sexta-feira, 20 de junho de 2014

O lixão da idiotice humana

As redes sociais tornaram-se, talvez prematuramente, um depósito de imbecilidades.

Por Carlos Eduardo Leão*

Para começo de conversa, sou assíduo usuário do Facebook, Instagram, Twitter e, mais recentemente, WhatsApp. Por isso escrevo com total autoridade sobre esse assunto que, ultimamente, tem me levado a profundas reflexões despertadas principalmente por dois comentários feitos recentemente por minha mãe, no auge dos seus oitenta, fase da sabedoria  e das percepções aguçadas, muito próprias dessa época da existência humana. "Meu filho, comprei esse IPad para me sentir incluída". E, pior, "Meu filho, se existisse reencarnação eu gostaria de voltar o seu IPad para ter mais a sua atenção".

As redes sociais apareceram na vida do século XXI com a finalidade de interagir pessoas, permitindo aos usuários a concreta possibilidade de rever amigos, conversar com eles, acompanhar fatos e notícias, além, claro, de ampliar o universo social conhecendo novos indivíduos e trocando com eles experiências, conhecimentos e estilos que marcam a convivência humana. Além do fascínio que o novo desperta em todos nós existe hoje uma necessidade imperiosa de estarmos a par e passo com a modernidade sob pena de sermos taxados "old-fashioned" ou, pior, de não estarmos "incluídos".

Embora inveterado usuário, confesso que os utilizo dentro dessa máxima premissa mas confesso igualmente que tenho ficado chocado com o "non sense" de grande parte de seus membros. É  tanta idiotice, tanta futilidade, tanto absurdo que acessar o Facebook ou Instagram passou a ser para mim um momento de diversão com as coisas mais toscas e inacreditáveis que lá são postadas.

"Indo tomar banho" ou "De pijama na cama. Boa noite" ou ainda "Dorzinha de cabeça. Alguém tem Doril?" Fotos de prato de comida com os seguintes dizeres: "Galinha com quiabo. Tudo de bom. Amo." Muito comum, também, são fotos em piscina ou praias em que o usuário, deitado numa espreguiçadeira, faz um "selfie" do pé e posta "Relax total". Tosco demais,concordam? Também freqüentes são as fotografias de automóveis com o "headline" em "Caps lock": "PRESENTE DE DEUS". Inapropriado, permitam-me? E jeca, sobretudo. Isso sem falar nas declarações de amor explícitas e em tom forçado como se o Facebook fosse o espaço ideal para expressões de foro íntimo.

Os "posts" religiosos com fortes tendências ao fanatismo se amontoam contrapondo-se às mais picantes das piadas. Frases e textos dos mais diferentes temas são imputados a autores que, muitas vezes, exigem retratação das Redes por serem inveridicas e levianas as suas autorias. Os comentários destas ou outras publicações por muitas vezes descambam para baixarias antológicas entre os comentaristas onde se lê xingamentos e palavras de baixíssimo calão. Os convites para os mais variados jogos tipo Candy Crush, Dragon City e assemelhados viraram febre na Rede. Todo mundo joga e os que não foram contaminados, como eu, ficam ilhados ante uma maioria entorpecida.

Não tenho dúvida da importância da Redes Sociais  na sociedade moderna, incluída e conectada. A informação nos dias de hoje exerce papel determinante e irreversível no mundo contemporâneo sem a qual sucumbiremos ao retrocesso. Entretanto, os conceitos e os pilares que sustentam a existência delas estão fortemente desvirtuados em razão de um pensamento equivocado, fútil, mundano e, principalmente, irresponsável por parte dos usuários que está levando ao descrédito toda uma ideia de extraordinária concepção.

Dito isso, confesso aos que me leem que tenho me sentido um tanto desconfortável ao fazer parte do clube. E, pior, um desconforto muito maior de quando não engrossava as fileiras de seus usuários. Fico com a nítida impressão de que o tempo que tenho dedicado a ele merece coisa melhor, mais consubstanciada e mais enriquecedora. Por essa máxima razão estou revendo os meus conceitos sobre Facebook e Instagram ou melhor, "Facegram", como diz o meu fraternal amigo, Antônio Celso Ribeiro, que o conceitua como "o odioso destruidor de convivência".
*Carlos Eduardo Leão é médico e cronista.

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