Muitos planejaram a vida inteira uma viagem ao Nepal para ver de perto o traiçoeiro Everest
Por Marco Lacerda*
“A terra das delícias místicas”, dizia o anúncio da revista de bordo da Royal Nepal Airlines em que viajei. O anúncio não era de todo falso. Minutos depois de aterrissar no aeroporto de Pokhara, em Katmandu, eu estava no éden, ou melhor, no hotel Éden, na frente do restaurante Paraíso, ao lado do hotel Shangrilá e a alguns passos da butique Terceiro Olho.
O Nepal foi um lugar secreto no passado. Durante séculos o povo nepalês virou as costas para o mundo, preferindo viver isolado entre as montanhas mais altas do planeta, longe da marcha do tempo. Até bem pouco, lugares como o Nepal eram acessíveis apenas a aventureiros e missionários. Em anos recentes as coisa mudaram. Turistas tornaram-se soldados de um novo tipo de invasão, terroristas do expansionismo cultural. Qualquer pessoa com um cartão de crédito tornou-se um colonizador leigo.
Até 1955 o Nepal nunca tinha visto um turista. Hoje, recebe (ou recebia) 300 mil por ano, a maioria em busca dos mesmos ideais: expansão da consciência, drogas e religião num país com os pés cravados no Budismo. O Nepal tem a vantagem de estar na vizinhança da Índia. E se a Índia é a maior loja de departamentos esotérica do mundo, o Nepal é uma loja de conveniência com os mesmos produtos a preços camaradas.
Poucos países são tão imediatamente ligados a uma de suas atrações como o Nepal. A Torre Eiffel é símbolo inequívoco da França, assim como a estátua da Liberdade é a imagem perfeita dos Estados Unidos. Porém, nenhuma tem a força e a majestade da maior montanha do planeta, o Monte Everest. É certo que o Nepal divide as honras com a China, mas sua história e conquista estão ligados ao lado nepalense.
Em 1953, o neozelandês Edmund Hillary e o sherpa Tenzing Norgay conquistaram os 8848 metros da montanha que os tibetanos chamam de Chomolungma, Mãe Deusa da Terra, e os nepaleses de Sagharmata. De lá para cá as ruas de Kathmandu e o campo-base do Everest tornaram-se uma espécie de esquina do mundo repleta de trekkers e montanhistas de todo o globo, desde os que planejaram a vida inteira para estar lá aos que só estão de passagem, satisfeitos com a visão de um monumento da natureza.
Com uma população dividida em diversas etnias e majoritariamente hindu, o país ainda é muito pobre, com infraestrutura e serviços turísticos precários. A situação política instável não ajuda o acesso a alguns lugares com grande beleza cênica e importância histórica. O Vale Kathmandu é listado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, onde fica o templo budista de Swayambhunath. A terra natal de Sidartha Gautama, o Buda, a pequena, mas movimentadíssima Lumbini, e a cidade-lago de Pokhara são algumas atrações que ninguém deixa de visitar.
Mas o que atrai mesmo centenas de turistas são os picos gelados do Himalaia. A grande maioria passa um ou dois dias na capital e de lá segue para campos-base do Everest – passando por áreas mitológicas para os amantes do alpinismo, como Namche Bazaar –, onde levanta acampamento e faz caminhadas nos arredores, por entre vales e geleiras, sempre em altitudes acima dos 5 mil metros. Ou seja, já está bem acima das capacidades físicas dos viajantes comuns. Lagos gelados como o Cho Oyu e o belo vale do Gokyo fazem parte do cardápio de aventuras.
Quiseram o destino e forças perversas da natureza que esse tesouro ancestral, que um dia eu vi de perto, viesse abaixo devastando um dos mais fascinantes e ricos patrimônios da humanidade, cravado no teto do mundo. Tesouro que marcou e em muitos casos mudou a vida de milhões de jovens, andarilhos e peregrinos vindos de todos os cantos do planeta em busca de conhecimento e sabedoria. Enquanto conta seus mortos, o Nepal chora nas alturas do Himalaia, tendo como consolo apenas a certeza de que os que partiram já estavam pertinho do céu.
