Em encontro, Ban Ki-moon elogiou esforços de Francisco pela preservação da natureza.
Por Joshua J. McElwee
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas elogiou os esforços do papa Francisco em abordar questões ambientais tais como as alterações climáticas, e disse que está contando com o apoio moral do pontífice nas iniciativas políticas para atacar o problema de frente.
Ban Ki-moon abriu uma conferência vaticana sobre o meio ambiente na terça-feira (28), após se encontrar em privado com Francisco no início da manhã – onde autoridades disseram que os líderes discutiram a encíclica sobre o meio ambiente, a ser publicada em breve.
Dizendo numa coletiva de imprensa que a ONU vem recebendo o apoio de líderes políticos e de organizações não governamentais do mundo todo para o combate às mudanças no clima, Ban Ki-moon falou: “O motivo por que estou vindo aqui é que, agora, eu preciso de apoio moral”.
“Não creio que os líderes religiosos deveriam ser cientistas”, continuou ele. Mas o que está claro, o que é importante... é mobilizar a vontade das pessoas e liderá-las” para o enfrentamento do problema.
Ban Ki-moon discursou durante um encontro no Vaticano sobre as alterações climáticas que está considerado como um momento importante antes da publicação da nova encíclica papal, esperada para sair em junho ou julho.
A conferência de um dia – intitulada “Proteger a Terra, Dignificar a Humanidade: As dimensões morais das mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável” – contou com discursos de Ban Ki-moon, de várias autoridades vaticanas e do economista americano Jeffrey Sachs, entre outros.
Francisco não participou do evento, que foi realizado pela Pontifícia Academia de Ciências.
Em sua alocução de abertura, o líder da ONU disse que estava “muito ansioso” para ver a nova encíclica papal e que ela “vai transmitir ao mundo a mensagem de que a proteção do nosso meio ambiente é um imperativo moral urgente e um dever sagrado de todas as pessoas de fé e de consciência”.
“É fundamentalmente importante que as pessoas e os seus líderes ouçam a forte voz moral de vocês nos próximos meses”, contou Ban Ki-moon aos líderes religiosos e cientistas que participavam do evento.
O chefe da ONU disse que Francisco lhe contou em seu encontro, na terça-feira pela manhã, que a próxima encíclica estava praticamente finalizada, precisando apenas ser traduzida para as várias línguas antes de poder ser publicada.
O Cardeal Peter Turkson falou depois de Ban Ki-moon. Turkson discursou sobre a necessidade daquilo que chamou de uma “mudança fundamental de curso” na forma como os humanos tratam a terra.
Hoje, com nossa imprudência estamos atravessando alguns dos limites naturais mais fundamentais do planeta”, disse Turkson, presidente do Pontifício Conselho “Justiça e Paz”. A mesma “tecnologia que nos trouxe enormes recompensas está, agora, prestes a causar uma grande ruína”.
Citando uma fala do Patriarca Ortodoxo Bartolomeu de que “cometer um crime contra o mundo natural é um pecado”, o cardeal disse que os líderes religiosos e morais precisam cultivar uma “conversão plena de corações e mentes, hábitos e estilos de vida, estruturas e instituições”.
Ao fazer referência a corporações e instituições financeiras – dizendo que “eles devem aprender a colocar a sustentabilidade a longo prazo antes do lucro a curto prazo, e reconhecer que o ponto de partida financeiro é secundário (...) ao bem comum” –, Turkson disse também que todos estão convocados a combater o problema.
“Toda a pessoa de boa vontade está convocada, por um chamado interior, a abraçar as virtudes pessoais que fundamenta o desenvolvimento sustentável”, disse o cardeal.
“Precisamos nos distanciar de uma paixão irracional pelo PIB e pelo zelo à acumulação”, continuou Turkson. “Precisamos aprender a trabalhar juntos no sentido do desenvolvimento sustentável, num contexto que relaciona a prosperidade econômica com a inclusão social e a proteção do mundo natural”.
O líder da ONU relacionou a publicação da encíclica com vários outros eventos sobre as alterações climáticas em 2015, dizendo que este deve ser um “ano para a ação global” de combate ao problema.
Dentre outros eventos deste ano está uma cúpula especial da ONU em setembro, onde líderes mundiais deverão desenvolver uma agenda para o desenvolvimento global pós-2015. Um dos seis temas propostos para o evento é “combater as mudanças climáticas e alcançar estilos de vida mais sustentáveis”.
Francisco deve discursar às Nações Unidas durante a sua visita aos EUA no dia 25 de setembro, o primeiro dia da cúpula. Ban Ki-moon disse que os discurso do papa será o primeiro de um pontífice a uma reunião de trabalho da ONU.
Líderes mundiais também devem se reunir em novembro e dezembro em Paris para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas 2015.
A encíclica do Papa Francisco sobre o meio ambiente já atraiu críticas de várias partes do mundo, vindas especialmente daqueles que expressam dúvidas sobre o amplo consenso científico relativo às alterações climáticas no mundo.
Dois destes grupos realizaram uma conferência de imprensa no Vaticano na segunda-feira (27), fortemente criticando o evento dessa terça-feira e buscando advertir Francisco para que se afaste deste assunto.
Em sua fala na terça-feira, Turkson também disse que os países mais ricos do mundo deveriam carregar a maior parte do fardo no combate aos efeitos das mudanças climáticas.
Ao fazer uma analogia de 10 pessoas que andam no deserto, onde dois no grupo tinham bebido a metade da reserva de água que possuíam, o cardeal disse: “Numa tal situação de desespero, os dois que beberam mais têm o dever moral de avançar na caminhada em busca de um oásis. Quando o encontrarem, têm o dever moral de orientar o resto do grupo até aí, garantindo que não se perca nenhuma vida”.
“Como essa mensagem sugere, os países mais ricos, aqueles que se beneficiaram mais dos combustíveis fósseis, estão moralmente obrigados a se colocarem à disposição e encontrarem soluções para as mudanças relacionadas ao clima e, assim, proteger o meio ambiente e a vida humana”, disse Turkson.
“Os cidadãos dos países mais ricos devem se colocar lado a lado com os pobres, tanto em seus próprios países quanto no mundo em geral”, disse. “Eles têm uma obrigação especial de ajudar os seus irmãos e irmãs nos países em desenvolvimento a lidar com as alterações climáticas, mitigando os seus efeitos e auxiliando-os na adaptação necessária”.
Ban Ki-moon também falou na terça-feira em uma coletiva de imprensa sobre as reuniões que teve esta semana na Itália com o primeiro-ministro Matteo Renzi sobre a crise dos migrantes que morrem buscando cruzar o Mar Mediterrâneo.
Na semana passada, cerca de 900 pessoas morreram quando um barco que transportava migrantes naufragou. Muitos deles estão deixando a Líbia, alguns depois de atravessar muitos quilômetros de áreas em conflito no Oriente Médio e na África.
Ban Ki-moon falou, com veemência, contra alguns pedidos feitos às forças militares europeias para afundar os barcos perigosos e improvisados usados pelos migrantes e traficantes, dizendo que esta “não é a maneira apropriada” de agir. “Em todo o caso, em todos os conflitos, meios militares podem ser eficazes (...) mas não há alternativa para uma solução política”, disse.
National Catholic Reporter, 28-04-2015.
A tradução de Isaque Gomes Correa.
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