terça-feira, 9 de junho de 2015

No mundo das ideias – 2

Marcus Eduardo de Oliveira

Com Inácio de Loyola aprendemos a necessidade de unir a ciência e o Evangelho.
(Continuação) 
Em nome de Deus
Sobre as “coisas de Deus”, temos em são Jerônimo o magistral tradutor da Bíblia do Hebraico para o Latim. Com o alemão Moses Hess aprendemos que “a verdadeira teologia é o amor à Humanidade”.
Com Carlos Grun, discípulo de Hess, aprendemos que “a essência do cristianismo é o amor”, matéria essa propagada há dois mil anos pelo Carpinteiro de Nazaré.
Com são Domingos de Gusmão fomos levados à Escolástica. Com Inácio de Loyola aprendemos a necessidade de unir a ciência e o Evangelho, na Companhia de Jesus (os jesuítas) e, com são Bento de Núrsia, temos a Ordem Beneditina cujo lema principal é: “Busca tua paz e segue-a”.
Ainda na esfera da religião, herdamos da cidade de Tarso, o apóstolo Paulo (antes, Saulo), denominado por muitos como “o segundo filho de Deus”. Da Alemanha veio contribuir para o avanço espiritual Martinho Lutero – pai espiritual da reforma protestante.
Vimos florescer ainda os ideais de João Huss. “Conhecemos” John Wicleef, teólogo inglês de grande valor. Da Itália vimos chegar à contribuição de Giordanno Bruno e sua teoria da cosmologia; da França, Allan Kardec (ou Denizard Rivail) nos ensinou a acreditar em vida após a morte e em novo renascimento (palingênese, ou seja, a reencarnação).
Confúcio, (ou K’ong Fu-tse) da China, foi o filósofo da brandura, e Sidarta Gautama – O Buda (ou Sakyamuni), fundador do Budismo, nos ensinou a pensar na busca interior.
Nesse rol de “iluminados” ainda temos Calvino e Zwingli. Com Guilherme Miller, presenciamos o Adventismo.
O pensamento anabatista, por sua vez, se deve a Menno Simonsz; e o pensamento conhecido por “Testemunhas de Jeová”, coube ao americano Charles Taze Russell; assim como os Mórmons devem sua existência a Joseph Smith.
Na escala dos religiosos encontramos ainda outros nomes: Lao-Tse, Mêncio (Meng-tseu), Moisés (judaísmo, com a “Tora”), Mahavira (jainismo), Motti, Dalai-Lama, Ramakrishma (krishianismo, com a leitura de “Bhagavad-Gita”), Kapila, Patanjali e Maomé (ou Mohamed) que transformou as tribos árabes, politeístas e dispersas, numa só nação monoteísta, abstêmia e devota.
Sobre um novo paradigma holístico de reflexão, temos o zen-budismo, taoísmo, candomblé, xamanismo e outros. Contrapondo-se a essas experiências, temos os místicos-cristãos como Thomaz Merton, mestre Eckhart (a mística neo-platônica), são Francisco de Assis (“o amigo dos lobos e dos pássaros); santo Antonio de Pádua (“o amigo dos peixes”); Fidel de Sigmaringá (“o advogado dos pobres”); o russo são Serafim de Sarov (“o amigo dos ursos”), além de santa Tereza de Ávila, protetora dos professores.
Acrescenta-se a esses os nomes de são João da Cruz, Frei Bartolomé de las Casas (“o protetor dos índios”), Madre Tereza de Calcutá (“a mãe dos mais pobres”), Theillard de Chardin, Crisóstomo e Tertuliano, além de tantos outros espíritos de ação e atitudes nobilíssimos.
A voz e a vez das mulheres
Pela voz das mulheres, a primeira que reivindicou seus direitos foi Mary Wollstonecraft, a partir do lema “a mente não tem sexo”. Se junta a ela outros nomes de importância ímpar na História: Hatshepsut, a primeira faraó de todos os tempos que levou prosperidade para o Antigo Egito. 
Como não mencionar Maria de Nazaré, Joana D’Arc, Marie-Olympe de Gouges e sua Déclaration des Droit de la Femme et de la Citoyenne.
Elizabeth Blacwell foi a primeira mulher a se formar em medicina. Marie Curie foi quem pela primeira vez ganhou um prêmio Nobel (de Física, em 1903), além da austríaca Bertha Von Suttner, que foi laureada com o prêmio Nobel da Paz, em 1905.
Valentina Tereshkova foi à primeira mulher cosmonauta a atingir o espaço.
A terra da Filosofia
Na Grécia, terra da Filosofia e berço da civilização ocidental, os estoicos – dentre eles, Sêneca, Marco Aurélio e Cícero - (doutrina filosófica fundada por Zenão que propõe viver de acordo com a lei racional da natureza) foram os primeiros que pregaram a igualdade e a fraternidade dos povos.
Com Cirilo (Patriarca de Alexandria, décadas depois de Atanásio) vimos que as diferenças sociais foram criadas pela cobiça dos homens.
