Não seria o caso dos ministros holandeses seguirem o exemplo e se reunirem ao redor do fogo?
Por Lev Chaim*
Durante o dia, a conversa dos homens da tribo girava em torno dos problemas econômicos e das fofocas. À noite, ao redor do fogo, a conversa tornava-se mais agradável, com histórias recentes, antigas e experiências da tribo. Esse par de horas à noite, ao redor do fogo, fez do homem um contador de histórias, o que resultou numa maior união entre os membros da aldeia dos Ju/’Hoansi , na Namíbia.
Foi a tese da antropóloga norte-americana, Polly Wiessner, da Universidade do Estado de Utah, ao avaliar anotações feitas em 1974, junto àquela tribo, onde morou por algum tempo. A diferença entre a conversa de dia e à noite, ao redor do fogo, obedecia a um padrão que valia também para outros povos caçadores.
O fogo, descoberto há quase um milhão de anos por acaso, como acredita-se na comunidade científica, talvez devido a um raio, começou a ser usado pelo homem para as suas atividades, há cerca de 400 mil anos. E o que mais me chamou a atenção nesta tese, publicada em partes pelo caderno científico do jornal holandês NRC Handelsblad, foi a revolução que o fogo causou na vida do homem.
São algumas peculiaridades que, muitas vezes, fogem à nossa compreensão. Com o fogo, criou-se também uma espécie de fogão para cozinhar alimentos, um lugar comum de refeições e uma série de outras melhorias para a saúde física e mental dos homens. O fogo à noite prolongou por algumas horas a claridade do dia, o que fez com que a produção de substâncias que induzem ao sono fosse retardada.
Mentalmente o homem tornou-se mais sociável ao ouvir e contar todas aquelas histórias e as noites frias ficaram mais amenas. E tudo isto, talvez, tenha estimulado mudanças de comportamento, como, por exemplo, uma maior compreensão para com o pensamento do outro.
O bate-papo ao redor do fogo propiciou um maior intercâmbio de ideias e uma transmissão mais acurada de costumes e da cultura da própria comunidade, de uma geração para outra. Tudo isto me chamou a atenção porque a Holanda, no momento, encontra-se numa encruzilhada que preocupa a todos.
A robotização da sociedade holandesa, não só na produção de carros, mas também no dia-a-dia da vida das pessoas, tal qual o robô-enfermeiro para conversar e cuidar de idosos, o robô-professor para alunos do ensino básico, apenas para começar, está causando estranheza em muitos.
Com toda essa tecnologia, mais pessoas perderão os empregos. Somente na área administrativa, 154 mil postos de trabalho foram perdidos porque aquelas funções estão sendo executadas por robôs. A isto, associa-se uma certa frieza, pois funções importantes estão sendo relegadas aos cuidados da máquina. Sem falar ainda que um dos melhores remédios para solidão e saúde é um bom bate-papo, cara a cara, e não com um robô, mesmo que ele seja inteligente.
A razão para tudo isto é uma só: economizar custos naqueles setores. E o partido trabalhista holandês, como se pode ver no seu próprio nome, está cada vez mais perdendo adeptos, devido a todas essas controvérsias, principalmente, a de participar de uma coalisão de governo que apoia, cada vez mais, ideias de robotização da sociedade.
Os que a defendem dizem que é como quando a televisão e o telefone foram inventados e causaram um certo impacto. Mas na minha opinião, aquelas invenções não roubaram o emprego de ninguém e foram apenas inovações pioneiras, que assustaram a princípio. Mas foram inovações que, com certeza, criaram mais empregos.
Não seria o caso dos ministros holandeses seguirem o exemplo daqueles caçadores e se reunirem em um bosque escuro ao redor do fogo? Experiências antropológicas também podem apontar soluções mágicas para o futuro do homem e seu trabalho. Não se pode privilegiar a máquina a qualquer custo!
Ao escrever tudo isto, pensei no resultado final do primeiro turno das eleições brasileiras. Até parece que grande parte da população resolveu se sentar ao redor do “fogo”, à noite, para votar de forma mais lúcida e cuidar melhor do futuro do país, rejeitando os desmandos desses anos todos. O “fogo”, mais uma vez, fez milagres e vai continuar fazendo!
