terça-feira, 22 de julho de 2014

Gambá cheira gambá

O homem forte do Kremlin está sob uma enorme pressão do ocidente e procura ajuda por todos os lados.

Por Lev Chaim*

Vladimir Putin esteve no Brasil em busca de um apoio mais direto e menos passivo dos cinco países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Isto, devido às novas sanções de Washington e União Europeia contra o seu país, em virtude da imersão russa no conflito Ucraniano, lembrando ainda que o Kremlin já tomou a Criméia de Kiev.

O homem forte do Kremlin, que era espião da KGB, está sob uma enorme pressão do ocidente e procura ajuda por todos os lados. A isto acrescenta-se a derrubada do avião de passageiros da Malásia Airlines em território ucraniano, onde toda a culpa parece recair sobre os rebeldes separatistas pró-Rússia, que foram armados pelo Kremlin.

Tudo será bem vindo. O homem que reina sobre um império em total desaceleração, apesar de estar montado em bacias de petróleo e gás natural, está se deixando abater pelas pressões externas e internas por causa da Ucrânia. Todos querem uma investigação independente sobre a queda daquele avião que matou 298 pessoas inocentes.

Podem estar certos que as sanções econômicas contra a Rússia estão pesando diretamente no círculo íntimo de Putin: bilionários que ganharam fortunas através de vantagens do governo em Moscou, logo após a queda do império soviético. Agora que suas contas e suas mobilidades financeiras estão sendo ameaçadas, eles também começam a pressionar o homem forte do Kremlin.

E Putin está agindo. Acaba de fechar um acordo com os seus pares no Brasil para montar um banco e fazer frente ao Banco Mundial. Até ai tudo bem. Quantos bancos não existem e uma concorrência nunca fez mal a ninguém. Mas, atrás da ideia, está a criação de um fundo de reserva para uso exclusivo dos governos que o formaram, ou seja, objetivo político.  Quem paga por tudo isto? Os impostos, o povo. Em vez canalizar verbas para a saúde ou educação, eles foram montar um banco.

Sem falar ainda que para Putin isto não é o principal. O que ele quer mesmo é apoio para tentar fugir da pressão dos Estados Unidos e da Europa por não “ajudar” a encontrar uma solução pacífica para a vizinha Ucrânia. Mesmo porque, o homem forte do Kremlin, ao contrário dos governos do Brics, não necessita camuflar nada. O cofre do Estado ainda é seu e o judiciário de seu país está sob seu controle.

O primeiro fato novo, que Putin não previa, foi o baixo crescimento da economia russa, com a previsão de um PIB de 0,8% que, de uma forma ou de outra, acaba por debilitar as suas manobras e fragilizar o seu poder, além de levantar insatisfações internas. Ninguém governa só. Putin tem que dar alguma satisfação aos bilionários de seu círculo íntimo e manter um certo nível de satisfação para o povo.

E o segundo fato novo foi a derrubada recente do avião de passageiros da Malásia Airlines efetuada por separatistas ucranianos pró-Rússia, segundo as evidências até o momento. E esta pressão ocidental está atingindo moralmente o governo Putin e fazendo doer no bolso dos seus amigos bilionários.

Se você vir algum jornalista elogiando a atitude de Putin ter vindo ao Brasil, de ter criado o banco do Brics e ter prometido investimentos energéticos de bilhões de dólares à Cuba, não acredite nos elogios. É politicagem, não é sério.  Sem dizer ainda que Dilma não poderia estar assinando nada controverso já que não está tão certa de se reeleger, não é mesmo?

Se vocês se lembram, foi Vladimir Putin quem mandou prender as garotas da banda Pussy Riot, por dois anos, porque protestavam em território russo, e os pacifistas do Greenpeace, porque lutavam contra a exploração russa de petróleo no Ártico. E assim ele faz com todos os seus opositores, russos, chechenos, brasileiros, holandeses ou de outra nacionalidade qualquer.

O grande imperador do Kremlin tem duas caras. Com uma, ele não só tomou território da Ucrânia, a Criméia, como também está inflamando o conflito dos separatistas ucranianos. Com a outra cara, ele promete ajuda para uma solução pacífica do conflito. O que a China acharia se alguém financiasse separatistas em seu país?

Elogios de alguns jornalistas à Vladimir Putin lembram-me os velhos “comunistas” europeus da antiga União Soviética. Enquanto o Kremlin promovia limpeza étnica em seus territórios, criava campos de trabalho forçado na Sibéria, invadia países satélites e muito mais, esses velhos “comunistas” europeus permaneciam mudos, sem críticas.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da Fala Brasil e trabalhou 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Dom Total.

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