Padre Geovane Saraiva*
No dia 1º de dezembro de 2015
será a abertura do centenário do martírio do bem-aventurado Charles de
Foucauld, assassinado no Deserto do Saara em 1º de dezembro de 1916. Aqui no
Brasil, a celebração principal se dará na Basílica Nacional de Aparecida-SP, mas o
mundo inteiro, nos irmãos e irmãs que se alimentam da espiritualidade do
querido irmão universal, que pela vida de oração e contemplação, que pelo seu
exemplo, procura encontrar o absoluto de Deus. Temos como condição sine qua
non: a conversão permanente, a Eucaristia como o eixo central, a oração do
abandono, a busca do último lugar e o Evangelho da Cruz. Toda a família de
Charles de Foucauld, reunida ao redor da Mesa Sagrada em ação de graças pelo
dom da sua vida, quer “proclamar bem
alto o Evangelho com a própria vida”. Foi a partir da incredulidade,
indiferença, egoísmo e impiedade que caiu nas mãos de Deus. Foi arrebatado e
seduzido por Jesus de Nazaré, tornando-se único e maior tesouro de sua vida.
“Se alguém está em Cristo é uma nova criatura. Passaram-se as coisas antigas”
(2 Cr 5, 17).
É no mundo utilitarista, marcado por vantagens, atitudes e comportamentos acintosos, que constatamos a busca dos primeiros lugares, em detrimento do bem maior, em favor da humanidade, seja no Brasil, na América e no mundo inteiro. É no contexto de dor e sofrimento, pelo qual passa a humanidade, que Deus enviou o Papa Francisco, que, ao asseverar na Praça de São Pedro, antes da oração mariana do Angelus, disse que nosso agir deve ser diferente, por ocasião da solenidade de Cristo Rei do Universo (22/11/2015): “A força do Reino de Cristo é o amor; a lógica evangélica, ao invés, se expressa na humildade e na gratuidade, se afirma silenciosa, mas eficazmente com a força da verdade. Se Jesus tivesse descido da cruz, teria cedido à tentação do príncipe deste mundo; ao invés, Ele não salva a si mesmo para poder salvar os outros. Dizer que Jesus deu a vida pelo mundo é verdadeiro, mas é mais bonito dizer que Jesus deu a sua vida por mim”.
Charles de Foucauld nasceu na
França (1858-1916). No dia 30 de outubro de 1886, submeteu-se à vontade de
Deus. Em Paris, encontrando Padre
Huvelin, vigário da Igreja de Santo Agostinho, em uma conversa com ele,
confidenciou-lhe: “Padre, não tenho fé, peço-te que me instrua”. O padre foi
ríspido: “Te ajoelha e confesse teus pecados! Então, crerá!”. Obediente,
experimentou uma alegria indizível, a alegria do filho pródigo.
Charles de Foucauld traçou um
caminho para os seus seguidores, propondo-lhes o caminho da cruz e do
Evangelho. Portanto, ao ouvir algo do irmão querido, com sua vida e seus
escritos, é impossível permanecer na indiferença. Ele nos conduz e nos arrasta
ao seguimento de Jesus de Nazaré, seu “bem-amado no Senhor”. Cristo precisa de
nós, não como admiradores, cheios de sentimentos, mas como seguidores. Que a
voz profética deste irmão muito querido não cale jamais, e que as pessoas de
boa vontade sempre mais possam se inspirar e ser inspiradoras na graça do nosso
bom Deus, ao vivermos o ano do centenário de seu martírio.
Ele foi beatificado pelo Papa
Bento XVI (13/11/2005). Seu testemunho e sua mística fascinaram e encantaram e
continuam a fascinar muita gente de fé, os seus seguidores espalhados pelo
mundo inteiro, concretizados no amor e na solidariedade para com os que estão
longe do convívio social, os empobrecidos e excluídos do convívio social.
Charles de Foucauld, ao levar a Eucaristia para os irmãos no Deserto do Saara,
ofereceu-lhes a mesma ternura e compaixão do Filho de Deus, com uma enorme
vontade de ser amigo de todos, bons e maus, de amar a todos indistintamente.
Quis ser, de verdade, o irmão universal, assemelhando-se a Jesus de Nazaré em
tudo, sobretudo na sua paixão e calvário.
Que o centenário do seu martírio
seja consequente e sensibilize nosso mundo, no sentido de se abraçar o grande
sonho do Papa Francisco, o de um mundo solidário, de filhos de Deus e irmãos
uns dos outros. Guardemos, no mais íntimo do íntimo, as seguintes palavras de
Charles de Foucauld: “Tão logo que acreditei existir um Deus, compreendi que só
podia fazer uma única coisa: viver só para Ele”. Assim seja!
Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da
Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE
–geovanesaraiva@gmail.com
Gostei muito do seu artigo. Parabéns.
ResponderExcluirObrigado!
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