"Nepal, Himalaya, Kathmandu". Veja o vídeo.
O Nepal foi um lugar secreto no passado. Durante séculos o povo nepalês virou as costas para o mundo, preferindo viver isolado entre as montanhas mais altas do planeta, longe da marcha do tempo. Até bem pouco, lugares como o Nepal eram acessíveis apenas a aventureiros e missionários. Em anos recentes as coisa mudaram. Turistas tornaram-se soldados de um novo tipo de invasão, terroristas do expansionismo cultural. Qualquer pessoa com um cartão de crédito tornou-se um colonizador leigo.
Até 1955 o Nepal nunca tinha visto um turista. Hoje, recebe (ou recebia) 300 mil por ano, a maioria em busca dos mesmos ideais: expansão da consciência, drogas e religião num país com os pés cravados no Budismo. O Nepal tem a vantagem de estar na vizinhança da Índia. E se a Índia é a maior loja de departamentos esotérica do mundo, o Nepal é uma loja de conveniência com os mesmos produtos a preços camaradas.
Poucos países são tão imediatamente ligados a uma de suas atrações como o Nepal. A Torre Eiffel é símbolo inequívoco da França, assim como a estátua da Liberdade é a imagem perfeita dos Estados Unidos. Porém, nenhuma tem a força e a majestade da maior montanha do planeta, o Monte Everest. É certo que o Nepal divide as honras com a China, mas sua história e conquista estão ligados ao lado nepalense.
Em 1953, o neozelandês Edmund Hillary e o sherpa Tenzing Norgay conquistaram os 8848 metros da montanha que os tibetanos chamam de Chomolungma, Mãe Deusa da Terra, e os nepaleses de Sagharmata. De lá para cá as ruas de Kathmandu e o campo-base do Everest tornaram-se uma espécie de esquina do mundo repleta de trekkers e montanhistas de todo o globo, desde os que planejaram a vida inteira para estar lá aos que só estão de passagem, satisfeitos com a visão de um monumento da natureza.
Com uma população dividida em diversas etnias e majoritariamente hindu, o país ainda é muito pobre, com infraestrutura e serviços turísticos precários. A situação política instável não ajuda o acesso a alguns lugares com grande beleza cênica e importância histórica. O Vale Kathmandu é listado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, onde fica o templo budista de Swayambhunath. A terra natal de Sidartha Gautama, o Buda, a pequena, mas movimentadíssima Lumbini, e a cidade-lago de Pokhara são algumas atrações que ninguém deixa de visitar.
Mas o que atrai mesmo centenas de turistas são os picos gelados do Himalaia. A grande maioria passa um ou dois dias na capital e de lá segue para campos-base do Everest – passando por áreas mitológicas para os amantes do alpinismo, como Namche Bazaar –, onde levanta acampamento e faz caminhadas nos arredores, por entre vales e geleiras, sempre em altitudes acima dos 5 mil metros. Ou seja, já está bem acima das capacidades físicas dos viajantes comuns. Lagos gelados como o Cho Oyu e o belo vale do Gokyo fazem parte do cardápio de aventuras.
Quiseram o destino e forças perversas da natureza que esse tesouro ancestral, que um dia eu vi de perto, viesse abaixo devastando um dos mais fascinantes e ricos patrimônios da humanidade, cravado no teto do mundo. Tesouro que marcou e em muitos casos mudou a vida de milhões de jovens, andarilhos e peregrinos vindos de todos os cantos do planeta em busca de conhecimento e sabedoria. Enquanto conta seus mortos, o Nepal chora nas alturas do Himalaia, tendo como consolo apenas a certeza de que os que partiram já estavam pertinho do céu.
"Nepal, Himalaya, Kathmandu". Veja o vídeo.
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e editor-especial do Domtotal
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