portanto, contrariando as minha vísceras digo que não quero que o Brasil fique em primeiro lugar, mas em segundo. Talvez com isto, um jovem qualquer possa me xingar de impatriota, mas um dia, tudo se encaixa, aqui ou embaixo da terra, pois a capela dos franciscanos de Évora, não tem mais lugar para ossos!
Não pensava em futebol enquanto caminhava na segunda, dia 23 de junho, com o meu cão pela manhã. Mas, a cada encontro, a pergunta era a mesma: se o Brasil enfrentar a Holanda, para quem você torce? A resposta, para o espanto dos meus conhecidos holandeses, era uma só: pela seleção brasileira é claro.
Mais tarde, já só, ao refletir um pouquinho mais, a minha resposta já não estava tão segura, pois quilos de ponderações e cautela colocavam-me em dúvida. Não queria que políticos se aproveitassem do sucesso de nossa seleção. Com isto, queria dizer que iria torcer contra? Não, pois só de pensar assim as minhas vísceras se contorciam revoltadas, horrorizadas. Não torcer seria melhor.
Ai, lembrei-me de um ente familiar querido que me deu o exemplo por ocasião em que o Brasil venceu a copa de 1970, durante a presidência do general Emílio Garrastazu Médici. Quando a seleção voltou ao Brasil, o general e a esposa apertaram a mão de cada jogador e todo o departamento técnico da equipe. Este membro de minha família então dizia: "Sou, sem dúvida pela seleção, mas, neste excepcional momento, sou contra porque não quero que os militares se aproveitem da situação".
Jovem, ouvi aquilo com espanto e perguntei: “Como pode? Quantas vezes não vimos o Médici com um radio de pilha no ouvido e assistindo ao jogo no Maracanã? Apesar de presidente, ele também é torcedor". A resposta era a mesma: "Você é ainda muito jovem e não entende das coisas”. Isto me deixava um “arara” ( muito bravo), como dizíamos lá em Franca.
Hoje, sem querer comparar o governo do PT com o governo militar de então, consegui finalmente entender o pensamento daquele membro da minha família. O governo militar era horrível, usurpava o direito democrático de toda uma nação.
Mas, no governo do PT, que se diz pró povo, só se for em suas campanhas promocionais, pois a corrupção se generalizou de tal forma que muitos já a acham normal. Ainda bem que cada vez mais as pessoas estão abrindo os olhos e enxergando a verdade. Os que não a vêm estão com uma venda tapando os olhos, deslumbrados pela ninharia que ganham com o bolsa família, penso eu.
Com isto, quero dizer que tanto Médici como o PT de Dilma e Lula são ruins para a nação brasileira, mesmo guardando as devidas proporções de suas diferenças orgânicas. O bolsa família, que era um programa com vínculo educativo, parece ter se tornado uma maneira de se comprar votos da classe menos favorecida. O que é isto, minha gente?
Ao começar a me enfurecer com estes pensamentos, na mesma segunda, dia 23 de junho, em que as seleções da Holanda e do Brasil jogaram por um lugar nas oitavas de final, volto a refletir sobre uma pequena capela dos padres franciscanos, na histórica cidadezinha portuguesa de Évora, quase na divisa com a Espanha.
Impresso na fachada de entrada da capela os seguintes dizeres: “Nós, ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”. Tive que ler duas vezes para entender o que estava ali ... era como se os próprios ossos dissessem aquilo. Lá dentro, o meu queixo caiu: as paredes e as colunas estavam todas revestidas de ossos, esqueletos e crânios, de cima a baixo.
Eram ossos que haviam sido recolhidos dos cemitérios que existiam antes à volta das igrejas. Em um determinado momento, esses cemitérios foram proibidos e os franciscanos resolveram coletá-los e erguer aquela capela com o seguinte propósito: refletir sobre a morte - o nosso fim comum nesta vida!
Espertos esses franciscanos. Deram um fim útil aos ossos que iam ser jogados no lixo ou incinerados em uma grande vala, para lembra-los e lembrar-nos da fragilidade da vida humana nesta fase terrena, se é que existe mesma a outra, e fazer com que reflitamos sobre a absurdidade de muitas de nossas ações em detrimento de nossos semelhantes.
A vida é relativa, queriam dizer os franciscanos, com a sua famosa capela dos ossos em Évora. Nada mais, nada menos. Existem muito a ser pensado, refletido, e não se deixe levar pelas ações maléficas que prejudicam os outros. Portanto, sem torcer para a seleção que jogou ontem à noite para a oitava fase, olho um pouco à frente, para as eleições de outubro e me pergunto: a vitória do Brasil na copa poderá influir na reeleição de Dilma para presidente?
Eu, pessoalmente, acredito que sim. Portanto, contrariando as minha vísceras digo que não quero que o Brasil fique em primeiro lugar, mas em segundo. Talvez com isto, um jovem qualquer possa me xingar de impatriota, mas um dia, tudo se encaixa, aqui ou embaixo da terra, pois a capela dos franciscanos de Évora, não tem mais lugar para ossos!
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da Fala Brasil e trabalhou 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Dom Total.
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