quinta-feira, 7 de maio de 2015

Jubileu, o evento mantido em segredo


Jubileu da Misericórdia é um dos projetos mais bem guardados do pontificado de Bergoglio.
Por Franca Giansoldati*
"O Jubileu da Misericórdia? É a prova de que o segredo pontifício resiste, ainda funciona". E como funciona. Dom Rino Fisichella, na manhã dessa terça-feira (5), oficializou o calendário do Ano Santo, revelando os bastidores de um dos projetos mais bem guardados do pontificado de Bergoglio.
Por nada menos do que seis meses, absolutamente nada vazou. Tanto que, quando o papa Francisco anunciou em São Pedro, no dia 13 de fevereiro passado, a intenção de convocar um evento tão importante para Roma e para a Itália, todos os cardeais e os bispos presentes na basílica são estupefatos.
Eles também foram pegos de surpresa. Assim como saltaram na cadeira os membros do governo, de Renzi (primeiro-ministro italiano) para baixo, incluindo o prefeito de Roma, Marino, também ele mantido às escuras. Nenhum contato anterior, nenhuma reunião privada para planejar a acolhida ou para preparar a estrutura da cidade. Nada de nada. No entanto, o papa estava trabalhando há muito tempo no projeto embrionário. Era o dia 29 de agosto de 2014.
Com o teólogo Fisichella, ele tinha debatido e falado longamente, afinal, o tema da misericórdia tinha sido desde o início um elemento significativo e recorrente do pontificado.
Basta lembrar que, já no seu primeiro Ângelus, assomando-se à sacada do palácio apostólico, lembrara aos fiéis que "só a misericórdia muda o mundo".
Fisichella havia sido chamado para uma audiência privada em Santa Marta, perto do fim do ano passado. Naquela ocasião, o papa o tinha posto a par de tudo. "Então, era um pensamento, um movimento do espírito, no sentido mais bonito, mas que imediatamente ganhou corpo."
A partir daquele momento, começaram a projetar o evento espiritual, definindo-o em diversos âmbitos, até a definição última, centrada nas palavras evangélicas: "Sede misericordiosos como o Pai", que depois se tornou o logotipo do Jubileu.
Ligaram o conceito ao tema da indulgência, que consiste em um perdão geral, aberto a todos, para renovar o vínculo com Deus, mas também a relação com o próximo.
Lavadeiras
Nesse sentido, os segredos ainda são guardados. Foi varrida não apenas a página obscura do Vatileaks, o vazamento de notícias do apartamento pontifício de Ratzinger, mas também a curiosa definição do escritor inglês John Cornwell, que descrevia o Vaticano como um país de lavadeiras – tomando de empréstimo, por sua vez, o pensamento do arcebispo Marcinkus –, ou seja, um lugar onde não existem segredos, porque, dizia Marcinkus, "basta juntar três ou quatro padres, e eles logo começam a criticar outras pessoas. Como em um vilarejo, um pequeno vilarejo de lavadeiras. Vão ao rio, lavam as roupas, batem-nas, brincam entre si, espremem toda a sujeira para fora. Na vida normal, as pessoas têm outros interesses, mas, aqui, do que mais há para se falar?"
Surpresa
A notícia repentina de fevereiro passado havia sido como um raio em céu sereno, também para o mundo da política: o governo, o presidente Mattarella, a cidade de Roma. O Papa Francisco tinha feito tudo da sua própria cabeça, não quisera informar ninguém.
O padre Lombardi, naqueles dias, assegurava: "Este é só um evento espiritual. O papa não pensa em uma organização megagaláctica." Francisco queria impedir, especialmente, que fosse ligada a palavra "negócio" ao Jubileu.
Il Messaggero, 06-05-2015.
*Tradução de Moisés Sbardelotto.

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