terça-feira, 8 de julho de 2014

Alemão se apaixona pelo Brasil e estuda línguas indígenas do país

Matthias Nitsch vive em SP e diz que brasileiro deveria valorizar sua cultura.
Ele está indeciso sobre jogo com Alemanha: 'Vou torcer para os dois'.

Gabriela GasparinDo G1, em São Paulo
Matthias Nitsch posa fazendo embaixadinhas (Foto: Caio Kenji/G1)Matthias Nitsch posa fazendo embaixadinha: 'Vou
torcer para os dois' (Foto: Caio Kenji/G1)
A ligação do alemão Matthias Nitsch, de 30 anos, com o Brasil começou na adolescência, quando ele se interessou pelo país nas aulas de geografia. O interesse o levou a fazer intercâmbio em Minas Gerais aos 17 anos, a formar-se em linguística brasileira na Alemanhae a se especializar em línguas indígenas do Brasil. Atualmente vive em São Paulo, namora uma mineira e garante que nunca irá parar de estudar o país.

“Com certeza tudo que eu fizer no futuro vai ser relacionado ao Brasil, à língua portuguesa e ao Brasil”, afirmou.

E por valorizar tanto a cultura brasileira, Nitsch não conseguiu sequer decidir para qual time vai torcer nesta terça-feira (8), na partida entre Brasil e Alemanha pela Copa do Mundo.
“Vou torcer para os dois. No fundo quero que o Miroslav Klose faça pelo menos um gol [para tornar-se o maior artilheiro de gols em mundiais], mas eu vou ficar feliz em ver um jogo muito legal e muito disputado. Vou vestir minha camisa alemã e estar em um grupo grande de brasileiros, isso é o que importa”, disse.
G1 publica série de histórias de imigrantes de países que jogam contra o Brasil na Copa. Leia as reportagens da CroáciaMéxico,CamarõesChile e Colômbia.

Por gostar tanto da diversidade e miscigenação brasileira, Nitsch avalia, inclusive, que os próprios brasileiros deveriam sentir mais orgulho de sua história e cultura.

“Estima-se que há 500 anos, antes de o Brasil ser descoberto, havia por volta de 1.100 línguas indígenas no Brasil. Esse número diminuiu bastante, houve um colapso tanto de etnias quanto de línguas indígenas por casa da colonização, e hoje há quase 200 línguas. Elas foram sendo dizimadas por vários fatores, doenças, guerras. Até hoje existe genocídio quando você vê os conflitos por causa hidrelétricas, fazendeiros, madeireiros entrando em terras indígenas, exercendo pressão sobre as etnias. Até hoje esse processo continua."
Para ele, muitos brasileiros às vezes não reconhecem o valor da cultura do país. "Falta consciência para muitas coisas, como o meio ambiente, as riquezas naturais, culturais. É uma pena ver que isso é pouco valorizado", sugeriu.
No meio dessa Copa [de futebol] eu digo que tem a ‘Copa das Contradições’. Antes dos jogos tinha muitos protestos, muitos brasileiros se conscientizando das condições sociais."
Matthias Nitsch
'Aventura'
Segundo Nitsch, não foi uma paixão mas sim o espírito de aventura que o trouxe pela primeira vez para o Brasil, em 2001. “Nessa época, era muito comum os meus colegas fazerem intercâmbio nos Estados Unidos, em países do exterior onde se falava inglês. Eu queria fazer outra coisa, como uma aventura. A gente tinha aula de geografia muito interessante na escola, que falava sobre o Brasil, sobre a floresta amazônica, a construção de Brasília, e extração de minério nas terras dos Carajás”, afirmou.

Para conhecer melhor o país, ele fez um intercâmbio escolar de um ano na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), período no qual morou na casa de uma família brasileira. “Eu cheguei no Brasil sem falar português, sem conhecer o Brasil. Desenvolvi grande interesse pela cultura e decidi continuar com isso”, afirmou.
Os alemães Matthias Nitsch e Eckart Michael Pohl (Foto: Caio Kenji/G1)Os alemães Matthias Nitsch e Eckart Michael Pohl
(Foto: Caio Kenji/G1)
De acordo com ele, a experiência o motivou a aprender melhor o português e a dar continuidade aos estudos sobre o Brasil na Alemanha. “Resolvi estudar linguística na Universidade de Colônia, na Alemanha, e fazer curso voltado para o português”, disse – o curso que fez é de Ciências Regionais da América Latina, com foco em linguística brasileira.
Durante o curso, voltou para o Brasil entre 2008 e 2009, onde direcionou seus estudos para a língua indígena e estudou uma etnia indígena que está chegando ao fim, chamada Krenak, que vive no Vale do Rio Doce, entre Minas Gerais e o Espírito Santo. “Hoje em dia essa língua indígena que tem por volta de dez falantes, todo mundo com mais de 60 anos”, esclareceu.

Nitsch terminou o curso no final do ano passado e retornou para o Brasil neste ano para um estágio de seis meses na Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, onde trabalha na parte de comunicação.

Apesar de ser apaixonado pelo Brasil, o alemão disse acreditar que ainda há muito a melhorar no país e disse ter achado importante os protestos que aconteceram recentemente no país, antes da Copa do Mundo.

“No meio dessa Copa [de futebol] eu digo que tem a ‘Copa das contradições’. Porque antes dos jogos tinha muitos protestos, muitos brasileiros se conscientizando das condições sociais. Isso foi interessante para os alemães, falamos, ‘olha só, estão lutando pelos ideais (...). Tenho medo de esquecer esse lado também”, ressaltou.
O publicitário Eckart Michael Pohl, de 52 anos (Foto: Caio Kenji/G1)O publicitário Eckart Michael Pohl, de 52 anos
(Foto: Caio Kenji/G1)
Publicitário faz 25 anos de Brasil
A opinião do jovem alemão é parecida com a do publicitário Eckart Michael Pohl, de 52 anos, imigrante alemão que neste ano completa 25 de vida no Brasil.
“Gosto muito da espontaneidade, do jeito aberto das pessoas brasileiras, as paisagens são muito bonitas. Claro que adoro a praia, mas adoro também o interior, o sertão, o Pantanal é fascinante, é um país lindo. Os brasileiros poderiam ser mais orgulhos e cuidar mais do país, porque com esse orgulho vem automaticamente a preocupação”, afirmou.
Pohl veio para o Brasil após apaixonar-se por uma brasileira que conheceu na Alemanha. Eles se casaram e tiveram dois filhos em São Paulo. Mesmo após o fim do casamento, Pohl contou que nunca conseguiu voltar a viver na Alemanha. Chegou a ter um convite de uma grande empresa para trabalhar lá, mas optou por ficar perto dos filhos. “Foi uma decisão pessoal, eu não queria virar pai-tio, que mora muito longe, que só vê os filhos nas férias, uma ou duas vezes por ano. E eu sempre gostei muito do Brasil”, afirmou.
Nesta terça Pohl combinou de assistir o jogo com amigos brasileiros. “Vou ser o único alemão no grupo. Vou assistir o jogo em conjunto, mas vou torcer para a Alemanha”, disse.
Os alemães Matthias Nitsch e Eckart Michael Pohl (Foto: Caio Kenji/G1)Os alemães Matthias Nitsch e Eckart Michael Pohl posam juntos em meio à decoração dividida entre Brasil e Alemanha (Foto: Caio Kenji/G1)
Eckart Michael Pohl mostra orgulhoso uma bandeira da Alemanha (Foto: Caio Kenji/G1)Eckart mostra orgulhoso uma bandeira de seu país (Foto: Caio Kenji/G1)

Nenhum comentário:

Postar um comentário