Chamem como quiserem: é a energia, o clima, a onda, a vibe.
Por Fernando Fabbrini
O caminhão foi parado na estrada por conta de uma banalidade: luz de freio queimada ou algo assim. Os guardas rodoviários desconfiaram da ansiedade do motorista, remexeram a carga e lá estavam não sei quantos quilos de droga. Que coincidência, hein? Outro exemplo: o bandido comete atrocidades, tenta fugir da cena do crime e termina entalado na janela, à disposição do rapa. Ou o carro no qual fugia a quadrilha derrapa e capota. Que azar, hein? Atento a esses casos quero crer que, quando a intenção é maldosa, cedo ou tarde ela acaba – por afinidade - atraindo má sorte, flagrantes, frustrações, confusões de todo tipo.
Foi nos anos setenta que surgiu a gíria baixo-astral. Recém-iniciada nos mistérios da astrologia, feng-shui, meditação transcendental, carma, Zen, macrobiótica e demais caminhos alternativos, nossa geração de malucos-beleza começou a perceber que sim, existiam mais mistérios entre o Céu e a Terra do que a gente pudesse sonhar, bicho. Chamem como quiserem: é a energia, o clima, a onda, a vibe. Estar bem consigo e com os outros, em paz e de boa, é uma meta preciosa, buscada hoje até pelas pragmáticas empresas modernas, de olho no lucro, na produtividade e em outros valores domundo real.
Cada um crê no que acredita – diz o mote. Não é o caso de entrar aqui em discussões de moral, fé ou religião; longe de mim esta polêmica de foro intimíssimo. Respeito todas as crenças, ao meu modo, e acho que todas buscam o bem. Agrada-me principalmente constatar que certos conceitos, com pequenas mudanças, estão presentes em todas elas. Seja o cara monoteísta, politeísta, ateu, islâmico, rastafári, cristão, mórmon, parse ou zoroastrista, ele traz no seu coração (ou na sua mente, se preferirem) regras mais ou menos semelhantes de comportamento. Roubar não é legal, seja em Nova Iorque, em Quixeramobim ou no seio de uma tribo africana completamente isolada do resto do mundo. Matar, também não. Mentir.... Hum... Não está com nada. Trair a confiança do amigo é sacanagem. E por aí vai. Acho que são – ou deveriam ser - verdades eternas, universais, instaladas no nosso software já ao nascer.
Meditando em torno desses temas, para minha surpresa começo a levitar e a enxergar um grande país lá embaixo. De maneira geral, é uma nação de gente boa, de clima tropical e bonita por natureza. Porém, vou te contar, viu... Como tem gente safada, roubando e sacaneando, hein? A prefeita, no desempenho de suas funções, recebeu alguns milhões para investir nas escolas de sua pequena e miserável cidade. Mas, não: torrou tudo em cruzeiros marítimos e no shopping - em I-Phones, vestidos e maquiagem. O outro foi eleito para defender as causas dos pobres-coitados, confiantes em mudanças para melhor. Qual o quê: o cara defende é o próprio bolso e os interesses financeiros da família, com direito a depósitos no paraíso fiscal, reservas para a incerta aposentadoria. Os demais donos do poder, guiados pela mente odiosa de seus marqueteiros, são reeleitos pelo povão prometendo transparência, justiça, saúde, educação, vida nova e próspera para todos. É sempre mentira. Por isso, na minha lógica das atrações fatais, dá tudo errado e dá nisso aí - um grande baixo-astral nacional. País parado, greves, desemprego, inflação, ausência de líderes confiáveis, acirramento e diálogo impossível. E a outrora arrogante presidente no mar de lama, se agarrando à boia dos acordos nauseantes para não ir ao fundo num abraço de afogados.
Ai de nós, adeptos do alto-astral, buscando fazer as coisas direitinho, com respeito, justiça, verdade. Vamos de carona indesejável nessa viagem ao Inferno de Dante, onde habitam a Ira, a Ganância, a Violência, a Fraude, a Traição e outras feras do gênero. Não são fatos novos, claro; mas parece que a safadeza tomou impulso, ganhou fôlego e subiu muitos degraus nos últimos tempos – e subiu correndo.
Meu consolo vem de um antigo provérbio oriental, nos lembrando que uma casa em construção muitas vezes fica parecida com uma casa em ruínas. Enquanto espero o fim das obras, suspeito que o grande baixo-astral nacional é o resultado da somatória de milhões de baixos-astrais que se acumulam em alguma parte sutil do nosso coletivo. Incluo desde as pequenas transgressões até as grandes falcatruas. A energia ruim, aquela bad, se espalha e contamina a redondeza, alcançando nossos níveis de consciência e cortando o nosso barato. Eu disse barato? Que nada: tá muito caro viver assim. Está custando nossa esperança.
