domingo, 16 de agosto de 2015

Japão comemora o fim da Segunda Guerra

A expansão militar nipônica entre 1910 e 1945 permanece como um ponto de discórdia .

Imperador Akihito (E) e a Imperatriz Michiko (2a E) no Palácio Imperial em Tóquio
O Japão recordou neste sábado sua rendição incondicional em 15 de agosto de 1945, o que pôs fim à Segunda Guerra Mundial, entre críticas de seus vizinhos e a visita de três ministras ao controvertido santuário de Yasukuni, que honra soldados mortos em combate e criminosos de guerra.
Haruko Arimura, ministra de políticas da Mulher, Sanae Takaichi, titular de Assuntos do Interior e Comunicação, e Eriko Yamatani, encarregada de Oceanos e Catástrofes, visitaram o santuário xintoísta situado no centro do Tóquio.
O primeiro-ministro japonês Shinzo Abe não foi até o templo, considerado pela China e a Coreia do Sul como um símbolo do passado colonial do Japão, mas enviou uma oferenda ritual, segundo a imprensa japonesa. No entanto, a China não deixou de criticar com firmeza a visita das três ministras.
"A China manifesta sua plena oposição a essa visita, que demonstra de novo a atitude errônea do Japão para com as questões históricas", afirmou a chancelaria.
O santuário honra os 2,5 milhões de militares japoneses mortos em conflitos bélicos desde 1868. Mas, entre eles, há 14 que os aliados condenaram como criminosos de guerra após a rendição do Japão.
Por este motivo, as visitas de dirigentes políticos a este templo costumam criar polêmica na China e na Coreia do Sul, dois países que sofreram as atrocidades do colonialismo japonês durante a primeira metade do século XX.
"Venho homenagear aqueles que se sacrificaram por seu país e rezei para os esforços em favor da paz no Japão e no mundo", declarou Arimura aos jornalistas.
"Trata-se de uma questão nacional e isso não deveria gerar problemas diplomáticos", enfatizou, por sua parte, Takaichi.
De acordo com o deputado Koichi Hagiuda, conselheiro do primeiro-ministro, Abe preferiu não visitar o tempol, mas "seus sentimentos por Yasukuni e seu reconhecimento pelos mortos durante a guerra permanecem intactos".
O imperador Akihito, filho de Hirohito, que reinou durante a guerra, pronunciou um discurso na presença de Abe e de 7.000 pessoas em Budokan, centro de Tóquio.
Akihito, que nunca visitou Yasukuni, expressou seu profundo remorso pelo papel de seu país durante a Segunda Guerra Mundial, uma novidade, segundo a imprensa local.
Esta declaração acontece um dia depois que o premiê expressou seus "pêsames eternos" pelas vítimas da guerra.
Mas Abe também destacou que as futuras gerações "não devem ser predestinadas" a pedir desculpas pelo passado militar de seu país.
"O Japão reiterou muitas vezes seu sentimento de remorso profundo e suas desculpas sinceras por seus atos durante a guerra", disse o chefe de Governo, citando "a história de sofrimento dos povos da Ásia".
Ele aproveitou para recordar que mais de 80% da população do país nasceu depois da guerra.
"Não devemos permitir que nossos filhos, netos e as futuras gerações, que não têm nada a ver com a guerra, sejam predestinados a pedir desculpas", afirmou o premier, que tem 60 anos.
Abe insistiu que o povo japonês tem "a responsabilidade de receber a herança do passado, com total humildade, e transmiti-la para o futuro".
Gestos vigiados
Sete décadas depois da derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, a expansão militar nipônica entre 1910 e 1945 permanece como um ponto de discórdia nas relações com os países vizinhos, especialmente China e Coreia do Sul, que examinam de maneira minuciosa as palavras e gestos de Tóquio a cada aniversário do conflito.
A China afirma que mais de 20 milhões de cidadãos morreram na invasão japonesa, ocupação e atrocidades cometidas pelo exército japonês.
Segundo Pequim, 300.000 pessoas morreram no saque de Nankin, uma onda de massacres, estupros e destruição cometida por militares japoneses durante as seis semanas posteriores à entrada das tropas nesta cidade em 13 de dezembro de 1937.
Muitos historiadores estrangeiros, no entanto, questionam esse número.
As palavras "desculpas" e "agressão" foram pronunciadas pela primeira vez em Tóquio em um gesto histórico do primeiro-ministro socialista Tomiichi Murayama em 1995.
Uma década depois, o conservador Junichiro Koizumi acrescentou os termos "dominação colonial" e "profundo arrependimento".
A imprensa japonesa insistiu que Abe, acusado por seus críticos de revisionismo histórico, havia retomado as "palavras-chaves" dos antecessores no cargo.
A China tambémreagiu ao discurso da véspera, afirmando querer que o Japão peça desculpas sinceras por suas agressões.
O ministro das Relações Exteriores da Coreia do Norte, por sua vez, chamou o discurso de Abe de "um deboche imperdoável para o povo coreano", segundo um comunicado distribuído pela agência oficial KCNA.
O comunicado acrescenta que as palavras de Shinzo Abe não foram "uma admissão e um pedido de desculpas honestos pelos crimes monstruosos e os danos impronunciáveis cometidos".
As Filipinas, por outro lado, disse ter construído com seu antigo inimigo "uma sólida amizade". Desde o fim da guerra, o Japão "atuou com compaixão", afirmou o chanceler filipino Albert del Rosario.
AFP

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