Outros nobres espíritos nos legaram o exemplo da luta, da perseverança, da transformação de sonhos em realidade. Dessa forma, o sentimento de Igualdade, Fraternidade e Liberdade – lema pronunciado pela primeira vez por Jean Nicolas Pache -, foi buscado pelo brio de jovens revolucionários da estirpe de Marat, Hébret, Saint-Just, Danton, Robespierre, Desmoulins, Louis Legendre, embora o “Terror” tenha se instalado após a conquista revolucionária.
Alguns se dedicaram ao “descobrimento” de novos mundos, após “rasgarem” oceanos desconhecidos. Assim, em busca de “aventuras”, os fenícios, os gregos e os cartagineses talvez tenham sido os primeiros grandes navegadores de que temos notícia.
Os mares passaram a ser desbravado pelos fenícios, seguindo ordens do rei Nechau (604 a C), fato esse narrado por Heródoto; pelos cartagineses, no ano 500 a C, comandados por Himilcon e Hannon, e finalmente, os gregos, com Nearco, seguindo ordens do macedônico Alexandre, O Grande que, quando menino, foi tutorado por ninguém menos que Aristóteles.
Os grandes navegadores
Foi Cristóvão Colombo, um judeu converso, financiado por Fernando de Aragão e Isabel de Castela, partindo do Porto de Pablo (Espanha), em agosto de 1492, que “descobriu” a América, encontrando primeiro o arquipélago das Bahamas e depois, Cuba e Haiti.
No entanto, coube a Américo Vespúcio “emprestar” seu nome ao Novo Mundo, marcado no mapa pela primeira vez pelo cosmógrafo Waldsmuller.
Pelo lado de nossos irmãos portugueses as “glórias” com as grandes navegações começam com o Infante D. Henrique, apoiado pelo pai, D. João I, através da escola de Sagres, quando começam a “explorar o novo mundo”.
Foi assim que Gil Eanes, em 1434, dobrou o cabo Bojador; Denis Dias, em 1445, atingiu Cabo Verde e Senegal; Diogo Cão, em 1483 atingiu o Zaire; Bartolomeu Dias, em 1488 ultrapassou o extremo austral da África; Vasco da Gama, em 1498, descobriu o caminho marítimo para as Índias, desembarcando em Calicute.
Pedro Álvares Cabral, com o apoio irrestrito do rei Manuel I, (O Venturoso), deixou Lisboa em 9 de março e atingiu o Brasil, em 22 de abril de 1500; embora os espanhóis Vicente Yanez Pinzon, que havia comandado a caravela Nina, na Primeira Armada de Colombo que descobriu a América, e seu primo Diego de Lepe, tenham “desembarcado” nas costas do Brasil (onde hoje fica o Estado de Ceará) em janeiro de 1500. 
Mesmo antes desse evento, alguns historiadores afirmam que João Coelho da Porta Cruz e Duarte Pacheco Pereira, em 1493 e 1498, respectivamente, teriam estado no Brasil.
Ainda no rol de grandes navegadores, Fernão de Magalhães fez a circunavegação do Planeta Terra, entre 1519 e 1522. Já o veneziano Marco Pólo chegou à China no século XIII; depois dele foi à vez do inglês Mandwille.
Na Austrália, foi o capitão James Cook, em 1770, o primeiro a chegar, embora haja afirmação corrente que os portugueses Cristóvão de Mendonça, em 1522, e Gomes de Sequeira, em 1525, foram os primeiros a visitar aquele lugar.
No entanto, uma nova versão de que os chineses, ainda em 1421, teriam “descoberto o mundo” parece ganhar adeptos a cada dia. Zheng He, por essa “versão”, teria sido o grande descobridor por parte dos asiáticos.
Ademais, as “aventuras” não param por aí. Ponce de Leon buscou a milagrosa “fonte da juventude” e descobriu, provavelmente num dia de Domingo de Ramos, a Flórida. O espanhol Cabeza de Vaca “descobriu” as Cataratas do Iguaçu e, Vasco Balboa desejou encontrar o Eldorado.
Os exploradores de terras
Nas explorações por terra, Cortez, após derrotar o imperador Montezuma, conquistou o México, e, Pizarro, depois de derrotar Atahualpa, conquistou o Peru.
Coube a Pero de Mendoza a missão de inaugurar a cidade de Buenos Aires, e a Valdívia, a cidade de Santiago (Chile); enquanto os jesuítas Nóbrega e Anchieta fundaram a cidade de São Paulo.
Bernardo O’Higgins libertou o Chile; José de San Martín, livrou a Argentina; Antonio José de Sucre, a Bolívia; Nunez de Cárceres, a República Dominicana; Lavalleja e os 33 Orientais proclamam a Independência do Uruguai, enquanto Pedro de Alvarado foi o primeiro a chegar a El Salvador.
No Panamá, essa missão libertadora, coube a Rodrigo de Bastidas. Os padres Miguel Hidalgo e Jose Maria Morellos proclamaram a Independência do México; enquanto Céspedes a promoveu em Cuba.
