'Desacoroçoado sento na areia da praia, contemplo as ondas do mar, extasio-me com o azul do céu'.
Por Evaldo D´Assumpção*
Machado questionava
Em soneto de “metro adverso”,
O Natal com que sonhava,
Tentando colocá-lo em verso.
Muitas foram as tentativas
Para “poesias completas”,
Mas as musas furtivas
Não lhe lançavam as setas.
Em sua busca, cansado,
Expressou o quanto sofreu,
Neste silencioso brado:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”
Solidário com o incomparável vate, mestre Assis das letras e imortal acadêmico, também eu, poeta bissexto, um tanto casmurro nestes dias aziagos, contemplo as variadas espécies e nuances de lama que rolam caudalosamente e sem barreiras, desde Minas e desde Brasília; vejo o rio Doce se tornando amargo, e o Planalto Central em arena de gladiadores sem honra, impudicos meliantes escorregadios e sorrateiros escapulindo das grades; observo o dragão inflacionário galgando degraus há muito esquecidos, enquanto o desemprego alcança percentuais idênticos ou superiores ao da inflação; confronto os humilhantes salários de médicos, professores, policiais, com os escorchantes subsídios auferidos pelos deputados, senadores, juízes, jogadores de futebol, artistas musicais e televisivos; cubro os meus olhos que contemplam envergonhados os postos de saúde imundos e desguarnecidos, as salas de aula com carteiras quebradas, merenda escolar ausente ou intragável, material didático jogado às traças; acabando por sucumbir ao peso esmagador da corrupção cujo montante sozinho, se recuperado colocaria nosso país na condição de primeiríssimo mundo. E então, também eu pergunto ao ver a data maior do cristianismo sendo deformada, mutilada, humilhada e sugada até a última gota do 13º salário de quem ainda o recebe, pelos que fazem qualquer negócio para vender suas quinquilharias eletrônicas, seus inúteis presentes natalinos: mudou o Natal ou mudei eu?
Desacoroçoado sento na areia da praia, contemplo as ondas do mar, extasio-me com o azul do céu, e nele os pássaros a voar, escuto o silêncio que me cerca, sinto a brisa suave o meu rosto roçagar. E introjetando esta obra divina que o homem não consegue replicar, tampouco destruir, silenciosamente me curvo ao plano de Deus, cujo Filho dará aos também filhos seus, na noite de Natal que está para chegar.
Descubro, na beleza da simplicidade, na singeleza do existir, na importância do desapegar, na entrega do amar, toda a grandeza do plano de Deus que o humano não consegue aquilatar. Descubro a paciência divina, o exemplo da união trinitária, a misericórdia acolhedora que nos reveste, e o quanto tenho de aprender para crescer e depois renascer para o alto, único patamar que na verdade precisamos alcançar.
E descubro mais: não mudou o Natal, nem mudei eu. Mudou e distorceu apenas a minha percepção da mensagem imensa e profunda que nos vem da criança singela que nasce e renasce, continuamente, na rústica manjedoura de Belém!
E novamente acredito que os rios poluídos e a natureza conspurcada e violentada pela perversidade, ganância e ignorância dos homens, um dia também pelos homens, conversos e de boa vontade, será tudo renovado, e o sonho do Deus-menino tornar-se-á realidade, em toda a sua plenitude!
Machado questionava
Em soneto de “metro adverso”,
O Natal com que sonhava,
Tentando colocá-lo em verso.
Muitas foram as tentativas
Para “poesias completas”,
Mas as musas furtivas
Não lhe lançavam as setas.
Em sua busca, cansado,
Expressou o quanto sofreu,
Neste silencioso brado:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”
Solidário com o incomparável vate, mestre Assis das letras e imortal acadêmico, também eu, poeta bissexto, um tanto casmurro nestes dias aziagos, contemplo as variadas espécies e nuances de lama que rolam caudalosamente e sem barreiras, desde Minas e desde Brasília; vejo o rio Doce se tornando amargo, e o Planalto Central em arena de gladiadores sem honra, impudicos meliantes escorregadios e sorrateiros escapulindo das grades; observo o dragão inflacionário galgando degraus há muito esquecidos, enquanto o desemprego alcança percentuais idênticos ou superiores ao da inflação; confronto os humilhantes salários de médicos, professores, policiais, com os escorchantes subsídios auferidos pelos deputados, senadores, juízes, jogadores de futebol, artistas musicais e televisivos; cubro os meus olhos que contemplam envergonhados os postos de saúde imundos e desguarnecidos, as salas de aula com carteiras quebradas, merenda escolar ausente ou intragável, material didático jogado às traças; acabando por sucumbir ao peso esmagador da corrupção cujo montante sozinho, se recuperado colocaria nosso país na condição de primeiríssimo mundo. E então, também eu pergunto ao ver a data maior do cristianismo sendo deformada, mutilada, humilhada e sugada até a última gota do 13º salário de quem ainda o recebe, pelos que fazem qualquer negócio para vender suas quinquilharias eletrônicas, seus inúteis presentes natalinos: mudou o Natal ou mudei eu?
Desacoroçoado sento na areia da praia, contemplo as ondas do mar, extasio-me com o azul do céu, e nele os pássaros a voar, escuto o silêncio que me cerca, sinto a brisa suave o meu rosto roçagar. E introjetando esta obra divina que o homem não consegue replicar, tampouco destruir, silenciosamente me curvo ao plano de Deus, cujo Filho dará aos também filhos seus, na noite de Natal que está para chegar.
Descubro, na beleza da simplicidade, na singeleza do existir, na importância do desapegar, na entrega do amar, toda a grandeza do plano de Deus que o humano não consegue aquilatar. Descubro a paciência divina, o exemplo da união trinitária, a misericórdia acolhedora que nos reveste, e o quanto tenho de aprender para crescer e depois renascer para o alto, único patamar que na verdade precisamos alcançar.
E descubro mais: não mudou o Natal, nem mudei eu. Mudou e distorceu apenas a minha percepção da mensagem imensa e profunda que nos vem da criança singela que nasce e renasce, continuamente, na rústica manjedoura de Belém!
E novamente acredito que os rios poluídos e a natureza conspurcada e violentada pela perversidade, ganância e ignorância dos homens, um dia também pelos homens, conversos e de boa vontade, será tudo renovado, e o sonho do Deus-menino tornar-se-á realidade, em toda a sua plenitude!
*Evaldo D'Assumpção é médico e escritor.
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