'Graças à Édith Piaf a música se tornou uma espécie de alma dos insensíveis'.
Por Lev Chaim*
Pode-se contar a vida de alguém em uma exposição? Quase... partes, diria eu. Mas a de Édith Giovanna Gassion, ou simplesmente Édith Piaf, que ocorre em Paris e vai até o dia 28 de agosto, na Biblioteca Nacional da França, para comemorar os 100 anos da data de seu nascimento, parece ser uma exceção. Ao sair dali, tem-se a impressão de que você a conheceu por dentro, de frente, de lado, de costas, de cima e por baixo.
É Piaf por todos os lados, numa coleção única de filmes, documentários, fotos, cartas pessoais, canções, com quatro grandes temas: a mulher do povo, a voz, os amores e a legenda. Quando menciono ‘única’ é pelo fato de estarem ali reunidos 400 itens da cantora em uma só exposição, provenientes de diversas fontes. É um banho de Piaf, com detalhes bem conhecidos e alguns até inéditos, jamais vistos em público. Até o seu legendário vestido negro, de shows, está ali exposto.
A mãe de Piaf cantava e o pai trabalhava em circo fazendo de tudo e até mesmo truques. Quando ele exercitava seus dotes de mágico na rua, ele a levava para encantar a multidão com a sua bela e dramática voz, apesar do corpo tão miúdo. Mas essa combinação não durou muito pois a filha, logo mais, se desvencilhou da família para cantar só, nas ruas do bairro boêmio da capital francesa, mais precisamente na Place Pigalle.
E foi ali que o compositor Raymond Asso a descobriu, em uma dessas exibições na rua. Com ele compondo e ela cantando, agora em teatros e galerias musicais, Piaf conquistou o país e o mundo. Um detalhe importante: foi Raymond que a batizou de Piaf e assim ficou para sempre – ou seja, ‘pardal’. De acordo com o curador da exposição, Joel Huthwohl, a mágica de Piaf está em seu repertório que emociona a todos. Ai, acrescentaria: e também em sua voz triste.
Fiquei deslumbrado com uma das cenas do filme, ‘Etoile sans lumière, de Marcel Blistène, de 1945. Em um estúdio de gravação, Piaf, com os olhos saltados no rosto, escutava atenta uma música que saia alto dos boxes de som. De repente, ela diz ao técnico: “A canção eu conheço, mas de quem é esta voz maravilhosa?” Em seu espanto, ficou óbvio que ela quase não podia acreditar que aquela era a sua própria voz, gravada. Logo depois, ela disse a frase que resumiu o seu segredo como cantora: “Essa voz é um pedacinho do meu coração”.
E conforme você caminha pela exposição, pode ouvir as músicas que a tornaram legendaria, não só na França, mas em todo o mundo, tais como ‘Hymne à L’amour’ (dedicada a seu amante, o boxista Marcel Cerdan), ‘La vie en rose’, ‘Non, je ne regrette rien’, ‘Milord’, entre muitas outras.
De acordo com o filósofo francês, Roland Barthes, ‘graças à Édith Piaf a música se tornou uma espécie de alma dos insensíveis’. Seus amores, seus amigos, sua fragilidade, sua fibra, seus olhos lacrimejantes, suplicantes, suas histórias e muito mais, além de sua voz trágica e bela, estão naquela homenagem de cem anos de seu nascimento, na Biblioteca Nacional da França. Das ruas do povão para o estrelato de uma nação, que ainda se orgulha de sua pequena grande dama, que um dia também foi acusada de colaborar com os nazistas, fato que ela negou até a morte.
Piaf era pura emoção quando cantava e quando se enamorava, sem nunca medir consequências e nem se importar com escândalos. Em termos de lamento, do tom triste na voz, apesar do gênero diferente de músicas, até pode se comparar as vozes de Piaf e de Agnetta, do grupo sueco Abba, principalmente quando a sueca cantou um dos últimos sucessos do grupo antes da separação: ‘The winner takes it all’. Eram vozes que entrelaçavam tristeza e emoção de forma tão perfeita e genuína quanto as cordas de um violino lamentoso.
A sua morte trágica, de câncer, em 1963, aos 47 anos, elevou Piaf ao pedestal de legenda da nação francesa, que a enterrou em grandes pompas, no cemitério mais histórico de todo o mundo, o Père-Lachaise, acompanhada por uma multidão infinita. Que ela tenha se arrependido de alguma coisa que tenha feito de errado, não creio, pois a sua música ‘Non, Je ne regrette rien’, cantada da forma que cantou, não nos deixa pensar outra coisa: ela sempre fez o que queria.
Non, je ne regrette rien:
Pode-se contar a vida de alguém em uma exposição? Quase... partes, diria eu. Mas a de Édith Giovanna Gassion, ou simplesmente Édith Piaf, que ocorre em Paris e vai até o dia 28 de agosto, na Biblioteca Nacional da França, para comemorar os 100 anos da data de seu nascimento, parece ser uma exceção. Ao sair dali, tem-se a impressão de que você a conheceu por dentro, de frente, de lado, de costas, de cima e por baixo.
