sábado, 30 de janeiro de 2016

'Trumbo' retrata paranoia anticomunista

Filme apoia-se no roteiro escrito por McNamara, a partir da biografia Trumbo, de Bruce Cook.
Por Neusa Barbosa
Mais conhecido nome entre os 'Dez de Hollywood', os dez roteiristas banidos pela caça às bruxas anticomunista dos anos 1940 e 1950 nos Estados Unidos, Dalton Trumbo ganha uma cinebiografia à sua altura em 'Trumbo: Lista Negra'.
Famoso pela série Breaking Bad, o veterano ator Bryan Cranston cravou sua primeira indicação ao Oscar por sua interpretação do roteirista no período mais duro de sua vida, a partir de 1947.
Nessa época, ele despenca do paraíso de uma vida confortável, ancorada em seus roteiros ultra bem-pagos, para a prisão, por desacato à Comissão de Atividades Antiamericanas. E depois, sofre com a penúria financeira.
Dirigido com surpreendente sobriedade pelo produtor e habitual diretor de comédias Jay Roach ('Os Candidatos'), o filme apoia-se no roteiro escrito por John McNamara, a partir da biografia Trumbo, de Bruce Cook.
Filiado ao Partido Comunista desde 1943, Trumbo concilia sem maiores problemas suas convicções políticas com seu trabalho como roteirista, autor do script de filmes como 'Dois contra o Mundo', com Lana Turner, e 'Kitty Foyle', com Ginger Rogers, ambos de 1940, e 'O Roseiral da Vida' (1945), com Edward G. Robinson (este um ator com simpatias esquerdistas, vivido no filme por Michael Stuhlbarg).
No final dos anos 1940, no entanto, a maré anticomunista consolida-se no Comitê, identificando comunistas como espiões e traidores, que estariam contaminando, inclusive, os filmes de Hollywood com uma ideologia potencialmente destruidora da nação - posição essa endossada por atores como John Wayne (David James Elliott) e a colunista de fofocas Hedda Hopper (Helen Mirren).
Poderosa como poucos, autora de uma coluna vendida a várias publicações em todos os Estados Unidos, além de aparições no cinema e TV, Hedda tornou-se não só a porta-voz da paranoia antiesquerdista como uma das mais notórias denunciadoras de nomes - entre os quais, o próprio Trumbo, que não demora a ser chamado a depor no Comitê.
Por negar-se a "colaborar", ou seja, a entregar outros comunistas, Trumbo acaba indiciado por desacato e mandado à prisão, por um ano, em 1950.
Jogado ao ostracismo, assim como os outros roteiristas banidos de Hollywood por decisão própria de produtores e donos de estúdio - que, covardemente, cederam às pressões do Comitê -, Trumbo passa a trabalhar clandestinamente. Escreve roteiros que amigos ainda fora da lista negra, como Ian McLelland Hunter (Alan Turdyk), assumem para ajudá-lo - caso do script de 'A Princesa e o Plebeu', que ganharia o Oscar de roteiro em 1954 mas só vários anos depois seria creditado em seu nome.
No entanto, para continuar a sustentar sua mulher (Diane Lane) e três filhos, Trumbo teria que se rebaixar a ganhar pouquíssimo, por roteiros para filmes de segunda linha, que escrevia às dúzias para produtores como Frank King (John Goodman).
Logo, o solidário Trumbo teria condições de terceirizar esta brecha para roteiristas perseguidos, formando uma força-tarefa clandestina, capaz de atender ao apetite dos popularescos estúdios King e ajudar os colegas a sobreviver.
O enredo acompanha Trumbo até 1960, que marca seu encontro com o ator Kirk Douglas (Dean O'Gorman) e o diretor Otto Preminger (Christian Berkel) - os dois que finalmente romperiam o bloqueio, nomeando o roteirista nos créditos dos filmes 'Spartacus' e 'Exodus'.
Era o princípio do fim da lista negra, mas não da paranoia nem da caça às bruxas na América que, a partir do 11 de Setembro de 2001, assumiu uma nova forma.
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Reuters

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