Vinícius vê em mim pouco mais que um pirralho mas me olha com bons olhos.
Por Ricardo Soares*
Porque a vida vem em ondas como o mar, porque hoje é sábado e amanhã será domingo eu acordo lembrando do meu encontro com Vinícius de Moraes. Estamos no Paço Municipal de São Bernardo do Campo e uma grande manifestação de primeiro de maio, dia do trabalhador, reúne o poeta mais Tito Costa, o prefeito da cidade e o então líder metalúrgico Lula.
Vinícius já viu de tudo, de Ipanema a Washington e pela intuição sabe que essa cerimônia em 1979 guarda algo de histórica. Ele lê seu poema "Operário em Construção" ao lado de um operário que um dia vai conduzir a nação sem ser rima nem solução. Estou aqui de passagem embora já tenha morado quase 12 anos em São Bernardo e agora me aventuro por terras paulistanas. Vinícius vê em mim pouco mais que um pirralho mas me olha com bons olhos de lindas poesias e benevolências.
Amo seus versos, prezo suas crônicas, adoro as letras de suas canções mas não lhe peço autógrafos. Estamos aqui, quase solenes, diante de uma nova pátria que estava nascendo. Só que nem ele e nem eu sabíamos, pois os milicos ainda mandavam no Brasil e em nossos destinos. Aliás acho que Vinícius sabia sim que algo muito novo estava se gestando mas não deu tempo de ele ver o resultado, visto que foi-se embora um ano e pouco depois.
Depois daquela manifestação fomos todos a um restaurante baiano ali mesmo ao lado do Paço Municipal. Comemos vatapá, abará, acarajé e falamos de mandingas. Rolaram cervejas , caipirinhas e pingas. Imaginei ter ouvido ele dizer que o encontro todo ia virar a letra de uma nova canção. Mas só imaginei, como imaginei esse encontro que jamais existiu mas poderia ter sido pois ao lado de um poeta tudo é permitido.
Porque a vida vem em ondas como o mar, porque hoje é sábado e amanhã será domingo eu acordo lembrando do meu encontro com Vinícius de Moraes. Estamos no Paço Municipal de São Bernardo do Campo e uma grande manifestação de primeiro de maio, dia do trabalhador, reúne o poeta mais Tito Costa, o prefeito da cidade e o então líder metalúrgico Lula.
Vinícius já viu de tudo, de Ipanema a Washington e pela intuição sabe que essa cerimônia em 1979 guarda algo de histórica. Ele lê seu poema "Operário em Construção" ao lado de um operário que um dia vai conduzir a nação sem ser rima nem solução. Estou aqui de passagem embora já tenha morado quase 12 anos em São Bernardo e agora me aventuro por terras paulistanas. Vinícius vê em mim pouco mais que um pirralho mas me olha com bons olhos de lindas poesias e benevolências.
Amo seus versos, prezo suas crônicas, adoro as letras de suas canções mas não lhe peço autógrafos. Estamos aqui, quase solenes, diante de uma nova pátria que estava nascendo. Só que nem ele e nem eu sabíamos, pois os milicos ainda mandavam no Brasil e em nossos destinos. Aliás acho que Vinícius sabia sim que algo muito novo estava se gestando mas não deu tempo de ele ver o resultado, visto que foi-se embora um ano e pouco depois.
Depois daquela manifestação fomos todos a um restaurante baiano ali mesmo ao lado do Paço Municipal. Comemos vatapá, abará, acarajé e falamos de mandingas. Rolaram cervejas , caipirinhas e pingas. Imaginei ter ouvido ele dizer que o encontro todo ia virar a letra de uma nova canção. Mas só imaginei, como imaginei esse encontro que jamais existiu mas poderia ter sido pois ao lado de um poeta tudo é permitido.
*Ricardo Soares é escritor, diretor de tv, jornalista e roteirista. Autor de 7 livros foi cronista dos jornais "O Estado de S.Paulo", "Jornal da Tarde", "Diário do Grande ABC" e da revista "Rolling Stone".
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