Os mais informados sabem que estas prisões não são decretadas levianamente.
Por Max Velati*
Há uma semana fui entrevistado em um programa de televisão e a jornalista perguntou se eu pertencia a algum partido político. Depois de ter analisado as charges que publico na Folha de S. Paulo e as críticas que faço aqui nesta coluna, ela com toda razão quis saber se eu era PSDB, já que o Governo do PT tem sido o meu alvo preferencial.
Não pertenço a nenhum partido e se o PSDB estivesse no Governo ou mesmo atuante como oposição, eu gastaria com o mesmo empenho o meu nanquim e os bits do meu editor de texto. A verdade é que o PSDB hoje não passa de um elefante atolado na lama e o PT fornece matéria-prima em quantidades industriais para quem se dispõe a fazer charges ou críticas ao Poder. Com tristeza sou obrigado a admitir que nunca antes na história deste país o Planalto foi tão desconcertantemente rico em desvios e trapaças.
A Operação Lava Jato, que hoje é quase um quadro do Fantástico, oferece a cada semana as emoções de um terrível “reality show”, com tramas e personagens infinitamente mais interessantes do que os pelados, desbocados e desmiolados participantes do BBB. Nesta semana, o capítulo Acarajé foi para os fortes, com a chegada de João Santana e esposa, direto do desembarque internacional para as dependências da Polícia Federal. Esperando sobre a mesa dos investigadores está uma pilha de perguntas que o especialista em marketing João Santana e sua esposa terão que responder.
Os mais informados sabem que estas prisões não são decretadas levianamente. Há uma série de exigências legais e ritos processuais a serem cumpridos antes que o japonês seja despachado em uma nova missão. Tanto é verdade que em 90% dos casos a condenação é certa. Este alto índice se dá pelas provas já em poder das autoridades, evidências que já definiram em certa medida o destino legal do sujeito em questão antes mesmo que ele ou os seus advogados abram a boca. Sobre isso, é importante observar o sagrado direito do acusado de espernear com vontade, de se declarar inocente, de se dizer vítima de armação e, no caso recente de João Santana, argumentar que foi tudo um mal-entendido.
Os promotores do caso já disseram que sobre o marqueteiro João Santana as provas são robustas, talvez mais do que em qualquer outra prisão da Lava Jato. O publicitário se descuidou do seu marketing pessoal e acabou citado em bilhetes da Odebrecht em circunstâncias que não podem ser esclarecidas pelas justificativas apresentadas até aqui. Sobre isso, vale abrir um parágrafo para registrar o que foi dito pelo presidente do PT comentando a prisão recente do publicitário do Partido dos Trabalhadores.
Diante da grave notícia da prisão de uma peça importantíssima do jogo político atual, Rui Falcão, Presidente do PT, declarou que “quem acusa tem que provar”. Também declarou que o PT “não tem marqueteiros”, mas sim publicitários contratados para elaborar programas do Partido.
O publicitário João Santana terá que explicar por que era pago pela construtora Odebrecht, segundo alguns bilhetes encontrados e onde era chamado de “Feira” (Feira de Santana). Também terá que explicar por que recebeu pagamentos dos desvios da Petrobras, por que seu patrimônio cresceu em progressão geométrica e qual era o seu papel em todo o esquema apurado até aqui envolvendo as campanhas do PT. Nos termos de Rui Falcão, João Santana tem que explicar qual é realmente o programa do Partido.
O que mais me assusta é o dia seguinte.
Se tudo isso conduzir de fato ao colapso do PT e ao impedimento da presidente, estaremos nas mãos do vice-presidente? O Eduardo Cunha é mesmo o terceiro na linha de sucessão? A alternativa é oferecer o poder a um elefante atolado?
É a linha reta e vazia do horizonte que me tira o sono.
*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é professor de esgrima e chargista de Economia da Folha de S. Paulo. Publica no Dom Total toda sexta feira.
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