26/09/2014 | domtotal.com
"É preciso dispor de enorme má-fé e comovente ignorância para comparar Dilma a Collor".
David Paiva*
Temos bons motivos para procurar alternativas em matéria de esporte. Penduramos as chuteiras e agora, além do vôlei, nos apaixonamos por outro esporte, que tende a ser o hit em certos grupos: o tiro a Dilma.
Dia desses parei atrás de um carro que exibia um espalhafatoso adesivo: “Fora Dillma!” A letra dupla, em verde-amarelo, fazia menção àquele Collor de Melo posto para correr da Presidência e que usou esse grafismo na sua campanha. O carro, sedã pequeno e barato, em cuja traseira a papagaiada estava grudada, certamente foi comprado com a ajuda substancial dos incentivos fiscais concedidos nos governos Lula e Dilma (conservadoramente eles acreditavam que só o setor automobilístico ativa a economia e garante empregos).
O ódio espumava naquele adesivo, mais um instrumento da orquestra de grosserias que xingou a presidente durante a Copa e xinga todo dia nas redes sociais. É preciso dispor de enorme má-fé e comovente ignorância para comparar Dilma a Collor. Até porque o eleitorado collorido, composto de gente de pouca informação e excesso de credulidade, engabelada com dinheiro a rodo, é o mesmo tipo de eleitorado que agora declara ódio a Dilma – ela é, portanto, o oposto de Collor. Esse eleitor alvoroçado dedica ao PT não só a sua discordância – o que é bem-vindo –, mas uma fobia.
Acusam Dilma, por exemplo, de liderar um governo corrupto. Mas onde a presidente foi pega de saia na mão? Quando ela foi conivente? Parece que fortalecer a ação da Polícia Federal e respeitar o Ministério Público, expondo o malfeito, significa ser corrupta, segundo as regras do tiro a Dilma. O fato de existirem petistas presos, politicamente destruídos, poderia ser lido, com mais senso de justiça e de lógica, como respeito às instituições e às decisões do Supremo.
Relatório da ONU divulgado semana passada aponta o Brasil como referência em políticas de combate à pobreza. Segundo o documento, a redução do número de vítimas da fome no país chegou a 50%; o êxito é atribuído a medidas como políticas de transferência de renda, compras diretas pelo governo da produção de pequenos agricultores e programas de capacitação técnica desses produtores. A representante adjunta da FAO para América Latina e Caribe, Eve Crowley, comentou: “[O Brasil] provou que um país grande pode reduzir a insegurança alimentar e ainda influenciar toda a região e o mundo”.
Este reconhecimento da ONU é um fato novo na nossa velha história de iniquidades sociais. Sabemos que a pior face do Brasil vem de longe – é da idade dos latifúndios da colonização, da escravatura como o maior negócio da colônia, da abolição como abandono e do Estado como patrimônio particular. Com acertos e erros, os últimos anos são os primeiros em que, por período relativamente longo, os governos têm claros objetivos populares; há coerência nas suas políticas para reduzir a desigualdade histórica.
Entre os méritos do PT está o bom senso de ter se negado a praticar ação de terra arrasada em relação ao governo FHC, apesar da conversa de “herança maldita”, expressão idiota de origem marqueteira. Na coluna das dívidas, o PT divide com o PSDB a não realização de uma profunda reforma política, ficando intocado o poder bandido da bancada parlamentar da chantagem, a tal “base”.
Nessa trilha de muitos desvios, é impossível negar que o PT está fazendo sua principal tarefa – enfrentar a pobreza. Qual é então o motivo para o tiro a Dilma? Para o ódio e para o horrendo adesivo? Democracia é evolução. Fora disso, vira laboratório de autoritarismos.
Temos bons motivos para procurar alternativas em matéria de esporte. Penduramos as chuteiras e agora, além do vôlei, nos apaixonamos por outro esporte, que tende a ser o hit em certos grupos: o tiro a Dilma.
Dia desses parei atrás de um carro que exibia um espalhafatoso adesivo: “Fora Dillma!” A letra dupla, em verde-amarelo, fazia menção àquele Collor de Melo posto para correr da Presidência e que usou esse grafismo na sua campanha. O carro, sedã pequeno e barato, em cuja traseira a papagaiada estava grudada, certamente foi comprado com a ajuda substancial dos incentivos fiscais concedidos nos governos Lula e Dilma (conservadoramente eles acreditavam que só o setor automobilístico ativa a economia e garante empregos).
O ódio espumava naquele adesivo, mais um instrumento da orquestra de grosserias que xingou a presidente durante a Copa e xinga todo dia nas redes sociais. É preciso dispor de enorme má-fé e comovente ignorância para comparar Dilma a Collor. Até porque o eleitorado collorido, composto de gente de pouca informação e excesso de credulidade, engabelada com dinheiro a rodo, é o mesmo tipo de eleitorado que agora declara ódio a Dilma – ela é, portanto, o oposto de Collor. Esse eleitor alvoroçado dedica ao PT não só a sua discordância – o que é bem-vindo –, mas uma fobia.
Acusam Dilma, por exemplo, de liderar um governo corrupto. Mas onde a presidente foi pega de saia na mão? Quando ela foi conivente? Parece que fortalecer a ação da Polícia Federal e respeitar o Ministério Público, expondo o malfeito, significa ser corrupta, segundo as regras do tiro a Dilma. O fato de existirem petistas presos, politicamente destruídos, poderia ser lido, com mais senso de justiça e de lógica, como respeito às instituições e às decisões do Supremo.
Relatório da ONU divulgado semana passada aponta o Brasil como referência em políticas de combate à pobreza. Segundo o documento, a redução do número de vítimas da fome no país chegou a 50%; o êxito é atribuído a medidas como políticas de transferência de renda, compras diretas pelo governo da produção de pequenos agricultores e programas de capacitação técnica desses produtores. A representante adjunta da FAO para América Latina e Caribe, Eve Crowley, comentou: “[O Brasil] provou que um país grande pode reduzir a insegurança alimentar e ainda influenciar toda a região e o mundo”.
Este reconhecimento da ONU é um fato novo na nossa velha história de iniquidades sociais. Sabemos que a pior face do Brasil vem de longe – é da idade dos latifúndios da colonização, da escravatura como o maior negócio da colônia, da abolição como abandono e do Estado como patrimônio particular. Com acertos e erros, os últimos anos são os primeiros em que, por período relativamente longo, os governos têm claros objetivos populares; há coerência nas suas políticas para reduzir a desigualdade histórica.
Entre os méritos do PT está o bom senso de ter se negado a praticar ação de terra arrasada em relação ao governo FHC, apesar da conversa de “herança maldita”, expressão idiota de origem marqueteira. Na coluna das dívidas, o PT divide com o PSDB a não realização de uma profunda reforma política, ficando intocado o poder bandido da bancada parlamentar da chantagem, a tal “base”.
Nessa trilha de muitos desvios, é impossível negar que o PT está fazendo sua principal tarefa – enfrentar a pobreza. Qual é então o motivo para o tiro a Dilma? Para o ódio e para o horrendo adesivo? Democracia é evolução. Fora disso, vira laboratório de autoritarismos.
*David Paiva cursou História na UFMG, foi redator publicitário e é escritor.
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