O caminhão foi parado na estrada por conta de uma banalidade: luz de freio queimada ou algo assim. Os guardas rodoviários desconfiaram da ansiedade do motorista, remexeram a carga e lá estavam não sei quantos quilos de droga. Que coincidência, hein? Outro exemplo: o bandido comete atrocidades, tenta fugir da cena do crime e termina entalado na janela, à disposição do rapa. Ou o carro no qual fugia a quadrilha derrapa e capota. Que azar, hein? Atento a esses casos quero crer que, quando a intenção é maldosa, cedo ou tarde ela acaba – por afinidade - atraindo má sorte, flagrantes, frustrações, confusões de todo tipo.
Foi nos anos setenta que surgiu a gíria baixo-astral. Recém-iniciada nos mistérios da astrologia, feng-shui, meditação transcendental, carma, Zen, macrobiótica e demais caminhos alternativos, nossa geração de malucos-beleza começou a perceber que sim, existiam mais mistérios entre o Céu e a Terra do que a gente pudesse sonhar, bicho. Chamem como quiserem: é a energia, o clima, a onda, a vibe. Estar bem consigo e com os outros, em paz e de boa, é uma meta preciosa, buscada hoje até pelas pragmáticas empresas modernas, de olho no lucro, na produtividade e em outros valores domundo real.
Cada um crê no que acredita – diz o mote. Não é o caso de entrar aqui em discussões de moral, fé ou religião; longe de mim esta polêmica de foro intimíssimo. Respeito todas as crenças, ao meu modo, e acho que todas buscam o bem. Agrada-me principalmente constatar que certos conceitos, com pequenas mudanças, estão presentes em todas elas. Seja o cara monoteísta, politeísta, ateu, islâmico, rastafári, cristão, mórmon, parse ou zoroastrista, ele traz no seu coração (ou na sua mente, se preferirem) regras mais ou menos semelhantes de comportamento. Roubar não é legal, seja em Nova Iorque, em Quixeramobim ou no seio de uma tribo africana completamente isolada do resto do mundo. Matar, também não. Mentir.... Hum... Não está com nada. Trair a confiança do amigo é sacanagem. E por aí vai. Acho que são – ou deveriam ser - verdades eternas, universais, instaladas no nosso software já ao nascer.
Meditando em torno desses temas, para minha surpresa começo a levitar e a enxergar um grande país lá embaixo. De maneira geral, é uma nação de gente boa, de clima tropical e bonita por natureza. Porém, vou te contar, viu... Como tem gente safada, roubando e sacaneando, hein? A prefeita, no desempenho de suas funções, recebeu alguns milhões para investir nas escolas de sua pequena e miserável cidade. Mas, não: torrou tudo em cruzeiros marítimos e no shopping - em I-Phones, vestidos e maquiagem. O outro foi eleito para defender as causas dos pobres-coitados, confiantes em mudanças para melhor. Qual o quê: o cara defende é o próprio bolso e os interesses financeiros da família, com direito a depósitos no paraíso fiscal, reservas para a incerta aposentadoria. Os demais donos do poder, guiados pela mente odiosa de seus marqueteiros, são reeleitos pelo povão prometendo transparência, justiça, saúde, educação, vida nova e próspera para todos. É sempre mentira. Por isso, na minha lógica das atrações fatais, dá tudo errado e dá nisso aí - um grande baixo-astral nacional. País parado, greves, desemprego, inflação, ausência de líderes confiáveis, acirramento e diálogo impossível. E a outrora arrogante presidente no mar de lama, se agarrando à boia dos acordos nauseantes para não ir ao fundo num abraço de afogados.
Ai de nós, adeptos do alto-astral, buscando fazer as coisas direitinho, com respeito, justiça, verdade. Vamos de carona indesejável nessa viagem ao Inferno de Dante, onde habitam a Ira, a Ganância, a Violência, a Fraude, a Traição e outras feras do gênero. Não são fatos novos, claro; mas parece que a safadeza tomou impulso, ganhou fôlego e subiu muitos degraus nos últimos tempos – e subiu correndo.
Meu consolo vem de um antigo provérbio oriental, nos lembrando que uma casa em construção muitas vezes fica parecida com uma casa em ruínas. Enquanto espero o fim das obras, suspeito que o grande baixo-astral nacional é o resultado da somatória de milhões de baixos-astrais que se acumulam em alguma parte sutil do nosso coletivo. Incluo desde as pequenas transgressões até as grandes falcatruas. A energia ruim, aquela bad, se espalha e contamina a redondeza, alcançando nossos níveis de consciência e cortando o nosso barato. Eu disse barato? Que nada: tá muito caro viver assim. Está custando nossa esperança.
* Fernando Fabbrini é roteirista, cronista e escritor, com dois livros publicados. Participa de coletâneas literárias no Brasil e na Itália e publica suas crônicas também às quintas-feiras no jornal O TEMPO.
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