Marcus Eduardo de Oliveira
Não será fácil superar a crise ecológica, rompendo com o atual paradigma de devastação ambiental, enquanto os modelos econômicos de crescimento não respeitarem o meio ambiente.
Enquanto interesses econômicos, dos mais diversos possíveis, prevalecerem sobre o bem-comum, os desequilíbrios climáticos – produto da expansão econômica – continuarão presentes.
Enquanto a orientação macroeconômica, engendrada pelos gestores da economia mundial, continuar profetizando que o mercado, “regulado” pelas leis econômicas, garante a inclusão dos excluídos mediante o incremento de mais crescimento econômico, continuaremos presenciando a desfiguração da natureza pela extração de recursos naturais acima da capacidade de suporte do planeta, adoecendo assim a Terra, entregue à patologia suprema da economia de mercado, viciada em crescimento econômico contínuo.
Enquanto a engrenagem econômica for ecologicamente insustentável, os sinais da degradação ambiental, expressos no agravamento do rompimento dos fluxos de serviços da natureza cada vez mais latentes, teremos menos biodiversidade e mais mercadorias, menos natureza e mais mercado, menos meio ambiente e mais economia (atividade produtiva).
Enquanto não rompermos em definitivo com a lógica econômica atual, não avançaremos rumo a um novo patamar de desenvolvimento que concilie as aspirações à uma vida melhor (bem-estar) com a preservação do meio ambiente.
Para tanto, consolidar um novo modo de consumir e de produzir se torna condição sine qua nonpara assegurar, na prática, o alcance da sustentabilidade, garantindo assim o futuro da humanidade.
Enquanto não abolirmos aquilo que o capitalismo fez com total proeza nos últimos cem anos, edificando o consumo como espécie de sagrada religião, fazendo do dinheiro o “senhor supremo” desse dogma, e o mercado, o seu templo, não conseguiremos mudar de patamar em direção a uma sociedade pautada na racionalidade ambiental.
Essa relação pecaminosa – mercado/dinheiro/consumo –, orientada pelo capitalismo global, aflora-se em larga medida no lauto “banquete do consumismo”, evidenciando as muitas discrepâncias e contradições existentes entre os mais abastados (20% da população mundial) em comparação a pouco mais de 1/3 da humanidade que pouco ou quase nada consome.
O superconsumo (por parte desses 20% mais ricos do mundo) não pode estar embasado nosubconsumo (por parte de 80% dos habitantes do lado pobre).
Consoante a isso, não se pode perder de vista que a quinta parte mais rica do mundo consome 45% de toda carne e peixes, deixando apenas 5% para a quinta parte mais pobre.
Tampouco se pode esquecer que os países do centro do capitalismo detêm quase 79% do Produto Nacional Bruto mundial, enquanto os países mais pobres dispõem de apenas 1,5%.
Assim, sem mais delongas, são gritantes as contradições entre o modo de viver dos mais ricos em relação aos mais pobres, acentuando as diferenças e contradições sociais.
Essas contradições estão expressas na detenção da renda e da riqueza por uma parcela pequena da sociedade. Não por acaso, a concentração de riqueza, em poucas mãos, ganha contornos abissais em comparação aos milhões de pobres e miseráveis que pouco acesso tem aos bens materiais.
No decorrer dos fatos, é o desenvolvimento de uns que está sendo conquistado à custa do subdesenvolvimento de tantos outros. É no sentido da superação dessas discrepâncias que a consolidação de uma nova sociedade, partindo de um novo modelo econômico, conduzido por umnovo homem, “nascido” da conscientização ecológica e social que, para o bem da humanidade, floresce cada vez mais, que teremos possibilidade de auferir benefícios estendidos coletivamente, alcançando verdadeiro sucesso quando esse modelo econômico potencializador de desigualdades ora em curso entrar definitivamente em decomposição, dando lugar a um estilo de vida pautado na racionalidade ecológica e social que primam pelo equilíbrio.
O modelo de produção/consumo praticado a qualquer custo sem a requerida preocupação com os impactos ambientais já causou muito estrago. É chegada a hora de virar o jogo.
Incentivos para a produção agroecológica, orgânica e a redução do desmatamento vêm compondo temas de principais debates a esse respeito, promovendo políticas e ações públicas que podem ao longo dos próximos anos amenizar o impacto sobre os recursos naturais.
No atual contexto dos impactos gerados pela indústria e pelos hábitos de consumo excessivos, a poluição e a “produção” de resíduos são desastrosos, como são os casos dos depósitos de lixo pelo mundo, além da crescente contaminação de rios e lagos.
Gerar riquezas com base em energia captada nos recursos naturais, sem critérios de uso, tem provocado desastres voltados contra a própria vida humana. Por isso um novo jeito de organizar a economia precisa ser pensado, voltado a uma maior preocupação sobre os impactos em cima da natureza.
Gerar menor volume possível de resíduos e sensibilizar a sociedade para novos modelos de produção e consumo com equilíbrio e parcimônia, pode servir de base para a consolidação de processos produtivos e industriais menos danosos à natureza e, por consequência, aos habitantes do planeta. A condição primeira para isso é fazer a economia respeitar o meio ambiente.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo | prof.marcuseduardo@bol.com.br
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