Gaspar de Francia governou pela primeira vez o Paraguai. Mas, foi um filho da aristocracia, de origem basca, chamado Simon José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar Palácios y Blanco, ou simplesmente, Simon Bolívar (“El Libertador”) quem livrou a América da opressão.
A luta pela liberdade continua
Foram muitos aqueles que nos ensinaram a luta pela liberdade. Assim, como a busca pela “Terra prometida”, exemplificado com o povo judeu que pelas mãos de Moisés atravessaram por 40 anos o deserto, segundo relatos bíblicos.
Dessas lutas em busca da liberdade, aprendemos com Spartacus o real significado desse termo. Pelo lado da luta de escravos contra a opressão, iniciado por Spartacus, destacam-se os nomes de Nat Turner (que encabeçou a primeira rebelião de escravos na Virgínia, EUA); Ganga Zamba e Zumbi (tio e sobrinho, respectivamente, no Quilombo dos Palmares); e François Dominique Louverture e Jean-Jacques Dessalines (heróis da libertação do Haiti).
O grito contra a opressão política
Outros nobres espíritos deram o “grito de liberdade” contra a opressão política imposta pela força do dinheiro e do poder. Exemplos dessa luta são os casos de Zapata e Pancho Villa, na Revolução Mexicana. Lênin e os bolcheviques, na Revolução Russa. César Sandino que lutou bravamente por uma República Dominicana livre da ingerência norte-americana.
Che Guevara lutou pela Revolução Cubana; Farabundo Martí atuou em El Salvador e o líder indígena Tupac Amaru esbravejou contra a elite dominante que massacrava os indígenas.
Um dos marcos da liberdade até hoje com certeza é a “Sociedade dos Filhos da Liberdade”, criada por Adams e Dickinson, em Boston, em 1773. O Subcomandante Marcos – um dos líderes dos indígenas mexicanos do Estado de Chiapas – é a voz dos oprimidos que se faz proclamar na atualidade.
No passado não muito distante, coube ao líder Ahmed Ben Bella lutar pela independência da Argélia; enquanto Patrice Lumumba lutava pela independência do Congo, e Amílcar Cabral, pela independência de Guiné-Bissau.
Do lado “teórico-intelectual” coube a alguns nobres espíritos “sonhar” em construir uma sociedade perfeita. Nesse pormenor temos os nomes de Thomas Morus (Utopia), Tomaso Campanella (A Cidade do Sol) e James Hilton (Xangri-lá), além dos religiosos ligados a Teologia da Libertação (Gustavo Gutierrez, Leonardo Boff, Pedro Casaldáliga).
Muitos foram os que pagaram com a vida ao lutar por um mundo mais justo. Nosso Frei Caneca foi um deles. Oscar Romero, bispo de El Salvador que acabou assassinado por forças imperialistas, é outro exemplo disso.
Camilo Torres, teólogo colombiano que aderiu a guerrilha urbana, e o francês François Babeuf desejaram, cada um em seu tempo, não apenas igualdade de direito perante a lei, mas igualdade de vida com a “Conjugação dos Iguais”, proclamada por esse último.
O brasileiro Felipe dos Santos, que na Revolta de Vila Rica foi punido com a morte por meio de uma argola de ferro a lhe apertar o pescoço, e Steven Biko, líder sul-africano, assim como também o sul-africano Nelson Mandela, souberam bem o que significa lutar pela liberdade.
Outros lutaram pela igualdade, não de oportunidades, mas igualdade pela cor da pele, como foram os casos do poeta negro mais popular da América Latina, Aime Cesaire, criador do termo “negritude”, ao lado do guianense Leon-Gontran e do senegalês Léopold Sedar Senghor que, por quatro vezes, foi presidente da República do Senegal.
Outro iluminado nesse pormenor foi o reverendo da igreja Batista Martin Luther King, brutalmente assassinado em abril de 1968.
Willian Henry Hastie, outro desses nobres nomes, foi um dos protagonistas da luta pelos direitos civis nos EUA e o primeiro negro a governar as Ilhas Virgens dos EUA.
A esses nomes acrescentamos os brasileiros Francisco José do Nascimento, conhecido como “Dragão do Mar”, por impedir através do porto de Fortaleza o embarque de escravos; João Cândido, o “Almirante Negro”, líder da Revolta da Chibata, contra castigos físicos impostos aos marinheiros, e José do Patrocínio, o “Patrono da Abolição”.
Para finalizar, por todos esses nomes, por todas essas ações aqui descritas, a humanidade conheceu pontos de elevação na escala moral e na conduta espiritual. O avanço, por conseguinte, se fez presente.
O bem, em diversos momentos, venceu o mal e o progresso, para o bem de todos, petrificou-se. Que continuemos a avançar, afinal, estamos num contínuo processo de amadurecimento.
Que as benções dos deuses que cuidam do progresso sejam derramadas sobre novas cabeças. O mundo agradecerá.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista, especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela (USP) | prof.marcuseduardo@bol.com.br

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