26/11/2014 | domtotal.com
Nossa pátria-mãe, de exemplos e socorros, historicamente mostrou que os destinos nossos se entrelaçam, para o bem e para o mal.
Portugal, sem favor algum, merece o título de pátria-mãe do Brasil, pela descoberta, povoação, exploração, frutificação de uma cultura própria e opulenta, independência, República, Democracia. Não há momento da vida nacional em que o luso não se misture à articulação e sucesso das principais empreitadas da formação e desenvolvimento da nacionalidade. Da tradição ibérica herdamos nossas instituições, embora não tenhamos sido capazes, ainda, de adotar o parlamentarismo, essa forma de governo que favorece o administrador probo, capaz, eficiente e acreditado.
O ex-premiê luso, José Sócrates, que esteve à frente da Administração Pública das terras de D. Afonso Henriques no período de 2005 a 2011, é acusado de fraude fiscal, corrupção e lavagem de dinheiro, estando preso por ordem judicial, em caráter cautelar. Com o ex-primeiro-ministro foram, também, presos três dos seus mais próximos auxiliares ou amigos: Carlos Santos Silva, empresário; Gonçalo Trindade Ferreira, advogado; João Perna, motorista.
As prisões foram decretadas ao longo de investigações sérias, durante as quais José Sócrates foi interrogado, sem qualquer constrangimento por sua posição precedente, ou pelo fato de suas ocupações atuais. A existência de movimentações financeiras incompatíveis com a renda declarada foi determinante para o encaminhamento das investigações e seus desdobramentos. Um estilo de vida superior às possibilidades de seus ganhos declarados chama a atenção, embora possa haver explicações honestas.
O relevante, no que ocorre em Portugal, não é a prisão em si, mas o sentimento de que não há nichos de exclusão à responsabilidade, por mais proeminente que seja o cidadão. Por evidente, um país que enfrenta, nos últimos anos, crise econômica grave, que se vê obrigado a medidas drásticas de adequação dos gastos de governo, cuja produção industrial não alenta, com corrupção grassando como praga nos jardins da cidadania, além de outras mazelas, tem sua credibilidade afetada. Tudo isso tem por único remédio o reforço dos mecanismos de Justiça estatal, diálogo público, transparência administrativa, rigor com as contas públicas e uma incomum disposição de sacrifício, inclusive de políticos e chegados do partido governante.
Nossa pátria-mãe, de exemplos e socorros, historicamente mostrou que os destinos nossos se entrelaçam, para o bem e para o mal. Apesar da diferença de regimes políticos, uma Nação sempre se viu afetada pela outra, pois há um sentimento comunitário que transcende limites territoriais. Se em família o mais velho ensina o mais novo, no concerto das Nações as experiências de além mar sempre tiveram, nos brasileiros, expectadores interessados, para o melhor e o pior. Que lições Portugal, desta vez, nos traz?
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