quinta-feira, 21 de maio de 2015

Crescimento e destruição

Marcus Eduardo de Oliveira

Quando a economia atende aos ditames do mercado que clama por produções excedentes, as consequências para a natureza são previamente conhecidas: destruição ambiental, desmatamento em larga escala, poluição acentuada, queimadas constantes, escassez ecológica, extinção das espécies, emissão de gases de efeito estufa (GEE), entre outros.
Quem paga o preço é a natureza; mas, somos nós que sofremos as consequências.
O mercado é abastecido em nome de um modelo econômico-produtivo perverso e criminalmente responsável pela degradação ambiental – os 20% da humanidade mais consumistas produzem 80% da poluição total do planeta – descapitalizando assim a biodiversidade, colocando à vida em sério risco.
Uma hora qualquer alguém irá perceber que as palavras do cacique Seatlle, ditas em 1854 ao governante norte-americano, sempre estiveram pontualmente certas: “(...) Depois que a última árvore for abatida, eles (os homens brancos, o grifo é meu!) vão perceber que não dá para comer dinheiro”.
Enquanto a taxa de crescimento da economia continuar tendo proeminência em matéria de prioridade em políticas públicas, estaremos fadados a conviver com os desequilíbrios climáticos e ecológicos.
Nunca é demasiado aludir que não se pode medir o crescimento de uma economia quando, por exemplo, se derruba uma árvore ou quando se põe ao chão um Jequitibá de 200 anos, ou ainda quando se polui um rio ou se contamina uma nascente. Se isso tudo contribui para fazer o PIB subir, e, de fato contribui, o nome disso só pode ser “insanidade econômica”, e como gosto de mencionar, “estupidez pibiniana”.
O certo é que não há economia que prospere e se mantenha ao longo do tempo nas bases dessa “patologia” que enaltece a destruição ambiental em prol de excedentes mercadológicos.
Para atenuar esse discurso da destruição das bases naturais criadora de crescimento econômico falacioso, os economistas tradicionais criaram uma expressão ajustada para isso: “crescimento sustentável”.
No entanto, não são poucos os que cometem crasso equívoco na vã esperança de que essa palavra mágica (sustentável) seja algo de fato aplicável e benéfico. Em relação a isso, resta indagar: sustentável para quem? como? quando? onde?
Ora, continuando a exploração desenfreada de recursos naturais para atendimento às solicitações vindas do mercado, como se a razão precípua do “nosso” viver fosse unicamente frequentar as prateleiras dos supermercados e dos shopping-centers, não só se torna impossível sustentar esse crescimento como o mesmo, na prática, não passa de uma bomba-relógio potencialmente destruidora.
Desse modo, essa expressão sustentável é então, por si, falaciosa e de pouca relevância. Para o estabelecimento de um projeto de desenvolvimento econômico que se pretende ser sério e equilibrado, pautado pelas linhas mestras da competição, não é factível buscar, para isso, uma condição de crescimento sustentável uma vez que essa competição feita pelos mecanismos previamente conhecidos do modo capitalista de produção e consumo produz mais exclusão, à medida que uns poucos ganham e triunfam sobre a derrota de centenas de milhões de pessoas.
Pelo lado da economia tradicional, argumenta-se insistentemente que o crescimento sustentável é exequível, pois, num belo dia qualquer, o progresso tecnológico responderá pelas demandas dos recursos renováveis.
Para aqueles que defendem esse argumento recomenda-se o não esquecimento de algo bem simplista: o universo é finito e não aumentará de tamanho; portanto, não há possibilidade de se obter crescimento constante, pois a Terra não suporta pressões excessivas de extração de recursos naturais e energéticos.
A escala de valores que deve predominar, caso queiramos priorizar a vida e o respeito às coisas da natureza, deve incluir a cooperação, a partilha, a solidariedade, a comunhão, o compartilhamento, o respeito aos limites da natureza e, antes de qualquer outra coisa, às pessoas.
Definitivamente, o projeto econômico precisa estar à serviço da vida em todas suas dimensões, incluindo, principalmente, a perspectiva ecológica, incorporando assim à ideia da economia verde, definida pelo Programa Ambiental das Nações Unidas (PNUMA) como “uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente riscos ambientais e escassez ecológica”.
(*) Economista, professor e especialista em Política Internacional | prof.marcuseduardo@bol.com.br

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