Em meio aos horrores do cotidiano, uma voz solitária ecoa como acalanto.
Por Marco Lacerda*
Dia desses o muro branco na frente da minha casa amanheceu pichado com uma frase vistosa: “Flávio, pode me dar um beijo, se você quiser!”. Estava escrito com tinta das boas, dessas usadas pelos grafiteiros na guerra anárquica das paredes públicas. Podia-se notar o pulso trêmulo da autora, agindo às pressas no sigilo da madrugada, enquanto parceiros vigiavam as esquinas iluminados apenas pela lua – não o astro, aquela outra lua à qual só têm acesso os poetas e os cantores de bolero. Era enorme o letreiro, escrito com a alma e cheio de uma tristeza recôndita, para que Flávio o visse quando passasse, por mais indiferente que fosse.
Notei a frase no momento em que lia os jornais da manhã, dever de ofício que hoje em dia tornou-se algo parecido com tomar um vidro de óleo de fígado de bacalhau em jejum. 2016 começa pior do que todos imaginavam. O mundo piorou, a China parou, o preço do petróleo despencou e um imbecil pode sair vitorioso nas próximas eleições americanas. No Brasil, desemprego e inflação em alta, a operação Lava Jato ameaçando condenar um réu a 2 mil anos de prisão e o zika vírus aterrorizando não só as brasileiras, mas mulheres do mundo inteiro.
No comando do nosso pesadelo particular, uma presidente que parece vítima de uma cirrose mental, que ninguém sabe o que pensa (se é que pensa) ou se é apenas um robô mal programado que confunde e troca as mensagens que leva gravadas dentro.
Deixo de lado o breu que embrulha o noticiário dos jornais e olho para o muro na frente da minha casa. A frase pichada na parede branca ganha um novo sentido. Sinto-me invadido por um sopro de ternura e paz ao perceber que ali mesmo, na vizinhança, existe alguém que, alheia aos horrores do cotidiano, tudo que quer da vida é apenas que Flávio lhe dê um beijo.
Um beijo é apenas um beijo (As Time Goes By). Veja o vídeo.
Dia desses o muro branco na frente da minha casa amanheceu pichado com uma frase vistosa: “Flávio, pode me dar um beijo, se você quiser!”. Estava escrito com tinta das boas, dessas usadas pelos grafiteiros na guerra anárquica das paredes públicas. Podia-se notar o pulso trêmulo da autora, agindo às pressas no sigilo da madrugada, enquanto parceiros vigiavam as esquinas iluminados apenas pela lua – não o astro, aquela outra lua à qual só têm acesso os poetas e os cantores de bolero. Era enorme o letreiro, escrito com a alma e cheio de uma tristeza recôndita, para que Flávio o visse quando passasse, por mais indiferente que fosse.
Notei a frase no momento em que lia os jornais da manhã, dever de ofício que hoje em dia tornou-se algo parecido com tomar um vidro de óleo de fígado de bacalhau em jejum. 2016 começa pior do que todos imaginavam. O mundo piorou, a China parou, o preço do petróleo despencou e um imbecil pode sair vitorioso nas próximas eleições americanas. No Brasil, desemprego e inflação em alta, a operação Lava Jato ameaçando condenar um réu a 2 mil anos de prisão e o zika vírus aterrorizando não só as brasileiras, mas mulheres do mundo inteiro.
No comando do nosso pesadelo particular, uma presidente que parece vítima de uma cirrose mental, que ninguém sabe o que pensa (se é que pensa) ou se é apenas um robô mal programado que confunde e troca as mensagens que leva gravadas dentro.
Deixo de lado o breu que embrulha o noticiário dos jornais e olho para o muro na frente da minha casa. A frase pichada na parede branca ganha um novo sentido. Sinto-me invadido por um sopro de ternura e paz ao perceber que ali mesmo, na vizinhança, existe alguém que, alheia aos horrores do cotidiano, tudo que quer da vida é apenas que Flávio lhe dê um beijo.
Um beijo é apenas um beijo (As Time Goes By). Veja o vídeo.
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Dom Total.
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