quinta-feira, 9 de julho de 2015

Cirurgia plástica – alegrias e tristezas

Tecnologia invade a cirurgia plástica e seus profissionais perdem a dimensão hipocrática da medicina.

Entra a sofisticação tecnológica e sai a vital relação médico-paciente.
Por Evaldo D'Assumpção*
Recebo pedido para escrever um artigo sobre os riscos da cirurgia plástica, aproveitando minha longa experiência nesta especialidade médico-cirúrgica. Resolvi atende-lo, tendo em vista os problemas que se multiplicam nesta área.
No final de 2008, completando 70 anos de idade e 45 anos de cirurgia plástica, tive a convicção de que era tempo de parar. Diz a Bíblia que há tempo para semear e tempo para colher: meu tempo de semear havia se completado. Contudo, não abandonei a cirurgia plástica, que foi uma paixão surgida quando eu tinha 8 anos de idade, e ainda morava em Campo Belo. Acompanhando meu pai, médico nesta cidade, quando passou um ano nos Estados Unidos em viagem de estudos, visitei com ele e minha mãe a Clinica Mayo. No museu desta famosa instituição pude ver inúmeras fotos de cirurgias reparadoras dos mutilados de guerra – era o ano 1946 – e decidi que era aquilo que iria fazer. Nunca mudei de ideia, nunca me arrependi.
Hoje, no meu remanso capixaba-castelhano, mesmo aposentado continuo recebendo as publicações das Sociedades de Cirurgia Plástica e acompanho, bastante angustiado, as mudanças que vêm ocorrendo nesta complexa especialidade médico-cirúrgica, em toda a medicina. A tecnologia que desbrava novos campos do trabalho médico invade também a cirurgia plástica, e seus profissionais vão perdendo a dimensão hipocrática da medicina, fascinados pelas máquinas que substituem o humano-médico, e que transformam o humano-paciente em verdadeiro robô necessitando de reparos. Por outro lado, olvida por completo as necessidades básicas do paciente, que deixa esta condição para se tornar impaciente, exigente e muitas vezes litigante. Entra a sofisticação tecnológica e sai a vital relação médico-paciente. Saem as mãos que curam e entra a toga que pune.
Para complicar ainda mais essa equação médico-cliente, os meios de comunicação descobriram a cirurgia plástica como um manancial inesgotável de notícias. Muitas delas matéria paga, ainda que disfarçadas sob a capa de notícia. São as que enaltecem o médico focalizado. Mas existem as outras, nascidas da dura realidade quando se referem a verdadeiros desastres, que vão dos resultados insuficientes, passando por deformações ou mutilações, e chegando ao óbito.
Obviamente que alguns desses insucessos se devem à própria natureza do trabalho médico, seja qual for a especialidade focada, e por melhor que seja o profissional. Médicos não são deuses e não fazem mágicas nem milagres. São profissionais que devem ser bem formados, e com critérios éticos rígidos, portanto distanciados do oba-oba que caracteriza os maus profissionais. Complicações podem ocorrer, todavia somente aquelas avaliadas por peritos especializados, e devidamente julgadas pelos Conselhos Regionais de Medicina, constatando que houve imperícia, imprudência ou negligência por parte do profissional, poderão ser taxadas de erro médico ou má prática.
Para evitá-los na cirurgia plástica, é necessário que quem deseje realizá-la observe bem alguns pontos:
1º) Só procure um profissional que foi indicado por outros dos seus clientes, e que dele não tenham qualquer reclamação. E, para maior segurança, procure obter informações sobre o seu conceito no meio da classe médica, conferindo se ele tem o Título de Especialista fornecido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Não é necessariamente uma garantia de que ele é bom, mas a de que ele recebeu formação adequada na especialidade.
2º) Não se iluda com anúncios ou publicidade – o trabalho médico não combina com propaganda mirabolante na mídia. No máximo o nome do profissional, sua qualificação na especialidade, e sempre o número do seu registro no Conselho Regional de Medicina.
3º) Não faça comparações entre profissionais, principalmente buscando o que cobra menos. Como em todas as áreas, valores muito baixos não combinam com a boa qualidade do serviço.
4º) Nunca aceite fazer cirurgias em lugares adaptados, clínicas sem recursos adequados para o caso de haver complicações. Muitos óbitos ocorrem é nesses locais.
5º) Não se submeta a novidades terapêuticas sem antes se informar sobre a seriedade desses procedimentos. O que já está consolidado pela experiência é mais seguro do que as inovações mirabolantes que oferecem resultados rápidos e mágicos.
6º) Não confie num profissional cuja consulta é quase telegráfica, com o mínimo de exame clínico, pouca conversa, e quase nenhuma informação sobre o que será feito, quais os cuidados pós operatórios e, sobretudo, quais as complicações possíveis. Não existe procedimento cirúrgico algum, que não tenha riscos. Se o profissional não se refere a eles, talvez não os conheça, ou os esconde para ganhar o cliente. Provavelmente também não saberá evitá-los, ou cuidar deles se acontecerem. Se não sentir confiança e firmeza no profissional, procure outro. Uma segunda opinião sempre é bem vinda.
7º) E um ponto importantíssimo: nunca faça uma cirurgia plástica só porque está na moda, ou porque você quer se tornar tão belo, ou bela, quanto este ou aquele artista. Tampouco porque você atribui à sua aparência, seus insucessos, sua solidão, sua insatisfação com a vida. Por melhor que seja o resultado da cirurgia, provavelmente você continuará tão infeliz – ou mais – do que era antes. Cuide primeiro de se conhecer melhor, questionando-se sobre quais as verdadeiras razões que estão lhe motivando para procurar uma cirurgia plástica. Às vezes um tratamento psicológico proporcionará resultado bem melhor.
Seguindo estes sete pontos essenciais, com certeza a cirurgia plástica poderá lhe trazer alegrias, e muito dificilmente, tristezas.
*Evaldo D'Assumpção é médico e escritor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário