Jovem milionário de Manhattan mata o pai e pede uma dose de Valium durante o julgamento.
Por Marco Lacerda*
O charmoso universo de Thomas Gilbert Jr., de 30 anos, nunca foi muito amplo. Formado pela Universidade de Princeton, nos EUA, ele só costumava sair de sua casa em Manhattan para ir a festas do jet set nova-iorquino, museus, concertos sinfônicos ou para se bronzear no luxuoso balneário de Hampton onde, curiosamente, foi filmada a série de TV ‘Vingança’ (Revenge). Vivia das mesadas que recebia do pai, Thomas Gilbert Sr.
À primeira vista, parecia uma vida privilegiada. Mas, nos últimos tempos, Tommy andava endividado, sem emprego ou uma carteira de trabalho onde constassem antecedentes profissionais à altura do seu sobrenome e status social. A contrário, contra ele pesavam – e ainda pesam – suspeitas de um incêndio criminoso que destruiu uma mansão em Long Island, segundo a polícia local. Foi acusado de molestar amigos e sua mãe declarou às autoridades que ele tinha uma relação turbulenta com o pai, um alto executivo de Wall Street, além de um prontuário médico onde não faltam registros relacionados a perturbações mentais.
No começo de janeiro a história ganhou um desfecho violento digno das primeiras páginas de jornais do mundo inteiro. Ameaçado de ter sua mesada reduzida em algumas centenas de dólares, Gilbert irrompeu no apartamento da família na luxuosa Beekman St, na região leste de Manhattan, e matou o pai com um tiro. Imediatamente foi acusado de homicídio e preso sem direito a fiança.
Tommy apareceu de surpresa na residência dos Gilbert dizendo que precisava falar com o pai com urgência. Enquanto os dois conversavam, a mãe foi a um delivery chinês comprar algo para o filho comer. No caminho, porém, teve um mau pressentimento e retornou às pressas. Encontrou o corpo do marido, de 70 anos, estirado no chão com uma perfuração de bala na cabeça, conforme relatou à polícia. Sobre o peito do banqueiro havia uma pistola Glock calibre 40 com a mão esquerda do morto sobre a arma. A cena foi armada para simular um suposto suicídio, mas o revólver não estava numa posição que justificasse a hipótese de um ferimento auto-infligido.
Os detetives aguardaram do lado de fora do apartamento de Gilbert Jr. em Chelsea, pelo qual o pai pagava US 3 mil de aluguel, num edifício de seis andares sem elevador. Assim que uma luz se acendeu na casa, os policiais arrombaram a porta e encontraram balas e cartuchos vazios, além de 20 cartões de crédito em branco e um aparelho para forjar esse tipo de documento. Gilbert foi preso para interrogatório mas não abriu o bico sem a presença de um advogado.
O velho Thomas Gilbert formou-se nas escola de negócios de Harvard e Princeton, trabalhou em Wall Street por mais de 40 anos e abriu o Wainscott Capital Partners Fund em 2011, fundo com mais de US 2 bilhões em ativos. Tommy graduou-se em Princeton em 2009 com uma licenciatura em economia e tentava seguir os passos do pai, já tendo inclusive apresentado uma solicitação junto à Comissão de Valores e Bolsas para iniciar seu próprio fundo de investimento. Tudo foi interrompido por um ato de violência atípico numa região de Manhattan vizinha da sede das Nações Unidas.
Uma cartela de Valium
A pedra no sapato dos que frequentam o fechado mundo de Wall Street do qual Gilbert Sr. fazia parte incomoda sem explicação ou alívio até agora: um homem íntegro, rico e batalhador – de sorriso fácil e palavras gentis – foi assassinado e até hoje o motivo não foi desvendado.
Michael M. Thomas, amigo da família e ex-banqueiro transformado em escritor interessado nos costumes e Wall Street, disse em entrevista recente ao New York Times que já tem na ponta da língua o título do livro que pretende escrever sobre o assunto: “Órfãos de Pais Vivos”. Para Thomas, apesar dos clubes exclusivos, educação refinada e muitas outras coisas que o dinheiro pode comprar, entre os herdeiros dessa estratosfera social existirá sempre um sentimento de profunda solidão. Mesmo que, ao contrário do pai, Tommy tenha nascido numa cultura que desdenha o dinheiro, ele não demorou a passar pela transformação que o levaria a venerar a opulência.
Segundo amigos próximos que prestaram depoimentos à polícia, depois que terminou os estudos em Princeton, em 2009, Tommy passou a levar “uma vida sem rumo”, dedicando seu tempo a surfar, praticar ioga e a modelar o corpo em boas academias de Manhattan. E festas, muitas festas.
Havia algo estranho com o rapaz. Com 1 metro e 90 de altura, sempre impecavelmente vestido, cabelos loiros intencionalmente desgrenhados, onde quer que ele estivesse os olhares femininos voltavam-se na sua direção. Os mais chegados, porém, conheciam sua incapacidade de manter relacionamentos duradouros.
O comportamento de Tommy era errático. Calado, reservado, meio gago ele era capaz de constranger os presentes a uma festa ao bater boca com seu melhor amigo por causa de uma mulher, insultar atendentes nos clubes que frequentava ou cantar a jovem esposa de um velho banqueiro de Wall Street.
No último Natal Tommy surpreendeu os convidados ao chegar para uma ceia trazendo várias embalagens contendo comida chinesa, mesmo sabendo que um elaborado jantar seria servido. Comeu em silêncio as iguarias que comprara no caminho e foi embora sem se despedir de ninguém.
Sua atitude mais comprometedora, no entanto, aconteceu na primeira sessão do julgamento a que está sendo submetido e que promete arrastar-se por um bom tempo. Num dos intervalos, quando seu advogado lhe perguntou se ele gostaria de comer ou beber algo, Tommy pediu: “Uma cartela de Valium, por favor”.
O assassinato, segundo a Rede ABC. Veja o vídeo:
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Domtotal.
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