Sidney, 29 Fev (Inforpress) - O cardeal australiano George Pell, responsável pela Secretaria de Economia do Vaticano, admitiu hoje os "enormes erros" da Igreja na forma como lidou com denúncias de pedofilia na Austrália.
"A Igreja, em muitos locais, e certamente na Austrália, estragou as coisas e decepcionou muita gente", disse Pell, que falava, por videoconferência, a partir de Roma, para uma comissão australiana que investiga casos de pedofilia no país entre as décadas de 1960 e 1980, envolvendo a Igreja e instituições de protecção e cuidado de menores.
O cardeal nasceu em Ballarat, onde trabalhou, como religioso, entre 1973 e 1983, tendo depois ido para Melbourne. As denúncias de pedofilia que a comissão analisa referem-se a casos ocorridos nestas cidades.
"Não estou aqui para defender o indefensável", afirmou Pell, admitindo que existia uma tendência generalizada para não dar crédito às denúncias dos menores numa época em que se procurava "proteger a instituição da vergonha".
O cardeal afirmou não ter os números relativos às denúncias de abusos sexuais de menores relativos a membros da Igreja Católica de Ballarat, onde pelo menos 14 religiosos foram acusados em dezenas de casos de pedofilia desde os anos de 1960.
Pell admitiu que muitas dessas denúncias foram descartadas apenas com base no desmentido dos acusados.
"Devo dizer que, naquela altura, se um padre negava este tipo de actividades, eu inclinava-me fortemente a aceitar a sua negação", afirmou, ao referir-se aos rumores sobre John Day, monsenhor acusado em 1971 e 1972 de abusos de crianças, quando era padre.
Por outro lado, Pell negou ter conhecimento de que o antigo bispo de Ballarat Ronald Mulkearns enviava para o estrangeiro os padres que tinham cometido abusos para os submeter a tratamentos psicológicos.
O cardeal viveu na década de 1970 num seminário com o sacerdote pedófilo Gerald Ridscale, que abusou de dezenas de menores quando era capelão num colégio de Ballarat, entre as décadas de 1960 e 1980.
Uma das vítimas do sacerdote foi o seu próprio sobrinho, David Ridscale, que assegura que quando pediu a Pell para o receber, em 1993, para lhe contar os abusos do tio, o agora cardeal tentou silenciá-lo.
Pell reconheceu hoje que a transferência de Gerald Ridscale de paróquia em paróquia foi "uma catástrofe", tanto para as vítimas como para a Igreja.
Familiares das vítimas pediram no domingo, em Roma, ao cardeal Pell, ao papa e à Igreja Católica "acções reais" que evitem que se repitam casos similares.
Não há denúncias de pedofilia em relação a Pell, que não viajou até à Austrália para prestar declarações presencialmente por motivos de saúde.
A comissão foi criada em 2012 para investigar denúncias de pedofilia na Austrália e já ouviu relatos de abusos de crianças envolvendo lugares de culto, orfanatos, grupos comunitários e escolas.
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