sábado, 17 de outubro de 2015

Vamos celebrar as diferenças

A cultura do ódio caminha paralela à do individualismo.

Um dia desses vi uma propaganda de uma operadora de celular. Coisa estranhíssima! Era um monte de gente andando, na mesma direção, falando ao celular, com cara de felizes, mas não estabeleciam contato entre si. A única voz ouvida era a do narrador que caminhava entre eles e falava diretamente para o expectador (ou para a câmera) sem usar celular. Quando ele se dirigiu para um dos que caminhavam ao seu lado, este só lhe lançou um olhar como quem quer continuar falando ao telefone. Fiquei pensando: seria esse um modelo de vida a se defender? O que eu vi foi uma multidão caminhando rumo a lugar nenhum, juntos, porém sozinhos.

Outro dia vi uma foto de uma marca de refrigerante – não a encontro mais – que dizia “hedonismo: um direito seu”. Numa época tão marcada por individualismos que têm dificultado o convívio em sociedade, de tantas intolerâncias, a defesa do prazer individual e imediato como o supremo bem da vida, princípio e fim da vida moral, pareceu-me demasiado. Estaríamos numa espécie de “síndrome de Peter Pan” que não quer crescer para evitar tudo o que possa ser desagradável? Afinal de contas, há coisas que precisam ser feitas e que não são prazerosas, mas estão na ordem do dever. Seu trabalho pode não ser o mais prazeroso, mas é o que põe o pão na sua mesa. É certo que você pode tornar as coisas mais agradáveis, mas dor e sofrimentos são realidades humanas inevitáveis com as quais precisamos aprender a lidar.

Enquanto os discursos em prol do individualismo e hedonismo vão dominando o cenário publicitário, enfatizando o prazer individual e uma autonomia que desconhece dever, crescem as posturas na sociedade de intolerância. A cultura do ódio caminha paralela à do individualismo. Se eu preciso me impor, você precisa ceder – eis a mentalidade que tem crescido nas relações sociais, marcadamente as mediadas em plataformas digitais. Os discursos intolerantes superabundam comentários em redes sociais e sites de notícias. O outro, que poderia ser visto como paraíso, por quem somos devolvidos a nós mesmos na experiência do encontro, é visto como inferno, uma vez que põe limites ao nosso ego.

Precisamos celebrar as diferenças e criar uma cultura de parceria, de colaboração mútua. Até na economia se têm buscado soluções no conceito de solidariedade. As ideias eugênicas e padronizadoras apregoadas em regimes fascistas só se mostraram nefastas. Em tempos de imigração, aprender a acolher o diferente parece ser o caminho mais humanizador. E isso não virá somente por meio do discurso intelectual. Precisa vir acompanhado de uma apreciação estética, de uma afetação admiradora e simpática por aquele que não sou eu. Essa simpatia é que tira o olhar do diferente como exótico. Sem ela, colocamo-nos na relação com as outras culturas como se estivéssemos num zoológico humano que até gera admiração, mas não comprometimento.

Festa na Gruta!

Neste sábado, 17/10, na ocupação do coletivo Casa de Passagem, Gruta! – Centro Cultural,  vai acontecer uma festa para celebrar a diferença. A noite é de JUNGLE CLUB - A MÚSICA DOS 4 CANTOS DO MUNDO. Ela é toda dedicada a World-Music, Afrobeat, Brasilidades, Latinidades e Música Regional dos 4 cantos do mundo. E para combinar com essa mistura, as músicas casam formato analógico (vinil) e digital.

Será a partir das 23:00 horas, e o valor (somente em dinheiro) é de apenas 10,00 até às 00h e depois passa para 15,00.

Informações: facebook.com/jungleclube ou casadepassagem.blogspot.com.

Local: Gruta - Rua Pitangui 3613c,Horto, Belo Horizonte

Gilmar P. da Silva SJMestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardiana. 

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