O grande lance da vinda da expedição modernista a Minas, em 1924, foi a redescoberta do barroco mineiro.
Em 1924, há 90 anos, chegavam a Minas Gerais os modernistas paulistas, que fariam uma espécie de "expedição cultural" pelas cidades históricas (Sabará, Ouro Preto, Congonhas do Campo, São João Del Rei, Tiradentes etc.). Faziam parte do grupo os poetas Mário e Oswald de Andrade, Paulo Prado – de influente família de São Paulo, cafeicultor, mecenas e escritor –, D. Olívia Guedes Penteado – também da aristocracia paulista e grande incentivadora do modernismo –, a pintora Tarsila do Amaral e Blaise Candrars – um globe-trotter, um poeta suiço-francês, herói da 1ª Guerra Mundial (perdeu o braço direito no conflito) e aventureiro total. Em BH, ficaram todos hospedados no Grande Hotel, na Rua da Bahia (onde hoje fica o Edifício Malleta).
O grande lance da viagem foi a redescoberta do barroco mineiro, particularmente das obras do Aleijadinho (o escultor Antônio Francisco Lisboa, que viveu no século XVIII); mas também o convívio com as linhas de nossa arquitetura colonial e as cores de nossa paisagem, com os costumes e as tradições do estado. Receberam os paulistas aqui Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Emílio Moura e outros do grupo também modernista da ainda provinciana BH.
Impacto lá, impacto cá: a Minas do passado saltou para dentro da poesia de Oswald (leia-se o seu “Roteiro das Minas”) e da pintura de Tarsila (ela fez inúmeros desenhos das cidades visitadas e absorveu as cores fortes que viu por aqui). Já os então jovens escritores mineiros ficaram muito impressionados com os paulistas (“O Oswald cintilava conversando. Nós o ouvíamos tomados da maior admiração”, diria mais tarde Nava nas suas memórias) e um importante intercâmbio cultural “café-com-leite” foi estabelecido.
Drummond afirmaria numa crônica que a passagem dos paulistas por Minas foi “a nossa Semana de Arte Moderna”, ou seja, um encontro fundamental para a sua própria evolução literária e de toda a turma que se reunia nos cafés de BH, para discutir e buscar um novo rumo para a literatura que começavam a produzir. Pouco depois da viagem, em 1925, surgia na capital mineira “A Revista”, publicação porta-voz do grupo; e, em 1927, a “Verde”, em Cataguases, no interior do estado, sob a liderança de Rosário Fusco.
"Ide a São João del Rei/de trem/como os paulistas foram/a pé de ferro” – escreveu Oswald no poema "Convite", o primeiro da série sobre Minas no seu livro “Pau Brasil”. Ele e seus companheiros paulistas, além do aventureiro Cendrars, com suas kodaks e klaxons, redescobriram e redimensionaram a Minas barroco-lírica e montanhosa, "onde o oculto do mistério se escondeu" (como canta o Caetano).
Mais tarde, já no final da década de 1930, em pleno governo Vargas, graças aos modernistas paulistas e mineiros – com destaque para Mário de Andrade (autor do anteprojeto) e para o então contista Rodrigo de Melo Franco (seu diretor por longos anos) – foi criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o SPHAN (hoje IPHAN), que assegurou a preservação de nosso barroco. Vários intelectuais integraram o quadro de colaboradores do órgão (entre eles, o poeta Manuel Bandeira e o arquiteto Lúcio Costa). Drummond, jornalista e funcionário público durante toda a sua vida, acabou se aposentando no Patrimônio.
De certa forma, o órgão de defesa de nosso patrimônio foi fruto daquela histórica e marcante viagem dos modernistas a Minas, que, agora, está completando 90 anos.
O grande lance da viagem foi a redescoberta do barroco mineiro, particularmente das obras do Aleijadinho (o escultor Antônio Francisco Lisboa, que viveu no século XVIII); mas também o convívio com as linhas de nossa arquitetura colonial e as cores de nossa paisagem, com os costumes e as tradições do estado. Receberam os paulistas aqui Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Emílio Moura e outros do grupo também modernista da ainda provinciana BH.
Impacto lá, impacto cá: a Minas do passado saltou para dentro da poesia de Oswald (leia-se o seu “Roteiro das Minas”) e da pintura de Tarsila (ela fez inúmeros desenhos das cidades visitadas e absorveu as cores fortes que viu por aqui). Já os então jovens escritores mineiros ficaram muito impressionados com os paulistas (“O Oswald cintilava conversando. Nós o ouvíamos tomados da maior admiração”, diria mais tarde Nava nas suas memórias) e um importante intercâmbio cultural “café-com-leite” foi estabelecido.
Drummond afirmaria numa crônica que a passagem dos paulistas por Minas foi “a nossa Semana de Arte Moderna”, ou seja, um encontro fundamental para a sua própria evolução literária e de toda a turma que se reunia nos cafés de BH, para discutir e buscar um novo rumo para a literatura que começavam a produzir. Pouco depois da viagem, em 1925, surgia na capital mineira “A Revista”, publicação porta-voz do grupo; e, em 1927, a “Verde”, em Cataguases, no interior do estado, sob a liderança de Rosário Fusco.
"Ide a São João del Rei/de trem/como os paulistas foram/a pé de ferro” – escreveu Oswald no poema "Convite", o primeiro da série sobre Minas no seu livro “Pau Brasil”. Ele e seus companheiros paulistas, além do aventureiro Cendrars, com suas kodaks e klaxons, redescobriram e redimensionaram a Minas barroco-lírica e montanhosa, "onde o oculto do mistério se escondeu" (como canta o Caetano).
Mais tarde, já no final da década de 1930, em pleno governo Vargas, graças aos modernistas paulistas e mineiros – com destaque para Mário de Andrade (autor do anteprojeto) e para o então contista Rodrigo de Melo Franco (seu diretor por longos anos) – foi criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o SPHAN (hoje IPHAN), que assegurou a preservação de nosso barroco. Vários intelectuais integraram o quadro de colaboradores do órgão (entre eles, o poeta Manuel Bandeira e o arquiteto Lúcio Costa). Drummond, jornalista e funcionário público durante toda a sua vida, acabou se aposentando no Patrimônio.
De certa forma, o órgão de defesa de nosso patrimônio foi fruto daquela histórica e marcante viagem dos modernistas a Minas, que, agora, está completando 90 anos.
*Carlos Ávila é poeta e jornalista. Publicou, entre outros, Bissexto Sentido e Área de Risco (poesia); Poesia Pensada (crítica) e Bri Bri no canto do parque (infantil). Foi, por quatro anos (1995/98), editor do “Suplemento Literário de Minas Gerais”. Trabalhou também na Rede Minas de Televisão e foi editor do caderno de cultura do jornal “Hoje em Dia”. Participou de mais de vinte antologias no país e no exterior.
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