segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Um veneno para morrer sem sentir

A web invade nossas vidas, nos devora lentamente e ainda não tomamos consciência disso
Por Marco Lacerda*
Os mecanismos de controle da nossa presença digital estão cada vez mais apurados e até mesmo invasivos. Somos rastreados e envolvidos em um beco-sem-saida sem volta. Resta a dúvida: haverá vida além do universo online?

Vivemos atualmente diante de um real enigma: aparelhos digitais que tentam nos decifrar e devorar. A web está nos devorando lentamente e ainda não tomamos consciência disso.

Cada vez mais vamos deixando rastros digitais espalhados pela internet: os sites que frequentamos, músicas que escutamos, o que lemos, vídeos que assistimos, as coisas que compramos, mensagens e diálogos que trocamos e compartilhamos nas redes sociais.

Querendo ou não estamos envolvidos numa espécie de karma digital. Nosso presente e passado recentes podem estar indexados em mecanismos de busca, spyware, cookies, qualquer sinal digital que nos identifique.

Avançados recursos de softwares de análise e pesquisa estendem cada vez mais os seus tentáculos como medusas que tentam solidificar nossos perfis, gostos e hábitos de compra para prever nossos próximos passos.

Para muitas religiões o karma é um registro das nossas decisões e atos. Ele envolve o que receberemos de volta pelo que fizemos, em algum momento de nossa existência.

As grandes empresas da web sabem disso e agora já não querem somente produzir e vender, mas principalmente dominar nossos ambientes digitais, reduzindo a concorrência e aumentando nossa dependência, podendo até restringir nossa liberdade de escolha.

Contra estas empresas que vão querer cada vez mais nos monitorar, controlar e tentar atender a nossos mais variados desejos, temos que usar a nosso favor a estratégia e o poder de sermos únicos e diferenciados.

Em 1968 uma revolução estudantil tomou as ruas de Paris com os dizeres “a imaginação no poder”. Atualmente a web é quem ocupa cada vez mais espaço nas nossas vidas.

Sob controle do Facebook

Quanto mais a gente usa a rede social, mais ela nos usa, mais temos as nossas vidas expostas publicamente e nem sempre podemos controlar tudo o que as pessoas podem ver em nossas páginas de perfil.

O Facebook é divertido, todo mundo sabe. Passamos horas diariamente em contato com amigos, compartilhando fotos ou jogando. Por essa razão é que o Facebook sabe muito sobre a nossa vida, por estar sempre tão presente nela. E aqui é onde surge a questão da privacidade: como controlar o que Facebook sabe (e compartilha) sobre a minha vida pessoal?

Segundo artigo publicado recentemente pelo jornal Daily Mail a empresa de Mark Zuckerberg pode fazer um amplo rastreamento do comportamento de um usuário fora da rede social, incluindo buscas on-line ou os dados que compartilha com uma loja on-line ao fazer uma compra.

O Facebook assegura que estas mudanças ajudarão para que a plataforma ajuste a publicidade de acordo com os interesses de cada usuário. Além disso, assinala que as novas políticas de privacidade foram projetadas para que sejam mais facilmente entendidas.

Entretanto, a maioria dos usuários não está consciente da radical mudança que aceitou, e as novas regras de uso foram condenadas pelos defensores da privacidade, reavivando os temores sobre a transparência do Facebook na hora de fazer uso dos dados pessoais de seus usuários e sua privacidade.

Invasão de privacidade

O Facebook abre o caminho para que qualquer pessoas investigue e controle a vida das pessoas. É o que demonstra o depoimento da dona-de-casa Regina Navarro Lins, publicado no Portal UOL:

“A situação que estou vivendo é bastante delicada, tenho pensado muito sobre ela sem conseguir chegar a uma conclusão. Sou casada há 22 anos com um engenheiro que chamarei de Paulo, que conheci na Universidade e casamos dois anos depois. 

Eu tinha 20 anos e ele 26. Tivemos apenas uma filha, que vai fazer 20 anos agora. O problema é que Paulo controla a vida da menina nos mínimos detalhes, deixando bem claro que deseja que ela se mantenha virgem até o casamento. 

A primeira vez que ele manifestou essa vontade, eu não me contive e ri dele na frente dela. Ele ficou furioso e arrematou que sua mãe e suas tias haviam casado virgens e que isso era um valor. 

Começamos a discutir na frente da menina, e eu argumentei que ele não havia sido meu primeiro homem. Paulo ficou muito vermelho, pensei que fosse enfartar. Desde então temos brigado muito por causa dessa questão. 

Cheguei a pensar em separação, imaginando o mal que essa situação está causando à nossa filha. Por outro lado, ele é um bom pai e marido, embora muito conservador. Devo deixar essa questão com ele ou luto pela liberdade de minha filha?”

Como age um programa espião. Veja o vídeo:
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Domtotal

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