sábado, 27 de fevereiro de 2016

‘A Agência Fides é a voz dos que não tem voz’

Entrevista com o diretor da agência internacional missionária, Vito del Prete
VitoPrete
(Foto: OMP)
A agência Fides existe desde 1926 informando sobre o mundo das missões. Conta com a maior rede de correspondentes do mundo: aí onde existe uma paróquia, tem uma fonte de informação. Com um forte impulso pelas periferias, a agência acaba de sair de uma reestruturação interna, e estreia a sua nova web. O seu diretor, Vito del Prete participou nas sessões de formação para empregados e voluntários que Pontifícias Obras Missionárias (POM) organiza anualmente e que reuniu mais de 110 pessoas de 37 dioceses espanholas. O encontro ocorreu no El Escorial (Madrid) nos dias 25 e 26 de Fevereiro, e a questão que foi abordada foi a Pontifícia União Missionária (PUM). Publicamos abaixo a entrevista com o diretor da agência Fides que difundiu Obras Missionárias Pontifícias.
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 Você afirmou na sua conferência inaugural das Jornadas que a missão da Igreja é algo proclamado por todos, mas que não existe um envolvimento real. Como é isso?
– Vito del Prete: A missão ad gentes, entendida como a missão que se realiza com os não-cristãos, é celebrada, mas não existe um envolvimento de toda a Igreja. Esta mesma realidade acontecia no século XX: a evangelização, ainda sendo algo essencial da Igreja, se deixava a alguns poucos loucos, não se entendia como um problema de toda a Igreja. Paulo Manna, um missionário na Birmânia, depois de ver a necessidade da Evangelização na missão, dirigiu-se aos bispos de então, para recordar-lhes que são eles que têm o mandato de Cristo de ir e anunciar a todas as pessoas. Naquela época, já existiam três das quatro Obras Missionárias Pontifícias, mas somente serviam para ganhar dinheiro.Este missionário, hoje beato, fundou a Pontifícia União Missinária (PUM), a quarta e última obra da instituição, que constitui a alma das outras, e que procura implicar os bispos, sacerdotes, religiosos – e por portanto, todo o povo de Deus na paixão pela evangelização. A Pontifícia União Missionária transforma-se, assim, no espírito crítico da Igreja, que lembra ao clero e aos leigos que a missão não é algo opcional, mas essencial na Igreja.
A Pontifícia União Missionária depende da Congregação para a Evangelização dos Povos. Que iniciativas estão em curso a nível internacional para realizar a sua missão? E localmente?
– Vito del Prete: Por um lado, nós oferecemos treinamento. O CIAM (Centro Internacional de Animação Missionária), localizado em Roma, foi confiada à PUM. Lá organizamos cursos para bispos, reitores de seminários, delegados diocesanos de missões, etc. Porque sem formação missionária não se consegue nada. Internacionalmente temos também oferecido a revista Omnis Terra, muito querida pelos bispos de toda a Igreja, assim me dizem. E, claro, a agência FIDES, da qual sou o diretor.
 Quanto às Igrejas locais, os Diretores Nacionais de OMP se preocupam com a formação dos servidores da missão. Sem esse treinamento, há o perigo de que as OMP se tornem mera estratégia para ganhar fundos e distribuí-los, como se a evangelização fosse uma ONG. E não é nada disso!
A partir do PUM buscamos a Missão está presente em todos os momentos formativos da diocese. Por exemplo, nos seminários. Seria muito interessante que, pelo menos uma vez por ano tem um retiro para discutir a missão, algo indispensável no seu trabalho pastoral futuro. Seria ótimo ter pessoas que podem ser percorridos dioceses, falando com grupos de igreja, e educar todo o Povo de Deus para a necessidade de evangelização.
Certamente outro pólo importante da ação é a informação. Quanto mais conhecemos, mais não podemos envolver.
E para informar sobre o que acontece nos Territórios de Missão está a agência Fides, não é?
– Vito del Prete: Isso é certo. Quando eu assumi a direção da agência há cinco anos, era praticamente uma revista que tratava de todos os temas, especialmente do que acontecia no Vaticano, e não era utilizada por quase ninguém. Eu rapidamente compreendi que a agência Fides tinha que ser um órgão a serviço das missões e de todo o mundo. Não a serviço do Vaticano! Por isso, fizemos uma virada na linha editorial: tinhamos que lidar com as regiões “quentes” do mundo, lá onde a dignidade da pessoa e os direitos humanos eram violados constantemente no silêncio do resto dos meios. Só queremos mostrar o que é que a Igreja e as pessoas estão vivendo nessas regiões. Nâo fazemos sociologia, nem política; só contamos fatos.
Nossos “correspondentes” estão no campo, onde as coisas acontecem: são as igrejas locais, os bipos, os sacerdotes, as pessoas das paróquias. Estão em todos os lugares, e são os que conhecem a fundo o que está acontecendo lá onde eles moram. De fato, chegamos onde outros meios não chegam. As notícias sempre se verificam, e temos prudência para não colocar em perigo nossas fontes ao publicar o que nos contam. Todas as notícias potencialmente perigosas passam pelo meu escritório antes de serem publicadas. A agência Fides é voz dos que não têm voz, daqueles que não encontram espaço nos interesses dos demais meios de comunicação. Falamos das periferias do mundo, dos ângulos mais obscuros, de onde ninguém tem notícias.
E esta mudança, teve seus frutos?
– Vito del Prete: Sim. Depois de anos de trabalho, nos transformamos em uma autoridade neste campo de informação. Até a BBC nos citou, e me convidou a visitar as suas instalações. A agência descobriu o caso de Asia Bibi, aquela mulher condenada por blasfêmia no Paquistão por ser católica, que teve um longo eco internacional. Na atualidade trabalhamos em oito línguas: espanhol, francês, italiano, inglês, alemão, português, chinês e árabe. Além do mais fizemos uma reformulação do nosso site, o que torna mais acessível e atrativa as notícias. E tudo com pouquíssimos gastos  porque nós mesmos trabalhamos.
Atualmente, qual é o foco de informação mais importante da agência?
– Vito del Prete: Certamente a Igreja perseguida é uma prioridade em nossa redação. Existem milhares de pessoas que estão sendo perseguidas pela sua fé e não aparecem nos meios de comunicação. As informações sobre a Síria desses meios é incompleta. Os mesmo acontece com o Paquistão, Bangladesh, etc. Os meios de comunicação têm interesses e, portanto, as suas notícias são interesseiras. Nós somos uma agência alternativa. Há alguns meses atrás nós reunimos em Tirana com 140 representantes de todas as confissões cristãs para falar sobre este tema. Muitos deles nos felicitaram pelo trabalho da agência.
Por outro lado, antes do Domund publicamos um dossiê estatístico sobre os Territórios de Missão, e uma lista dos missionários assassinados, que vamos apontando ao longo de todo o ano.

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