segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Nossa qualidade de vida

Marcus Eduardo de Oliveira

Nem é tão necessário prestarmos muita a atenção ao cotidiano para logo nos darmos conta que a nossa vida depende do funcionamento da economia, quer seja do ponto de vista puramente econômico (produção e consumo), bem como em relação aos fatos que ligam a economia aos ambientes social, político, ambiental e institucional.
Se hoje estamos ou não empregados, se amanhã obteremos ou não algum rendimento, se nos alimentaremos hoje, amanhã ou depois, se usaremos ou não o transporte público, se matricularemos nossos filhos em escolas públicas ou particulares, se conseguiremos atingir a aposentadoria em tempo hábil para desfrutarmos um relativo conforto e sossego, se enfrentaremos a escassez de alimentos face aos desequilíbrios climáticos, se nos faltará a água para o banho diário, para o preparo dos alimentos, se continuaremos “respirando” poluição em meio ao caótico trânsito das grandes cidades, se escolheremos nossos governantes pela via democrática; tudo isso, sem exceção, está relacionado, em maior ou em menor grau, ao andamento (bom ou ruim) da atividade econômica, daí a expressão já consagrada de ser a economia uma espécie de eixo estruturador da sociedade; afinal, tudo está conectado – política, economia, administração, ciência, tecnologia, natureza, meio ambiente, ser humano e as diversas formas de vidas.
Olhando especificamente para alguns “ambientes” citados e relacionando-os uns com os outros, é oportuno, de imediato, afirmar que não é possível dissociar a economia da política; nem a política da administração; nem a ciência, com suas várias conquistas em muitos campos, do nosso modo de viver, e muito menos as formas de vidas das relações de dependência que essas mantêm com a natureza.
Tudo está conectado, é importante reiterar. Simples exemplos reafirmam isso: pelo lado da economia, vejamos que se a taxa de câmbio se eleva, aumenta-se, por consequência, o preço de tudo o que é importado e isso trará um pouco mais de irritação e desconforto financeiro às donas de casas que, de imediato perceberão o encarecimento no preço do pãozinho, feito com trigo importado.
A lógica por trás disso é bem simples. “A economia é um sistema de engrenagens articuladas”, diz Ladislau Dowbor em “O Pão Nosso de Cada Dia” (ed. Perseu Abramo, 2015).
Sendo um “sistema” articulado aos outros, obviamente se um setor econômico específico é afetado por qualquer movimentação, digamos, “fora do normal”, outros setores, de igual maneira, também sentirão os impactos, afetando muitas vezes o desempenho da economia.
O ponto de partida – e, certamente, a premissa mais importante – de tudo o que citamos e de todo o resto não citado, está em alcançarmos qualidade de vida. Entretanto, por ser um conceito muito amplo e extremamente subjetivo, aqui não nos arriscaremos a uma definição do que significa “qualidade de vida”.
Importa apenas buscarmos isso, tendo noção exata de tudo aquilo que nos faz bem, que nos alivia do peso diário do viver, com as atribulações normais do cotidiano.
O que interessa, de fato, é atingirmos bem-estar, de preferência pelos caminhos que podem levar a uma democratização da economia, reorientando os processos produtivos em função do conjunto da sociedade.
Quanto a isso, que não percamos de vista que qualidade, além de se auto relacionar com “qualidade”, também depende dela mesma em tantas outras variadas dimensões. Assim, a nossa “qualidade de vida” – tão almejada como padrão de estilo de vida – depende, por exemplo, da “qualidade” que as políticas públicas imprimirão ao sistema educacional, na formação e qualificação dos profissionais do amanhã.
De igual maneira, a “qualidade da nossa vida” depende da “qualidade” moral, ética e comportamental dos postulantes que governarão o país, como também depende da “qualidade” estrutural e organizacional com que nossas cidades vão aos poucos – ao menos é isso que se espera -, se capacitando para oferecer serviços com “qualidade” aos munícipes.
A nossa qualidade de vida depende também do correto entendimento de que o “problema” da economia nos dias de hoje não está em produzir mais; o que se tem por aí já é o suficiente. Face a isso, se faz necessário definir então como “distribuir” essa produção excessiva, não deixando de lado, em termos de mensuração, o impacto ambiental que a produção além da conta originou.
Para finalizar, especificamente quanto a isso, observando mais de perto o comportamento da economia mundial, e reafirmando essa posição, a questão central está na “distribuição e circulação” do produto, sabendo-se que com um PIB mundial de pouco mais de US$ 70 trilhões, para uma população de 7,2 bilhões de indivíduos, a produção global representa hoje R$ 7 mil em bens e serviços para cada família de quatro pessoas. No entanto, a realidade está bem longe disso, lembrando um trecho poético que diz que “enquanto eles capitalizam a realidade, eu procuro socializar meus sonhos”. 
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. prof.marcuseduardo@bol.com.br

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