Alemanhas Ocidental e Oriental se uniram no dia 3 de outubro de 1990.
'Somos um povo. Seremos um Estado', disse último premiê da RDA.
A reunificação da Alemanha, que completa 25 anos neste sábado (3), foi selada após um vertiginoso processo em que, em poucos meses, deu um fim pacífico a uma divisão de quatro décadas.
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Em 2 de outubro de 1990, pouco antes da meia-noite, o último chefe do governo da República Democrática Alemã (RDA, Alemanha Oriental), Lothar de Maiziere, definiu o fim do país como "uma despedida sem lágrimas".
"Somos um povo. Seremos um Estado", começou seu discurso.
A reunificação da Alemanha era o fim de um processo vertiginoso iniciado no verão de 1989 com a emigração em massa de cidadãos da Alemanha Oriental através das fronteiras abertas da Hungria e que continuou com a revolução pacífica que teve como ápice a queda do muro de Berlim, em 9 de novembro.
O desfecho rápido e sem uma gota de sangue derramado pegou muitos de surpresa. Poucos anos antes, esse cenário certamente só seria encarado como um sonho inverossímil.
"Na década de 80, a reunificação tinha desaparecido completamente da linguagem do governo alemão", explicou o historiador August Heinrich Winkler em um encontro com a imprensa estrangeira.
"Depois da queda do muro, foi preciso improvisar muito, e se improvisou; os funcionários alemães romperam com o mito de serem incapazes de ser flexíveis", destacou Winkler.
Em 28 de novembro, o então chanceler federal, Helmut Kohl, apresentou ao Bundestag (câmara baixa do parlamento) seu programa de dez pontos para a superação da divisão da Alemanha e da Europa - sem mostrá-lo previamente a seus aliados europeus ou aos Estados Unidos - o que colocou a reunificação na agenda política imediata.
No entanto, o caminho não seria fácil, com receios tanto no plano internacional como no interno.
O próprio Kohl lembra no segundo volume de suas memórias a hostilidade que seus planos encontraram na cúpula europeia realizada nos dias 8 e 9 de novembro de 1989 em Estrasburgo, na França.
A primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, constatou que os alemães estavam a ponto de retornar depois que o resto da Europa os derrotou duas vezes, enquanto seu colega italiano, Mario Andreotti, alertava sobre os riscos do pangermanismo.
Entre os líderes da revolução pacífica na RDA, era majoritária a ideia de uma democratização do país, mas mantendo a independência frente à antiga República Federal da Alemanha.
O próprio plano de Kohl era inicialmente concebido com um processo em várias períodos - que passava por medidas de apoio humanitário imediato e a colaboração entre os dois Estados -, mas em uma visita a Dresden em 19 de dezembro, ele constatou que o terreno para a reunificação estava mais que preparado na RDA.
"A manifestação com Kohl em frente às ruínas da (igreja) Frauenkirche deixou claro que o povo já tinha avançado bastante no caminho rumo à reunificação e que seu plano de dez pontos tinha sido superado pela realidade", constata o último relatório do governo alemão sobre o estado da unidade.
As únicas eleições livres da história da RDA, realizadas em 18 de março de 1990, deram a vitória a uma coalizão de partidos liderados pela União Democrata-Cristã (CDU), cujo líder no leste, De Maiziere, tinha se comprometido a concretizar a unidade alemã o mais rápido possível.
Faltava conseguir o apoio internacional, e o então presidente dos Estados Unidos, George Bush, se mostrou de acordo desde o princípio.
Os parceiros europeus terminaram cedendo a suas reservas iniciais frente à concessão de Kohl de acelerar o processo de união monetária, com a qual a Alemanha renunciava ao poder do marco alemão que o presidente francês, François Mitterrand, chegou a qualificar como "bomba atômica" alemã.
Ficava pendente a União Soviética, que em um primeiro momento mostrou sua oposição a que a futura Alemanha unida pertencesse à Otan.
No entanto, em 31 de maio de 1990, o presidente soviético, Mikhail Gorbachev, cedeu nesse ponto e fez possível o chamado Tratado 2+4, entre os dois Estados alemães e as quatro potências aliadas (França, Reino Unido, EUA e a URSS), que aplainou o caminho para a reunificação.
A porta estava aberta, mas não se sabia por quanto tempo porque "todo o mundo sabia a fragilidade da posição de Gorbachev em seu país, e por isso havia que agir depressa", afirmou Winkler.
Assim, sem demora, em 23 de agosto de 1990 o parlamento da RDA votou a favor da integração do país à República Federal da Alemanha, e no dia 31 do mesmo mês foi assinado o tratado da unidade, ratificado em setembro pelos Parlamentos dos dois países para sua aplicação efetiva em 3 de outubro de 25 anos atrás
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