É Piaf por todos os lados, numa coleção única de filmes, documentários, fotos, cartas pessoais, canções, com quatro grandes temas: a mulher do povo, a voz, os amores e a legenda. Quando menciono ‘única’ é pelo fato de estarem ali reunidos 400 itens da cantora em uma só exposição, provenientes de diversas fontes. É um banho de Piaf, com detalhes bem conhecidos e alguns até inéditos, jamais vistos em público. Até o seu legendário vestido negro, de shows, está ali exposto.
A mãe de Piaf cantava e o pai trabalhava em circo fazendo de tudo e até mesmo truques. Quando ele exercitava seus dotes de mágico na rua, ele a levava para encantar a multidão com a sua bela e dramática voz, apesar do corpo tão miúdo. Mas essa combinação não durou muito pois a filha, logo mais, se desvencilhou da família para cantar só, nas ruas do bairro boêmio da capital francesa, mais precisamente na Place Pigalle.
E foi ali que o compositor Raymond Asso a descobriu, em uma dessas exibições na rua. Com ele compondo e ela cantando, agora em teatros e galerias musicais, Piaf conquistou o país e o mundo. Um detalhe importante: foi Raymond que a batizou de Piaf e assim ficou para sempre – ou seja, ‘pardal’. De acordo com o curador da exposição, Joel Huthwohl, a mágica de Piaf está em seu repertório que emociona a todos. Ai, acrescentaria: e também em sua voz triste.
Fiquei deslumbrado com uma das cenas do filme, ‘Etoile sans lumière, de Marcel Blistène, de 1945. Em um estúdio de gravação, Piaf, com os olhos saltados no rosto, escutava atenta uma música que saia alto dos boxes de som. De repente, ela diz ao técnico: “A canção eu conheço, mas de quem é esta voz maravilhosa?” Em seu espanto, ficou óbvio que ela quase não podia acreditar que aquela era a sua própria voz, gravada. Logo depois, ela disse a frase que resumiu o seu segredo como cantora: “Essa voz é um pedacinho do meu coração”.
E conforme você caminha pela exposição, pode ouvir as músicas que a tornaram legendaria, não só na França, mas em todo o mundo, tais como ‘Hymne à L’amour’ (dedicada a seu amante, o boxista Marcel Cerdan), ‘La vie en rose’, ‘Non, je ne regrette rien’, ‘Milord’, entre muitas outras.
De acordo com o filósofo francês, Roland Barthes, ‘graças à Édith Piaf a música se tornou uma espécie de alma dos insensíveis’. Seus amores, seus amigos, sua fragilidade, sua fibra, seus olhos lacrimejantes, suplicantes, suas histórias e muito mais, além de sua voz trágica e bela, estão naquela homenagem de cem anos de seu nascimento, na Biblioteca Nacional da França. Das ruas do povão para o estrelato de uma nação, que ainda se orgulha de sua pequena grande dama, que um dia também foi acusada de colaborar com os nazistas, fato que ela negou até a morte.
Piaf era pura emoção quando cantava e quando se enamorava, sem nunca medir consequências e nem se importar com escândalos. Em termos de lamento, do tom triste na voz, apesar do gênero diferente de músicas, até pode se comparar as vozes de Piaf e de Agnetta, do grupo sueco Abba, principalmente quando a sueca cantou um dos últimos sucessos do grupo antes da separação: ‘The winner takes it all’. Eram vozes que entrelaçavam tristeza e emoção de forma tão perfeita e genuína quanto as cordas de um violino lamentoso.
A sua morte trágica, de câncer, em 1963, aos 47 anos, elevou Piaf ao pedestal de legenda da nação francesa, que a enterrou em grandes pompas, no cemitério mais histórico de todo o mundo, o Père-Lachaise, acompanhada por uma multidão infinita. Que ela tenha se arrependido de alguma coisa que tenha feito de errado, não creio, pois a sua música ‘Non, Je ne regrette rien’, cantada da forma que cantou, não nos deixa pensar outra coisa: ela sempre fez o que queria.
Non, je ne regrette rien:
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou mais de 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Domtotal.
Comentários
Sempre senti uma tristeza na inconfundível voz de La Piaf.
Muito obrigado, pois aprecio muitíssimo a vossa opinião. Merci!
Muito obrigado, especialmente vindo de uma especialista em França como você!
Figura inesquecivel!Voz maravilhosa!Cara de Paris!
Muito obrigado, especialmente vindo de uma especialista em França como você!
Tive a sensação de estar lá na exposição de tão linda, real e sensível descrição Lev Chaim fez da mesma. Ele a fez com o coração na pena!!! Obrigada Lev. Assisti o filme recentemente e gostei bastante.
Que ótimo Liana! Adorei o vosso comentário e fico muito grato, pois para vir de quem vem, só se alegrando mesmo! Merci!
Toda terça temos uma aula interessante dada por Lev Chaim. Desta vez não foi diferente. Fiquei com água na boca para aproveitar esta exposição e a esperança de, quem sabe um dia ela vir por aqui.
São bondades de vossos olhos! Fico terno e agradecido com a reação!
A voz dessa divina cantora, vinha do coração e da sua alma. Quando ouvi pela primeira vez, fiquei arrepiado, isso aconteceu há mais de 50 anos. A música era Hino ao Amor, inesquecível.
Concordo totalmente! A sua forma de cantar me impressiona muito!
Eterna! Maravilhosa!
Concordo plenamente!