sábado, 3 de outubro de 2015

Reunificação da Alemanha completa 25 anos

Alemanhas Ocidental e Oriental se uniram no dia 3 de outubro de 1990.
'Somos um povo. Seremos um Estado', disse último premiê da RDA.

Da EFE

Do lado ocidental de Berlim, pessoas acenam para familiares que vivem do outro lado do muro, em foto de agosto de 1962 (Foto: Werner Kreusch/AP/Arquivo)Do lado ocidental de Berlim, pessoas acenam
para familiares que vivem do outro lado do muro,
em foto de agosto de 1962 (Foto: Werner Kreusch/
AP/Arquivo)
A reunificação da Alemanha, que completa 25 anos neste sábado (3), foi selada após um vertiginoso processo em que, em poucos meses, deu um fim pacífico a uma divisão de quatro décadas.
Em 2 de outubro de 1990, pouco antes da meia-noite, o último chefe do governo da República Democrática Alemã (RDA, Alemanha Oriental), Lothar de Maiziere, definiu o fim do país como "uma despedida sem lágrimas".
"Somos um povo. Seremos um Estado", começou seu discurso.
A reunificação da Alemanha era o fim de um processo vertiginoso iniciado no verão de 1989 com a emigração em massa de cidadãos da Alemanha Oriental através das fronteiras abertas da Hungria e que continuou com a revolução pacífica que teve como ápice a queda do muro de Berlim, em 9 de novembro.
O desfecho rápido e sem uma gota de sangue derramado pegou muitos de surpresa. Poucos anos antes, esse cenário certamente só seria encarado como um sonho inverossímil.
"Na década de 80, a reunificação tinha desaparecido completamente da linguagem do governo alemão", explicou o historiador August Heinrich Winkler em um encontro com a imprensa estrangeira.
"Depois da queda do muro, foi preciso improvisar muito, e se improvisou; os funcionários alemães romperam com o mito de serem incapazes de ser flexíveis", destacou Winkler.
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Soldado oriental vigia a construção do Muro de Berlim  (Foto: Stöhr/Deutsches Bundesarchiv)Soldado oriental vigia a construção do Muro de Berlim (Foto: Stöhr/Deutsches Bundesarchiv)
Em 28 de novembro, o então chanceler federal, Helmut Kohl, apresentou ao Bundestag (câmara baixa do parlamento) seu programa de dez pontos para a superação da divisão da Alemanha e da Europa - sem mostrá-lo previamente a seus aliados europeus ou aos Estados Unidos - o que colocou a reunificação na agenda política imediata.
No entanto, o caminho não seria fácil, com receios tanto no plano internacional como no interno.
O próprio Kohl lembra no segundo volume de suas memórias a hostilidade que seus planos encontraram na cúpula europeia realizada nos dias 8 e 9 de novembro de 1989 em Estrasburgo, na França.
A primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, constatou que os alemães estavam a ponto de retornar depois que o resto da Europa os derrotou duas vezes, enquanto seu colega italiano, Mario Andreotti, alertava sobre os riscos do pangermanismo.
Entre os líderes da revolução pacífica na RDA, era majoritária a ideia de uma democratização do país, mas mantendo a independência frente à antiga República Federal da Alemanha.
O ex-chanceler alemão Helmut Kohl, artífice da Reunificação, em foto de 16 de maio (Foto: Daniel Roland/AFP)O ex-chanceler alemão Helmut Kohl, artífice da Reunificação, em foto de 16 de maio (Foto: Daniel Roland/AFP)
O próprio plano de Kohl era inicialmente concebido com um processo em várias períodos - que passava por medidas de apoio humanitário imediato e a colaboração entre os dois Estados -, mas em uma visita a Dresden em 19 de dezembro, ele constatou que o terreno para a reunificação estava mais que preparado na RDA.
"A manifestação com Kohl em frente às ruínas da (igreja) Frauenkirche deixou claro que o povo já tinha avançado bastante no caminho rumo à reunificação e que seu plano de dez pontos tinha sido superado pela realidade", constata o último relatório do governo alemão sobre o estado da unidade.
As únicas eleições livres da história da RDA, realizadas em 18 de março de 1990, deram a vitória a uma coalizão de partidos liderados pela União Democrata-Cristã (CDU), cujo líder no leste, De Maiziere, tinha se comprometido a concretizar a unidade alemã o mais rápido possível.
Bandeira da Alemanha Oriental (Foto: Jwnabd/Wikimedia Commons)Bandeira da Alemanha Oriental (Foto: Jwnabd/Wikimedia Commons)
Faltava conseguir o apoio internacional, e o então presidente dos Estados Unidos, George Bush, se mostrou de acordo desde o princípio.
Os parceiros europeus terminaram cedendo a suas reservas iniciais frente à concessão de Kohl de acelerar o processo de união monetária, com a qual a Alemanha renunciava ao poder do marco alemão que o presidente francês, François Mitterrand, chegou a qualificar como "bomba atômica" alemã.
Ficava pendente a União Soviética, que em um primeiro momento mostrou sua oposição a que a futura Alemanha unida pertencesse à Otan.
No entanto, em 31 de maio de 1990, o presidente soviético, Mikhail Gorbachev, cedeu nesse ponto e fez possível o chamado Tratado 2+4, entre os dois Estados alemães e as quatro potências aliadas (França, Reino Unido, EUA e a URSS), que aplainou o caminho para a reunificação.
A porta estava aberta, mas não se sabia por quanto tempo porque "todo o mundo sabia a fragilidade da posição de Gorbachev em seu país, e por isso havia que agir depressa", afirmou Winkler.
Assim, sem demora, em 23 de agosto de 1990 o parlamento da RDA votou a favor da integração do país à República Federal da Alemanha, e no dia 31 do mesmo mês foi assinado o tratado da unidade, ratificado em setembro pelos Parlamentos dos dois países para sua aplicação efetiva em 3 de outubro de 25 anos atrás
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