sexta-feira, 3 de julho de 2015

Lições de Roma

Existem perto de 200 teorias criadas para explicar o colapso romano.

Por Max Velati*
Desde que Edward Gibbon publicou em 1776 o primeiro volume da obra "Declínio e Queda do Império Romano", as causas do fim ainda estão em debate. Para Gibbon as razões eram óbvias e para ele o mistério era como este Império havia durado tanto. Outros historiadores fizeram contribuições ao tema e existem perto de 200 teorias criadas para explicar o colapso romano. Entretanto, mesmo com explicações diferentes, não há discordância sobre o papel fundamental da corrupção na queda de um sistema que na Antiguidade conquistou o mundo.
Administrar é de certa forma controlar. Perder o controle significa necessariamente perder a capacidade de administrar. Quando o Império se viu incapaz de fazer valer as suas leis, tanto pela via militar quanto pelas ferramentas da administração civil, teve que sair da História para dar lugar ao capítulo seguinte.
O Brasil dá sinais de colapso antes mesmo de se tornar um "império". Estamos encerrando vergonhosamente um capítulo sem ao menos termos experimentado a glória de um destaque legítimo; estamos caindo antes mesmo de ascender.
Como se não fossem suficientes os exemplos oficiais de descontrole e desagregação, os noticiários hoje são longos boletins da Polícia Federal anunciando a cada semana uma nova operação. Recentemente dois casos emblemáticos denunciam a falta de virtudes deste arremedo de império.
Quando até mesmo as instituições mais idôneas no passado se transformam em casos de polícia, fica evidente que a administração está comprometida, pois um governo é tão forte quanto a força e idoneidade de suas instituições. Antes que qualquer leitor levante o argumento de que as operações da Polícia Federal são também prova da capacidade administrativa e idoneidade do governo, devo rebater dizendo que o governo não poderia impedir tais ações sob pena de cometer (mais) crime(s). E acrescento que o governo tem sido o primeiro a desqualificar as operações da Polícia Federal, como também ataca e desqualifica os processos legítimos e as ferramentas jurídicas, declarando isso abertamente em seus discursos, ao menos naquilo que é possível entender dos discursos e entrevistas oficiais.
No noticiário desta semana soubemos que o Banco do Brasil passou a seus clientes dólares falsos. Famílias viajando no exterior tiveram que suportar situações constrangedoras, tratados como falsários apenas porque a instituição não cumpriu uma de suas atribuições mais básicas: operar com dinheiro verdadeiro.
Esta notícia já seria suficiente para comprovar uma situação perigosa de desagregação, mas ainda há mais.
Nos mesmos noticiários somos informados que a Casa da Moeda foi alvo esta semana de mais uma ação da Polícia Federal, despachada para cumprir nada menos do que 23 mandados de busca e apreensão. Tal ação se refere a desvios e propinas que chegam a R$100 millhões. As investigações sugerem ainda que isso é apenas o começo e a manipulação de licitações pode indicar nesta entidade desvios da ordem de R$ 6 bilhões nos últimos seis anos.
Será que o verso do hino é uma maldição? "Deitado eternamente em berço esplêndido. Ao som do mar e à luz do céu profundo"
Ò pátria amada, idolatrada! Salve-se! Salve-se!
*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é professor de esgrima e chargista de Economia da Folha de São Paulo.

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