Durante o dia, a conversa dos homens da tribo girava em torno dos problemas econômicos e das fofocas. À noite, ao redor do fogo, a conversa tornava-se mais agradável, com histórias recentes, antigas e experiências da tribo. Esse par de horas à noite, ao redor do fogo, fez do homem um contador de histórias, o que resultou numa maior união entre os membros da aldeia dos Ju/’Hoansi , na Namíbia.
Foi a tese da antropóloga norte-americana, Polly Wiessner, da Universidade do Estado de Utah, ao avaliar anotações feitas em 1974, junto àquela tribo, onde morou por algum tempo. A diferença entre a conversa de dia e à noite, ao redor do fogo, obedecia a um padrão que valia também para outros povos caçadores.
O fogo, descoberto há quase um milhão de anos por acaso, como acredita-se na comunidade científica, talvez devido a um raio, começou a ser usado pelo homem para as suas atividades, há cerca de 400 mil anos. E o que mais me chamou a atenção nesta tese, publicada em partes pelo caderno científico do jornal holandês NRC Handelsblad, foi a revolução que o fogo causou na vida do homem.
São algumas peculiaridades que, muitas vezes, fogem à nossa compreensão. Com o fogo, criou-se também uma espécie de fogão para cozinhar alimentos, um lugar comum de refeições e uma série de outras melhorias para a saúde física e mental dos homens. O fogo à noite prolongou por algumas horas a claridade do dia, o que fez com que a produção de substâncias que induzem ao sono fosse retardada.
Mentalmente o homem tornou-se mais sociável ao ouvir e contar todas aquelas histórias e as noites frias ficaram mais amenas. E tudo isto, talvez, tenha estimulado mudanças de comportamento, como, por exemplo, uma maior compreensão para com o pensamento do outro.
O bate-papo ao redor do fogo propiciou um maior intercâmbio de ideias e uma transmissão mais acurada de costumes e da cultura da própria comunidade, de uma geração para outra. Tudo isto me chamou a atenção porque a Holanda, no momento, encontra-se numa encruzilhada que preocupa a todos.
A robotização da sociedade holandesa, não só na produção de carros, mas também no dia-a-dia da vida das pessoas, tal qual o robô-enfermeiro para conversar e cuidar de idosos, o robô-professor para alunos do ensino básico, apenas para começar, está causando estranheza em muitos.
Com toda essa tecnologia, mais pessoas perderão os empregos. Somente na área administrativa, 154 mil postos de trabalho foram perdidos porque aquelas funções estão sendo executadas por robôs. A isto, associa-se uma certa frieza, pois funções importantes estão sendo relegadas aos cuidados da máquina. Sem falar ainda que um dos melhores remédios para solidão e saúde é um bom bate-papo, cara a cara, e não com um robô, mesmo que ele seja inteligente.
A razão para tudo isto é uma só: economizar custos naqueles setores. E o partido trabalhista holandês, como se pode ver no seu próprio nome, está cada vez mais perdendo adeptos, devido a todas essas controvérsias, principalmente, a de participar de uma coalisão de governo que apoia, cada vez mais, ideias de robotização da sociedade.
Os que a defendem dizem que é como quando a televisão e o telefone foram inventados e causaram um certo impacto. Mas na minha opinião, aquelas invenções não roubaram o emprego de ninguém e foram apenas inovações pioneiras, que assustaram a princípio. Mas foram inovações que, com certeza, criaram mais empregos.
Não seria o caso dos ministros holandeses seguirem o exemplo daqueles caçadores e se reunirem em um bosque escuro ao redor do fogo? Experiências antropológicas também podem apontar soluções mágicas para o futuro do homem e seu trabalho. Não se pode privilegiar a máquina a qualquer custo!
Ao escrever tudo isto, pensei no resultado final do primeiro turno das eleições brasileiras. Até parece que grande parte da população resolveu se sentar ao redor do “fogo”, à noite, para votar de forma mais lúcida e cuidar melhor do futuro do país, rejeitando os desmandos desses anos todos. O “fogo”, mais uma vez, fez milagres e vai continuar fazendo!
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Dom Total.
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